Com as rendas em Lisboa entre as mais altas da Europa, o aumento dos preços das casas ao longo dos últimos anos e as crescentes dificuldades em aceder ao mercado, a crise da habitação em Portugal tornou-se uma expressão do dia a dia — que chega às polémicas das demolições dos bairros de barracas construídos em terrenos na periferia da capital.

Por esta altura somam-se também os milhares de estudantes que aguardam os resultados do concurso nacional de acesso ao ensino superior para saber em que universidade são colocados e, em grande parte dos casos, se preparam para uma busca por alojamento, com quartos a preços exorbitantes. Entre os jovens que não são empurrados pela necessidade, a idade com que saem de casa dos pais é superior à média europeia: 29,7 anos — algo a que o Governo tentou responder com várias medidas de apoio para compra de casa, como a garantia pública no crédito à habitação.

Em parceria com a Netsonda, o Observador revela qual é a realidade da Habitação em Portugal. As pessoas compraram a casa onde vivem ou estão em casa arrendada? Qual é a tipologia das casas que habitam? Vivem sozinhos? Desejam comprar casas ou não é algo que esteja nas suas ambições? Cruzando informação recolhida em seis regiões do território continental (Grande Lisboa, Grande Porto, Litoral Centro, Litoral Norte, Interior Norte e Sul) e analisando as respostas dadas pelas diferentes gerações, a Netsonda conduziu um inquérito sobre a Habitação no país. Estes são os principais resultados.

Quando começaram as diferentes gerações?

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Geração Z — 1997 a 2012

Millenial — 1981 a 1996

Geração X — 1965 a 1980

Baby Boomers — 1946 a 1964

65% dos inquiridos vive em casa própria. Ou seja, de entre toda a população que respondeu ao inquérito — e algo que é também verificável através do Censos 2021 —, a grande maioria ou está ainda a pagar crédito à habitação ou já pagou a sua casa na totalidade. Portugal está “um bocadinho acima da média” europeia, nota a economista Vera Gouveia Barros, mas simplesmente porque a média é calculada tendo em conta toda a população europeia — incluindo os países como a Alemanha e a Áustria, onde a maioria da população vive em casas arrendadas.

Uma coisa também é certa: quase todos (97%) os inquiridos que não são proprietários manifestaram o desejo de vir a adquirir uma habitação própria no futuro. Os 3% que não o pretendem dizem não querer ficar “presos a um local”, priorizando a flexibilidade enquanto, ao mesmo tempo, admitem não ter as condições financeiras para avançar com a aquisição de uma casa.

A casa onde vive atualmente é

Ainda assim, quase um quarto da população (23% dos inquiridos) habita numa casa arrendada, solução que acaba por ser a mais adotada pelas pessoas cujos rendimentos mensais do agregado são inferiores a mil euros e 40% trabalhadores-estudantes. A especialista em Habitação, em declarações ao Observador, admite existir uma “preferência pelo regime de propriedade”, mas verifica-se uma tendência nas gerações mais jovens de adotarem o arrendamento, seja pela mobilidade laboral ou por questões familiares.

Relativamente ao resto da população, 4% habita em casas que foram cedidas e 8% dos inquiridos continua dependente, ou seja, a viver com familiares. A maioria (87%) destes dependentes tem até 44 anos.

“Durante muitos anos, tivemos um mercado de arrendamento que não funcionava. A maioria das pessoas continua a sentir que o arrendamento as coloca numa situação de maior vulnerabilidade do que a propriedade”, acrescenta a especialista, mencionando os casos de “senhorios abusadores” — que “não cumprem as suas responsabilidades — como uma das potenciais causas que motiva o afastamento de uma grande parte da população deste mercado.

“A oferta depois acaba por ser um reflexo disto”, continua. Vera Gouveia Barros alerta também para o facto de não ser um mercado necessariamente apelativo para os senhorios, sublinhando que a caução, atualmente, está “limitada, ao nível da legislação, ao valor de duas rendas” e que — “mesmo com as rendas altas” — pode não ser suficientes para “cobrir os danos de alguém que, por exemplo, destrua uma cozinha”.

De todas as pessoas que foram consultadas pela Netsonda, 64% vive numa casa usada. Apesar de ser uma tendência uniforme em todo o território nacional, acaba por ser mais visível nos grandes centros urbanos, Grande Lisboa e Grande Porto, com 70% a viver em casa previamente habitadas. “As pessoas há uns anos saíram do centro de Lisboa, até mesmo do concelho de Lisboa, para ir habitar nestas periferias onde a habitação era mais barata em termos absolutos e também em termos do preço pelo metro quadrado, eram casas grandes”, refere ainda a especialista, que admite um “regresso à cidade” que partiu de problemas de mobilidade. Mais de metade (54%) dos agregados familiares cujo rendimento mensal líquido é superior a 3.000€ reside atualmente em casas novas.

No centro das grandes cidades, Vera Gouveia Barros reforça que apesar das condições de habitação, tal como transportes e supermercados, terem vindo a melhorar, a mudança no “estilo de vida”, que vem com a localização, dificilmente surge com “casas novas”. “Não quer dizer que alguns não tenham sido totalmente reabilitadas e, portanto, tenham até um custo duplamente agravado, não só porque são novas e tiveram de cumprir com todas as exigências, mas porque também, em cima disso, tiveram as exigências de preservação arquitetónica”. Utilizando a Baixa da cidade de Lisboa como exemplo, a economista e especialista em Habitação destaca que as casas “têm de continuar a usar janelas em madeira” e uma série de outros requisitos que são necessários cumprir na altura de construção das casas e que representam quase um duplicar dos custos das propriedades.

“Dentro das casas existentes nós vamos ter uma disparidade muito grande. Vamos ter as que são mais baratas, que estão nestas zonas da área metropolitana sem estarem no centro, e depois temos as outras hipercaras, que são de nicho, em sítios em que a casa é quase património. No meio disto ficará a construção nova”, afirma Vera Gouveia Barros.

Já na região Sul, apenas 36% das pessoas inquiridas vive em casas novas. A percentagem aumenta no Norte, tanto no Litoral (40%) como no Interior (44%), mas de acordo com a especialista, o valor depende bastante da “quantidade de casas novas existentes dentro do parque habitacional”.

A mudança de casa ao longo da vida é relativamente comum. Seja por alterações do agregado familiar, motivos profissionais ou uma deslocação para outra cidade. De acordo com o inquérito realizado pela Netsonda, 39% das pessoas já alterou o seu local de residência uma ou duas vezes. As gerações mais velhas (Baby Boomers) são quem o fez mais vezes, com 39% dos inquiridos a revelar ter mudado de casa entre três e cinco vezes.

Mais de metade das pessoas inseridas em agregados cujos rendimentos mensais são inferiores ao salário médio nacional também tiveram de trocar de habitações em mais de três ocasiões ao longo da vida. Segundo Vera Gouveia Barros, a razão poderá derivar de uma medida imposta nos anos da troika. “As regras de concessão de crédito foram apertadas e, portanto, pessoas com rendimentos mais baixos ou com situações laborais mais instáveis deixaram de conseguir aceder a crédito”.

Quantas vezes já mudou de casa na vida?

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