Já passaram dois anos desde que os quatro irmãos-milagre foram resgatados com vida da Amazónia colombiana, mas a sua história continua a ser notícia. As crianças, que na altura tinham 13, 9, 4 e 1 anos, passaram 40 dias na selva sozinhos depois de sobreviver à queda da avioneta onde seguiam. A mãe, que tinha a guarda dos quatro, morreu no acidente tal como um amigo e o piloto do aparelho e foi a partir da disputa da custódia das crianças que o pior se descobriu: Manuel Ranoque, o pai das duas crianças mais novas e padrasto das outras duas, abusava sexualmente de Lesly, a mais velha de todos.
Em agosto de 2023, as autoridades colombianas acusaram Ranoque de abuso sexual da enteada, descobrindo que os abusos terão começado quando a criança tinha apenas dez anos. No início desta semana, a justiça colombiana condenou o homem a uma pena de 32 anos de prisão, noticiou o El País.
Em maio e junho de 2023, durante cinco semanas de buscas intensivas — com a Colômbia em suspenso por não se saber se os meninos estavam vivos ou não — o pai e padrasto das crianças demonstrou grande preocupação e referiu-se a todos os menores como seus, mesmo sendo apenas o pai biológico dos mais novos.
Desnutridas e enroladas em cobertores térmicos. Como foram encontrados os irmãos-milagre da Colômbia
Tudo mudou de forma radical após o resgate. Poucos dias depois, já na Colômbia, o Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF) decidiu removê-lo da lista de visitas, não permitindo que ele visse as crianças no Hospital Militar de Bogotá, onde eram tratadas por terem sido encontradas com sinais de subnutrição e exposição aos fatores naturais. Foi o Estado a assumir a custódia temporária enquanto eram esclarecidas as acusações contra o homem.
Os avós maternos, Narciso Mucutuy e María Fátima Valencia, alegaram que Ranoque não só batia na sua filha, a mãe das crianças, como também era violento com todas as crianças e, pior do que tudo isto, abusava sexualmente de Lesly, a irmã mais velha — que foi também quem conseguiu garantir que os irmãos, pertencentes à comunidade indígena de Uitoto, sobreviviam na selva, recolhendo frutos e água potável para todos.
Estes avós maternos lutaram pela guarda dos netos, mas foram descartados pelos serviços sociais colombianos devido à sua idade avançada. Também o pai das duas meninas mais velhas entrou na luta judicial para ficar com a guarda das quatro crianças. Concluiu-se que não estava apto e, de acordo com o El Mundo, os meninos foram entregues à tia materna, Elda Mucutuy Valencia, dona de casa e mãe de quatro filhos.
Segundo fontes próximas ao caso, ouvidas pelo El Mundo, em reportagem em Bogotá, a única pessoa a garantir o sustento do local onde vivem agora oito crianças é o marido de Elda, que não ganha o suficiente para conseguir responder às necessidades básicas de todos eles. Mesmo assim, esta foi considerada a colocação familiar mais adequada para os irmãos, que se mantém juntos.
A disputa entre o lado materno e paterno (das duas meninas mais velhas) foi acesa durante meses a fio, com acusações de que, antes de morrer, a mãe “praticamente sequestrou as meninas”, sem que ao pai das duas crianças mais velhas fosse permitido o contacto com as filhas biológicas.