Desde o início da sua campanha presidencial, Donald Trump fez do combate à entrada de drogas no país uma das suas principais bandeiras. Agora, na sua segunda passagem pela Casa Branca, o Presidente terá assinado uma diretriz para garantir que vai conseguir vencer a batalha. Trump ordenou “secretamente” ao Pentágono para utilizar as forças militares norte-americanas contra cartéis na América Latina que estão assinalados como organizações terroristas, avança o New York Times, citando fontes familiares com o processo, no que é o “passo mais agressivo” desta administração para combater o narcotráfico nos EUA.
Assinado o documento, abre-se a porta para a realização de operações militares “no mar ou até mesmo em território estrangeiro” para atingir os cartéis. Numa das suas primeiras medidas enquanto Chefe de Estado, Trump catalogou oficialmente diversos destes grupos organizados como organizações terroristas e, desta forma, estendem-se as possibilidades e as formas de atacar diretamente os cartéis. Assim, podem “usar outros elementos do poder americano, entre agências de serviços secretos, o Departamento de Defesa, para ter estes grupos na mira” caso tenham uma oportunidade para atuar, explicou o Secretário de Estado Marco Rubio, numa entrevista citada pelo jornal norte-americano.
A abordagem mudou. “Temos de começar a tratá-los como organizações terroristas armadas, não apenas como organizações de tráfico de droga”, continuou o responsável pela diplomacia dos EUA. De acordo com uma porta-voz da Casa Branca, a principal prioridade de Donald Trump é “proteger a pátria”, indicando que esta razão justifica esta nova designação atribuída aos gangues e cartéis visados.
Com a medida oficializada internamente, mas ainda sem quaisquer detalhes divulgados, surgem múltiplas questões. A primeira que se coloca é sobre o tipo de operações que as forças norte-americanas vão levar a cabo. Serão apenas missões de interceção dos traficantes? Vão destacar militares para derrubar diretamente o teatro de operações dos cartéis? Ou, como questiona o New York Times, o Pentágono vai organizar excursões para eliminar suspeitos de estarem envolvidos nos grupos? As dúvidas mantêm-se, uma vez que nem a Casa Branca, o Pentágono ou até o Departamento de Justiça se pronunciaram sobre o tema quando questionados pelo jornal.
Especialistas legais consultados pelo New York Times referem que a legislação norte-americana permite apenas que a administração de Donald Trump aplique sanções contra os grupos ou determinados membros destas associações criminosas, para congelar fundos e dificultar a sua mobilidade internacional. Porém, advertem que não existe qualquer artigo que fornece a autoridade legal para operações “estilo guerra” que visem um combate com forças armadas.
[Um jovem polícia é surpreendido ao terceiro dia de trabalho: a embaixada da Turquia está sob ataque terrorista. E a primeira vítima é ele. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o terceiro episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro episódio aqui e o segundo aqui]
Recorde que esta quinta-feira, o governo norte-americano anunciou um aumento na recompensa por informação que conduza à detenção do Presidente da Venezuela Nicolás Maduro, um “líder de cartel” aos olhos da administração. “[Maduro] não vai escapar a justiça e vai ser responsabilizado pelos seus crimes repugnantes”, declarou a Procuradora-Geral Pam Bondi. Ora, da mesma forma, não é conhecido se este reforço no combate ao narcotráfico poderá estar associado a uma missão futura para chegar até ao líder venezuelano, mas não seria algo sem precedentes.
Today, @TheJusticeDept and @StateDept are announcing a $50 MILLION REWARD for information leading to the arrest of Nicolás Maduro. pic.twitter.com/D8LNqjS9yk
— Attorney General Pamela Bondi (@AGPamBondi) August 7, 2025
Pintadas como missões de apoio às autoridades locais, os Estados Unidos já enviaram, em diversas ocasiões, forças militares para operações dedicadas à luta contra os cartéis na América Latina. Em 1989, o então Presidente George H. W. Bush enviou mais de 20 mil militares norte-americanos para o Panamá com o intuito de deter o igualmente acusado de tráfico de droga e líder panamense, Manuel Noriega.
Esta também não é a primeira instância em que Donald Trump encarrega as forças militares com competências que têm sido maioritariamente atribuídas aos agentes de autoridade. Ainda este ano, o Chefe de Estado destacou a Guarda Nacional e membros do exército para a fronteira com o México para limitar não só a entrada de drogas para o país, mas também de imigrantes. Na mesma altura, estes meios foram também acionados para a Califórnia para conter a vaga de protestos contra as deportações em série que marcaram o mês de junho no Estados Unidos.