LITERATURA

Confira também alguns exemplos de tropes e livros que se encaixam em cada categoria

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Publicado em 10 de agosto de 2025 às 07:30

Tropes têm sido usadas para divulgar livros de romance

Tropes têm sido usadas para divulgar livros de romance Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Uma estudante de doutorado e um professor da Universidade de Stanford entram numa farsa para convencer aos amigos dela de que os dois têm um relacionamento. O namoro de mentira é o principal mote do livro A Hipótese do Amor, primeira publicação da autora italiana Ali Hazelwood que se tornou a queridinha das comédias românticas. A obra aparece em todas as principais listas de mais vendidos do país: Amazon, PublishNews e Veja (em que figurou por 32 semanas não consecutivas) e está sendo adaptada para um filme da Amazon MGM Studios. >

Mas o que nem todo mundo sabe é que, na linguagem dos leitores de romance, das editoras e dos criadores de conteúdo de literatura, o namoro de mentira tem nome e sobrenome: é o ‘fake dating’, uma das tropes mais conhecidas e mais populares dos últimos anos. Trope (ou, ainda, tropa ou tropo) são premissas literárias – ou seja, os clichês de um determinado gênero. Só que, atualmente, eles estão sendo amplamente usados não apenas para fazer a divulgação (e vender) os livros de romance como para alcançar leitores que exigem saber exatamente para onde aquela história vai. >

“É bem importante pontuar que existem tropos em praticamente todos os gêneros literários, principalmente em ficção. Tem no horror, no thriller. Agora, a gente está usando as tropes de romance para fazer o marketing do romance. Essa estratégia de divulgação começou há uns dois anos e ganhou força, principalmente quando estamos falando de comédias românticas”, diz a editora da Harlequin (o selo focado em romances da HarperCollins Brasil), Julia Barreto. >

Isso também significa dizer que as tropes valem para os subgêneros de romance, incluindo o dark romance e a romantasia. A lista é imensa: além do fake dating, há outros como ‘grumpy x sunshine’ (quando um lado do casal tem personalidade rabugento e o outro é alegre e radiante); ‘age gap’ (diferença de idade); slow burn (desenvolvimento lento do romance); ‘second chance’ (quando o casal volta a ficar junto após se separar) e ‘forced proximity’ (quando são forçados a conviver por alguma circunstância externa). >

Talvez a mais popular hoje seja a ‘Enemies to lovers’: ‘de inimigos a amantes’ – ou seja, quando o casal começa tendo aversão pelo outro, mas fica junto no fim. Na Harlequin, por exemplo, é o caso da romantasia A rosa acorrentada, de Julie Soto, que será lançada no fim do mês. Ainda que existam tentativas de traduzir os termos, a maioria usa em inglês mesmo, pela influência das plataformas digitais. Só no TikTok, a tag #enemiestolovers tem mais de três milhões de vídeos publicados. Nos últimos 12 meses, a pesquisa pela trope aumentou 190% no Google Trends. >

Ainda que conseguisse perceber padrões narrativos em alguns dos livros que lia, foi só recentemente que a relações-públicas Ramone Marmentini, 30 anos, descobriu que eles eram chamados de tropes. Com o crescimento do BookTok e do Bookstagram (os nichos de criadores literários no TikTok e no Instagram, respectivamente), ela passou a prestar mais atenção nas sinopses e resenhas. Foi assim que percebeu que as tropes tinham influência na sua vontade de ler um livro ou não. >

“As tropes são quase como guias emocionais. Elas indicam o tipo de jornada que vou viver com os personagens. Eu, por exemplo, amo ‘enemies to lovers’ porque esse tipo de tensão e evolução entre os protagonistas me prende do começo ao fim”, diz. “Quando um livro tem uma trope que não me agrada tanto, como ‘friends to lovers’, eu já sinto que a leitura pode não me empolgar da mesma forma”, acrescenta Ramone. Friends to lovers, por sua vez, é quando o casal já era amigo e se apaixona, ficando junto no final. >

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A analista de processos e pesquisa de mercado Brenda Melo, 28, também descobriu nome para esses clichês literários somente este ano, ao ver vídeos de resenhas no YouTube e no BookTok. Além do ‘enemies to lovers’, ela destaca o ‘fake dating’ e o ‘slow burn’ como algumas das tropes que a atraem numa história. “Não sou tanto de buscar livros com este último, apenas curto quando vejo que será assim. Não vejo como essencial, mas me empolga muito quando tem e sei que vou curtir”, explica. >

Para Brenda, a popularização das tropes está ligada aos influenciadores literários, que cresceram nas plataformas digitais após a pandemia da covid-19. “Lembro de ler, desde nova, livros que traziam isso, mas esses termos não eram tão reforçados”, avalia. Apesar da preferência, ela diz que tenta estar aberta a ler coisas novas ou que vão além do que está acostumada. Por isso, não conseguiria eleger uma trope que não gosta. “Acredito que seja muito uma questão comercial por trás até mesmo das editoras”, completa. >

A Harlequin é uma das editoras que mais consegue evidenciar as tropes – inclusive, na segmentação de seu site. Desde o início do ano, é possível selecionar os livros da editora pelas tropes principais de cada um. Assim, cada trope aparece como palavra-chave e pode ter também algum subtítulo que faça essa referência no cadastro. >

“A gente tem diferentes gêneros de romance e não vai escolher um livro por uma trope específica. Mas a gente começa a fazer esse trabalho a partir do marketing e da divulgação mesmo. No site, a nossa equipe de e-commerce começou a desenvolver e foi uma força-tarefa para olhar todo o catálogo, ver quais livros se encaixavam em quais tropos para fazer a categoria”, relata a editora da Harlequin, Julia Barreto. >

Para Julia, essa já se tornou a norma na divulgação de romances – especialmente, das comédias românticas – não apenas para os grupos editoriais como para criadores de conteúdo e mesmo autores. Hoje, enquanto ‘enemies to lovers’ e ‘fake dating’ são tropes em alta, outra que já foi muito popular nos livros de 2010 está em baixa: o triângulo amoroso (no estilo Crepúsculo). >

“Você meio que já sabe ou espera um final feliz no romance, então quer ter uma leitura agradável e é uma maneira de se adequar ainda mais ao gosto. A ascensão do romance como um todo tem tudo a ver com a pandemia, quando as pessoas precisavam ser reconfortadas e as premissas também ajudavam nesse sentido. Mas também tem um lado negativo de que, às vezes, as pessoas estão muito reticentes de serem surpreendidas ou não dão chance para um livro porque não tem seu trope”, pondera.>

Conheça cinco tropes de romance e livros que representam cada uma delas

Enemies to lovers (inimigos a amantes)

Livro A Rosa Acorrentada, de Julie Soto por Divulgação

Forced proximity (proximidade forçada)

Livro Lua em Touro, de Ruby Dixon por Divulgação

Second chance (segunda chance)

Livro Rei da Ganância, de Ana Huang por Divulgação

Friends to lovers (amigos a amantes)

Livro Fisgados pelo amor, de Tessa Bailey por Divulgação

Slow burn (desenvolvimento lento)

Livro Binding 13, de Chloe Walsh por Divulgação