O conflito entre o Camboja e a Tailândia, que entra este sábado no seu terceiro dia, já fez pelo menos 30 mortos, incluindo civis. O Camboja diz querer um “cessar-fogo imediato” e a Tailândia apela a que se “regresse ao diálogo de boa-fé”. Por seu lado, a Malásia mostra-se disponível para mediar o diálogo entre os dois países com vista a um cessar-fogo.
Há registo de novos focos de conflito. O Ministério da Defesa do Camboja disse, este sábado, que a Tailândia disparou cinco mísseis de artilharia para várias localizações em Pursat. A Tailândia, por seu turno, acusou o Camboja de iniciar a agressão em Trat. Esta nova frente fica a mais de 100 quilómetros dos pontos de conflito até agora registados.
Mais de 30 pessoas morreram como resultado dos confrontos, que já são os mais mortíferos em 13 anos. As autoridades no Camboja dão conta de 13 mortos: cinco militares e oito civis. A Tailândia conta 20 baixas, sete soldados e 13 civis. A esses números, juntam-se os das pessoas que tiveram de ser retiradas dos locais dos combates, perto da fronteira: mais de 138 mil na Tailândia e 23 mil no Camboja.
Neste momento, o Camboja apela a um “cessar-fogo imediato”. Numa reunião de emergência à porta fechada com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, no final do dia de sexta-feira, em Nova Iorque, o embaixador cambojano na ONU, Chhea Keo, disse ainda querer uma “solução pacífica para o conflito”.
O seu homólogo tailandês, Cherdchai Chivaivid, pediu ao Camboja que “acabe imediatamente com todas as hostilidades e actos de agressão e que regresse ao diálogo de boa-fé”. Refere ainda que há registo de soldados tailandeses feridos com minas antipessoais colocadas em território tailandês desde meados de Julho, algo que o Camboja nega ter feito.
“Como nação amante da paz (…) a Tailândia recusa categoricamente o uso da força como meio para resolver disputas internacionais, mantendo ao mesmo tempo o seu firme compromisso com a solução pacífica de controvérsias”, lê-se na declaração do representante tailandês tornada conhecida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros tailandês.
Da Malásia chega um apelo ao cessar-fogo. Em Kuala Lumpur, o primeiro-ministro Anwar Ibrahim afirmou que ia continuar a insistir numa proposta. O Camboja concorda com o plano e a Tailândia também, “em princípio”. “Ainda há fogo dos dois lados”, disse Anwar, que pediu ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros que “coordene” os esforços junto dos seus homólogos, dando conta da disponibilidade de negociar com “eles pessoalmente”, “pelo menos para terminar com a luta”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, já pediu “máxima contenção”, mas ambos os países se acusam mutuamente de começar o conflito e dizem agir em legítima defesa.
Ainda este sábado, o Ministério do Defesa do Camboja afirmou em comunicado que a Tailândia lançou um “ataque militar deliberado, não provocado e ilegal” e apelou à comunidade internacional que “condene a agressão tailandesa”. Banguecoque diz que quer resolver a situação de forma bilateral, “via canais diplomáticos”, disse o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros à AFP.
A ONU confirmou que os confrontos que começaram no final desta semana fizeram vítimas civis, incluindo várias crianças, e mostrou-se “disposta a apoiar os esforços humanitários se for solicitado”, disse a porta-voz Stephanie Tremblay, depois da sessão do Conselho de Segurança que abordou a “escalada mais grave em mais de uma década” entre os dois países.
A organização não-governamental de defesa de direitos humanos Human Rights Watch denunciou, na sexta-feira, a escalada no conflito e apelou a que se pressionasse os dois Governos de forma a garantir uma maior protecção dos civis e infra-estrutura civil, como “instalações médicas e lugares religiosos e culturais”.
Há mais de um século que os dois países disputam a jurisdição de vários pontos ao longo da fronteira que partilham, com mais de 800 quilómetros. O actual episódio de violência foi espoletado pela morte de um soldado cambojano, no final de Maio. Desde então que os dois lados reforçaram as suas tropas ao longo da fronteira.