O acúmulo de colesterol e outras substâncias na parede das artérias, quadro conhecido como aterosclerose, é comum. Ele pode levar à formação de placas severas que estreitam as artérias e limitam o fluxo sanguíneo ou provocar uma fissura na parede arterial, que pode desencadear a formação de coágulos sanguíneos, resultando em infarto.
Embora tenhamos visto avanços significativos no tratamento de doenças cardíacas, elas continuam sendo a principal causa de morte nos Estados Unidos — mesmo com cerca de 80% dos casos considerados evitáveis. (Os problemas cardiovasculares também são a principal causa de morte no Brasil)
Existem medidas com base científica que você pode adotar para prevenir a condição. Como cardiologista, aqui está o que recomendo aos meus pacientes.
Grande parte dos casos de doenças cardíacas pode ser prevenida Foto: chathuporn/Adobe Stock
1. Pratique exercícios aeróbicos e de resistência
Esta é considerada a intervenção médica mais eficaz para proteger contra a aterosclerose e promover um envelhecimento saudável. A atividade física reduz a inflamação no corpo. Evidências mostram que tanto o exercício aeróbico quanto o de força são importantes. No entanto, apenas 1 em cada 4 americanos cumpre as duas diretrizes da Associação Americana do Coração: 150 minutos por semana de atividade aeróbica moderada, como caminhar, pedalar em terreno plano, dançar ou jardinagem, e exercícios de força em pelo menos duas sessões semanais, totalizando cerca de 60 minutos.
O benefício protetor do exercício é observado mesmo com níveis relativamente baixos de atividade, como cerca de 2.500 passos por dia (em atividade contínua, não intermitente), e geralmente aumenta proporcionalmente com mais movimento.
Antigamente acreditava-se que quem se exercitava apenas nos fins de semana — os chamados “guerreiros de fim de semana” — corria risco, mas dados recentes mostram que os treinos concentrados nos fins de semana também são benéficos.
2. Siga uma dieta anti-inflamatória
Uma dieta predominantemente à base de vegetais — rica em fibras, verduras, legumes, frutas e grãos integrais, como a dieta mediterrânea — tem ampla evidência, de estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados, de que reduz a inflamação sistêmica e melhora os desfechos cardiovasculares.
Alimentos ricos em ácidos graxos ômega-3, como o salmão, também compõem uma dieta que combate a inflamação. Por outro lado, carnes vermelhas e alimentos ultraprocessados são pró-inflamatórios e devem ser consumidos com moderação. Uma ingestão alta de proteínas — mais de 1,4 gramas por quilo de peso corporal por dia (cerca de 95 gramas para alguém com 68 kg) — também foi associada ao aumento da inflamação e à aterosclerose em modelos experimentais, especialmente em relação a proteínas de origem animal e ao papel da leucina, um aminoácido essencial obtido apenas pela alimentação.
3. Mantenha um peso saudável
Estar acima do peso ou obeso indica excesso de tecido adiposo branco. Esse tipo de tecido pode aumentar o risco de doenças cardíacas porque armazena células de gordura (adipócitos), que liberam substâncias inflamatórias.
Estudos mostram que medicamentos da classe GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) podem reduzir a inflamação com a perda de peso, além de diminuir significativamente o risco de infarto e AVC em pacientes de alto risco tratados para obesidade. Ter um peso corporal mais magro também ajuda a proteger contra a fibrilação atrial, a anormalidade de ritmo cardíaco mais comum.
4. Entenda e evite a síndrome metabólica e o pré-diabetes
A obesidade está frequentemente ligada à resistência à insulina e à síndrome metabólica. Dois em cada três indivíduos com obesidade têm essa síndrome, definida pela presença de três dos cinco fatores: glicose em jejum elevada, triglicérides altos em jejum, pressão arterial elevada, colesterol HDL baixo e gordura abdominal central (circunferência da cintura superior a 102 cm em homens ou 88 cm em mulheres).
A síndrome metabólica também está presente em grande parte das pessoas sem obesidade — cerca de 50 milhões de americanos. O pré-diabetes frequentemente se sobrepõe a ela. É definido por uma hemoglobina A1c entre 5,7% e 6,4% ou glicose em jejum entre 100 e 125 mg/dL.
Tanto a síndrome metabólica quanto o pré-diabetes aumentam o risco de doenças cardíacas e podem ser prevenidos — e revertidos — com perda de peso, exercícios e uma alimentação adequada.
Com a chegada dos medicamentos GLP-1 em forma de comprimido e a redução de custos no futuro, esses remédios poderão ajudar a diminuir o risco em pessoas com síndrome metabólica e pré-diabetes. Para quem tem diabetes tipo 2, o foco deve estar no controle ideal da glicose e na adoção rigorosa de hábitos saudáveis.
5. Mantenha a pressão arterial em níveis saudáveis
A hipertensão é um fator de risco importante e extremamente comum com o envelhecimento. A pressão ideal é 120/80 mmHg ou menos. No entanto, com a idade, há frequentemente uma elevação da pressão sistólica para cerca de 130 mmHg, relacionada ao enrijecimento das artérias. Ainda que comum, esse nível já é considerado elevado.
O ideal é que todos monitorem a pressão arterial em casa para detectar a hipertensão precocemente. Alterações leves geralmente melhoram com mudanças no estilo de vida, mas elevações mais significativas podem exigir medicação.
Manter a pressão arterial sob controle é uma das medidas básicas para evitar doenças cardíacas Foto: Viktor KoldunovAdobe Stock
6. Descubra seu risco genético
Hoje, é possível estimar o risco genético de doença arterial coronariana por meio de um escore de risco poligênico, obtido a partir de um chip genético. O termo “poligênico” refere-se a centenas de variantes de DNA associadas ao risco de doenças cardíacas. Isso é diferente do histórico familiar, pois somos resultado da combinação dos genomas de mãe e pai, e a maneira como essas variantes se combinam pode ser muito diferente entre os membros da mesma família.
Isso significa que seu risco genético pode ser maior ou menor do que o padrão familiar. Pessoas com escore poligênico elevado são as que mais se beneficiam de medicamentos para redução de colesterol, como as estatinas. O escore pode ser obtido por meio de empresas comerciais, embora geralmente não seja coberto por planos de saúde.
Não recomendo fazer uma pontuação de cálcio coronariano via tomografia (TC). Esse exame é usado em excesso e frequentemente provoca ansiedade desnecessária em pacientes com pontuação alta, mas sem sintomas reais ou risco clínico. Se houver sintomas sugestivos de doença arterial coronariana, como desconforto no peito ao se exercitar, então uma angiotomografia pode ser útil para mapear as artérias coronárias — e é muito mais informativa que a pontuação de cálcio.
7. Verifique seus lipídios sanguíneos
A principal anormalidade lipídica que exige atenção é o colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade), que costuma estar alto e, em pessoas com risco aumentado, deve ser tratado. Melhorias no estilo de vida ajudam, mas elevações significativas geralmente exigem medicamentos como estatinas, ezetimiba, ácido bempedoico ou injetáveis como evolocumabe, alirocumabe ou inclisirana. Quanto maior o risco, mais agressivo deve ser o controle do LDL.
Vale observar que estatinas potentes, como rosuvastatina e atorvastatina, especialmente em doses altas, podem provocar intolerância à glicose e risco de diabetes tipo 2. Embora esse não seja um efeito colateral comum, ele frequentemente passa despercebido por falta de conhecimento.
O colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) baixo costuma melhorar com perda de peso e exercícios. Antigamente, achava-se que HDL alto era sempre um bom sinal, mas evidências recentes sugerem que níveis muito altos podem, na verdade, indicar risco aumentado.
Para uma avaliação completa dos lipídios, é importante fazer pelo menos uma vez o exame de apolipoproteína B (apoB), já que cerca de 20% das pessoas têm LDL normal e apoB elevada.
Assim como o HDL baixo, triglicérides elevados em jejum podem indicar resistência à insulina, como parte da síndrome metabólica, e geralmente respondem bem a mudanças no estilo de vida.
A lipoproteína(a), conhecida como Lp(a), também deve ser medida ao menos uma vez, pois quando elevada, indica risco aumentado. A boa notícia é que há cinco medicamentos em estágios finais de testes clínicos para reduzir a Lp(a).
8. Reduza a exposição a poluentes ambientais
Nos últimos anos, aprendemos muito sobre os efeitos pró-inflamatórios significativos da poluição do ar, dos microplásticos e das chamadas “substâncias eternas” (forever chemicals), todos associados a maior risco de doenças cardíacas.
Em um estudo, microplásticos ou nanoplásticos foram encontrados na parede arterial de cerca de 60% de mais de 300 pessoas. Pesquisadores identificaram uma resposta inflamatória intensa ao redor dos plásticos e um risco quatro a cinco vezes maior de infarto ou AVC ao longo de três anos de acompanhamento.
Embora sejam necessárias mudanças de política pública para enfrentar essas substâncias tóxicas no meio ambiente, é possível reduzir o risco individual prestando atenção à qualidade do ar e da água (com uso de filtros e purificadores), evitando garrafas plásticas e embalagens plásticas em geral, e adotando uma postura mais consciente e crítica sobre o uso de plástico.
9. Não fume
Nesta altura, já é de amplo conhecimento que o cigarro é um fator de risco potente para doença arterial coronariana — e deve ser completamente evitado.
10. Tenha um sono de qualidade
Embora associemos o sono principalmente à função cerebral e cognitiva, há evidências de que a regularidade e a qualidade do sono também estão associadas a menor risco de doenças cardíacas. Regularidade significa manter horários consistentes sempre que possível — algo que respeita o ritmo circadiano do corpo. Já a qualidade do sono (com menos interrupções e mais sono profundo) pode ser monitorada por meio de relógios inteligentes, pulseiras fitness, anéis ou sensores em colchões.
A apneia do sono, condição em que a respiração para e volta várias vezes durante o sono, é relativamente comum e frequentemente subdiagnosticada. Se você tem dificuldade para dormir ou ronca alto, converse com seu médico sobre a possibilidade. O diagnóstico pode envolver a medição da saturação de oxigênio ao longo da noite, feita em um laboratório do sono ou em casa, com anéis ou dispositivos que monitorem oxigênio e movimentos corporais que detectam alterações respiratórias.
*Eric Topol é cardiologista, professor e vice-presidente executivo da Scripps Research, em San Diego. É autor de Super Agers: An Evidence-Based Approach to Longevity [Superidosos: Uma abordagem baseada em evidências para a longevidade, em tradução livre] e escreve a newsletter Ground Truths, no Substack.
Este texto foi originalmente publicado no The Washington Post. Ele foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.