Os familiares dos reféns encarcerados pelo Hamas em Gaza convocaram uma paralisação total em Israel no próximo domingo, em protesto contra a decisão do Governo de Benjamin Netanyahu de ocupar militarmente todo o enclave.
“Vamos fechar o país, para salvar os soldados e os reféns”. A afirmação consta do comunicado da organização Conselho de Outubro, que representa mais de 1500 famílias enlutadas, famílias de reféns ainda em clausura, reféns que foram libertados e sobreviventes do ataque de 7 de Outubro, explica o site israelita Ynetnews.
Para os 20 reféns que se pensa que ainda estão vivos no enclave, a tomada do controlo dos 25% de território que Israel ainda não controla na Faixa de Gaza é uma sentença de morte, dizem os familiares, que rejeitam a ideia de Netanyahu de que o plano militar aprovado na sexta-feira “vai ajudar” à sua libertação.
Desde quinta-feira passada (véspera da aprovação do plano militar criticado até pelas chefias militares israelitas) que os familiares e amigos dos reféns têm estado nas ruas de Telavive com milhares de outras pessoas que exigem o fim imediato da guerra e que acusam o primeiro-ministro de sacrificar a vida dos prisioneiros e dos soldados em troca da sua manutenção no poder.
Mas também na coligação de Netanyahu surgem sinais de ruptura. Um dos seus ministros mais radicais, Bezalel Smotrich, que tem a pasta das Finanças, usou as redes sociais para dizer que “perdeu a confiança” na capacidade de Netanyahu de vencer a guerra em Gaza.
A estratégia militar do primeiro-ministro, que foi recebida internacionalmente com um coro de críticas, por se considerar que vai provocar um banho de sangue e piorar a crise humanitária em Gaza, é vista por Smotrich como pouco assertiva.
Na plataforma X, o ministro de extrema-direita criticou o facto de Netanyahu ter um plano gradual para ocupar Gaza (que começa na Cidade de Gaza e depois resultará na tomada de controlo de todo o Norte do enclave).
Desafiou-o a convocar novamente o Conselho de Ministros para apresentar um novo plano e “anunciar inequivocamente que não haverá meio-termo, nem acordo parcial” e que Israel dará “um passo decisivo e claro em direcção à vitória” na guerra contra o Hamas.
Não é a primeira vez que Smotrich, líder do partido ultranacionalista Sionismo Religioso, ameaça Netanyahu com o fim da coligação de direita encabeçada pelo partido do primeiro-ministro, o Likud.
Contudo, este sinal de fissura na coligação está a ser aproveitado pelo líder da oposição em Israel, Yair Lapid, para tentar a convocatória de novas eleições.
Lapid, líder do partido liberal Yesh Atid, apelou a Smotrich para que se junte a ele na promoção de um projecto de lei para dissolver o Parlamento israelita (Knesset) e obrigar a novas eleições.
Se já “admitiu que a política do primeiro-ministro não está a levar a um resultado decisivo em Gaza, não está a trazer de volta os nossos reféns e não está a ganhar a guerra”, então “não pode continuar a apoiá-lo”, disse Lapid a Smotrich na televisão pública, citado pelo Times of Israel.
A contestação interna e o repúdio internacional pela nova acção militar na Faixa de Gaza, levaram o primeiro-ministro a convocar duas conferências de imprensa para este domingo.
A primeira, a realizar-se durante a tarde, destina-se aos jornalistas estrangeiros. A segunda, em horário nobre, será para os meios de comunicação social israelitas.