O BYD Dolphin Surf é um citadino com muitos argumentos para ser uma proposta bem sucedida, mas há um aspeto que o poderá limitar.
O BYD Dolphin tem qualidades capazes de rivalizar com modelos do segmento acima, mas isso não justifica o preço.
Prós
- Consumos
- Autonomia
- Equipamento de série
- Qualidade de montagem
- Conforto
Contras
- Preço
- Sistema de infoentretenimento
- Apenas quatro lugares
Durante os dias que o testei, senti o BYD Dolphin Surf sempre como “um peixe fora de água”. E não por ser mau, bem pelo contrário: num segmento onde a contenção de custos tende a ser uma das prioridades, superou as expectativas.
A proposta da BYD para o segmento dos citadinos está, assim, mais alinhada com o sofisticado e «rei» do espaço Hyundai Inster — que também já testámos —, do que com o «rei» dos preços baixos e mais básico, o Dacia Spring.
© Razão Automóvel Não parece, mas o BYD Dolphin Surf é comprido como os modelos do segmento acima, o dos utilitários: 3,99 m de comprimento. A largura de 1,72 m, não fica muito atrás, assim como a distância entre eixos de 2,5 m. Parece mais pequeno do que é devido à altura: 1,59 m.
Não fosse o espaço a bordo algo limitado e o BYD Dolphin Surf até reunia argumentos de peso para vingar… no segmento acima, onde habitam propostas como o FIAT Grande Panda e o «primo» Citroën ë-C3.
Como vai perceber nas próximas linhas, não lhe faltam atributos. Mas na versão que testei, o preço será provavelmente o seu maior obstáculo para vingar no mercado nacional.
Visual que conquista
O Dolphin Surf começa por conquistar, na minha opinião, com o seu visual que, sem que isso seja uma crítica, parece inspirar-se em alguns detalhes de superdesportivos — Lamborghini Huracán, estás à escuta?
Enquanto alguns concorrentes optam por linhas mais conservadoras e consensuais, o compacto chinês distingue-se por adotar um visual angular e dinâmico, que lhe confere uma personalidade jovem e, se me permitem, desportiva.
A isto, juntam-se os faróis «rasgados», a linha das janelas descendente, os guarda-lamas proeminentes e o spoiler traseiro bastante alongado.
Estas linhas ganham ainda mais destaque com a pintura “Verde Lima” (de série em todas as versões), capaz de atrair olhares por onde quer que passe.
Mas se o estilo é subjetivo, o mesmo não se aplica às dimensões, que impressionam: o Dolphin Surf é a maior proposta 100% elétrica do segmento. Comparando-o com o Dacia Spring ou o Hyundai Inster, o BYD é mais comprido (3,99 m) e também mais largo (1,72 m), ficando apenas atrás do modelo sul-coreano na distância entre eixos: 2,5 m contra 2,58 m.
Além disso, é mais comprido que propostas de segmento superior, como o Renault 5 (3,92 m) e muito próximo do Citroën ë-C3, que leva vantagem por dois centímetros (4,01 m).
Interior espaçoso q.b.
Apesar das dimensões generosas exteriores, não se reflete no espaço oferecido no interior. O Hyundai Inster, por exemplo, é bem mais espaçoso. Tal como este, o Dolphin Surf também só tem quatro lugares — uma característica que, neste segmento, está longe de ser negativa.
Ainda assim, com o assento do condutor ajustado para os meus 1,78 m, o Dolphin Surf não se recusou a percorrer algumas centenas de quilómetros com quatro adultos a bordo, todos sentados confortavelmente.
Mas se o espaço para os ocupantes não impressiona tanto quanto o do Inster, o mais pequeno dos Dolphin compensa com a maior bagageira do segmento, ao nível de propostas do segmento acima: 308 litros.
Por outro lado, o BYD Dolphin Surf não oferece bagageira dianteira ou frunk, reservando esse espaço para o motor elétrico.
A tudo isto, junta-se o conteúdo tecnológico bastante convincente e, ao contrário do que é normal neste tipo de propostas, a qualidade de montagem mostrou-se irrepreensível e livre de barulhos parasitas. Os materiais, por outro lado, não são os mais agradáveis à vista e ao toque, mas também não fogem ao habitual no segmento.
De resto, só uma nota para os comandos físicos na consola central que pecam pela usabilidade — têm um formato cilíndrico, mas falta uma patilha para facilitar o seu uso —, e visibilidade dos símbolos. Especialmente quando o sol incide diretamente.
Em estrada, o BYD Dolphin Surf foi uma agradável surpresa. Num segmento onde a maioria das propostas se limita a cumprir as obrigações do dia a dia, o compacto chinês faz tudo isso, mas com uma dose de conforto que não era expectável.
No seu habitat natural (a cidade), as dimensões compactas conferem-lhe uma condução ágil e facilitam as manobras de estacionamento, apesar da visibilidade traseira algo limitada — a câmara 360º compensa neste ponto. A direção revelou-se também algo «pesada» e pouco comunicativa, e o pedal do travão mostrou-se esponjoso e difícil de «decifrar».
Mas não é só na cidade onde o compacto chinês se sente à vontade. Com 115 kW (156 cv) ao dispor do pé direito, é possível adotar ritmos muito interessantes, dando-lhe a confiança necessária para enfrentar a autoestrada, onde nunca senti falta de potência e mostrou-se muito estável.
Mas a autoestrada é também o «calcanhar de Aquiles» para muitos elétricos, especialmente nestes de vocação urbana, com baterias de capacidade modesta — cerca de 43 kWh no caso do Dolphin Surf. Neste cenário, registei consumos em torno dos 18 kWh/100 km, pelo que esperem autonomias inferiores a 250 km por carga completa.
Faz muito mais sentido em cidade, onde o sistema elétrico do citadino da BYD destacou-se pela eficiência, tendo sido fácil manter os consumos abaixo dos 12 kWh/100 km, graças também à recuperação de energia — tem dois níveis que pouco diferem entre si.
Neste contexto, a autonomia anunciada de 310 km (ciclo combinado WLTP) pode ser superada com alguma facilidade. No final deste ensaio, a média até ficou um pouco abaixo dos 16 kWh/100 km oficiais.
O grande «senão» do Dolphin Surf
O BYD Dolphin Surf quer fazer parte desta nova era de modelos 100% elétricos acessíveis, mas fica-se pelo querer. Apesar de reunir argumentos de peso, não é o «negócio da China» esperado e poderá ser um dos principais entraves ao seu sucesso em Portugal.
Na versão de acesso Active — motor de 65 kW (88 cv), bateria de 30 kWh e autonomia de 220 km —, os preços começam já nos 22 318 euros, superior ao Dacia Spring ou ao conterrâneo Leapmotor T03 (mais autonomia e também com muito equipamento de série).
© Razão Automóvel Na versão testada, o compacto chinês tem 115 kW (156 cv) e 220 Nm de binário.
Mas o Dolphin Surf que testei era o topo de gama, o Comfort: 156 cv, bateria de 42,3 kWh e 310 km de autonomia. Neste caso, o preço sobe para cerca de 29 420 euros e, se optar por uma cor diferente da “Verde Lima”, ultrapassa facilmente a fasquia dos 30 mil euros.
Há uma versão intermédia Boost, que combina o motor menos potente (88 cv) com a bateria maior (42,3 kW/h), resultando na maior autonomia da gama, de até 322 km (WLTP). O preço começa nos 26 423 euros.
Mesmo com uma lista de equipamento muito completa, estes valores posicionam o citadino da BYD num «território» onde já encontramos propostas do segmento acima, como Renault 5 ou o Citroën ë-C3, disponíveis a partir de 24 900 euros e 23 750 euros, respetivamente, ambos com baterias e autonomias semelhantes… e espaço para cinco ocupantes.
Veredito
BYD Dolphin Surf
7.5/10
O BYD Dolphin Surf foi uma grande surpresa: pelo conteúdo tecnológico, pela eficiência do sistema elétrico e pelo conforto com que «rola» na estrada. Apesar de ser um citadino, tem atributos que o fazem rivalizar com propostas do segmento acima. O problema? O preço, que também está alinhado com essas propostas que são, em vários, casos, mais apelativas.
Prós
- Consumos
- Autonomia
- Equipamento de série
- Qualidade de montagem
- Conforto
Contras
- Preço
- Sistema de infoentretenimento
- Apenas quatro lugares
Especificações técnicas
Versão base:22.318€
Classificação Euro NCAP:
0/5
29.423€
Preço unidade ensaiada
Motor
- Arquitectura:Motor síncrono de magneto permanente
- Posição: Dianteiro, transversal
- Carregamento: Bateria de 43,2 kWh
- Potência:
115 kW (156 cv) - Binário:
220 Nm
Transmissão
- Tracção: Dianteira
- Caixa de velocidades: Relação única
Capacidade e dimensões
- Comprimento: 3990 mm
- Largura: 1720 mm
- Altura: 1590 mm
- Distância entre os eixos: 2500 mm
- Bagageira: 308-1037 litros
- Jantes / Pneus: 185/55 R16
- Peso: 1465 kg
Consumo e Performance
- Média de consumo: 16 kWh/100 km; Autonomia: 310 km
- Velocidade máxima: 150 km/h
- Aceleração máxima: >9,1s
Equipamentos
- Faróis automáticos em LED
- Controlo Inteligente de Máximos (IHBC)
- Jantes de liga leve de 16″
- Espelhos retrovisores exteriores aquecidos, eletricamente ajustáveis e rebatíveis
- Vidros traseiros escurecidos
- Volante e bancos em pele vegan
- Bancos dianteiros com regulação elétrica e função de aquecimento
- Painel de instrumentos (7″) e ecrã central (10,1″) digitais
- Integração Android Audo e Apple CarPlay sem fios
- Consola central com carregador sem fios
- Sensores de estacionamento traseiros e câmaras de 360º
- Cruise Control Adaptativo (ACC) e Inteligente (ICC)
- Assistente de Saída de Faixa de Rodagem (LDA)
- Reconhecimento de Sinais de Trânsito (TSR)
Tem: