As fotografias da Faixa de Gaza mostram, ainda assim, pessoas desesperadas à procura de comida, o que comprova muitos dos relatos feitos por várias organizações internacionais que estão no terreno. As Nações Unidas denunciam uma situação alarmante de fome na região, que chegou a um “nível sem precedentes”. O Ministério da Saúde palestiniano, controlado pelo Hamas, enumera diariamente os números de vítimas mortais resultantes da fome.

Até o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, confessou ver as fotografias e ter ficado chocado. “Algumas das crianças vivem mesmo com fome. Não se consegue falsificar”, disse. Sendo um dos maiores aliados de Israel, o líder norte-americano considerou prioritário que entrasse mais ajuda humanitária no enclave palestiniano, algo com que Telavive acabou por concordar.

Israel empenha-se agora numa missão: demonstrar que muitas das fotografias publicadas na imprensa internacional não passam de “propaganda”. Ainda na passada quarta-feira, a conta oficial de Israel no X, depois da polémica sobre o New York Times, criticou a capa da edição mais recente da revista Time. “Os fotógrafos do Hamas encenam para fins de propaganda”, lê-se numa publicação, em que se utiliza o termo “Pallywood” — uma mistura entre Palestina e Hollywood. Muitas das imagens que fazem manchete, prossegue Telavive, servem para “provocar emoções” com a “cumplicidade dos meios de comunicação social” que “descartam a verdade”.

Israel não permite a entrada nem de jornalistas, nem de fotojornalistas na Faixa de Gaza. Numa entrevista à CNN Portugal, o embaixador israelita em Lisboa, Oren Rozenblat, garantiu que o país não estava a planear mudar esta norma, justificando que a situação no terreno era “muito complicada” e explicando que havia “terroristas que apareciam como civis”.

Isto significa que os fotojornalistas que estão na Faixa de Gaza têm de receber autorização do Hamas para estar no terreno — e estar suscetíveis às suas pressões. Em declarações ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, Christopher Resch, porta-voz da organização Repórteres Sem Fronteiras para o Médio Oriente, esclarece que, mesmo antes de 7 de outubro, nenhum jornalista em Gaza criticava diretamente o grupo islâmico, mesmo que o “trabalho jornalístico sem influências fosse possível”.

Atualmente, numa altura que o grupo islâmico trava uma guerra contra Israel, Christopher Resch considera que “há poucas coisas que passam despercebidas ao Hamas”, particularmente no sul da Faixa de Gaza. Ou seja, as fotografias serão, em última instância, sempre do interesse da organização islâmica que sejam publicadas.