Caso que até podia parecer pessoal tornou-se muito mais do que isso. Ao ponto de haver detetives privados metidos ao barulho

“Ficções bizarras, difamatórias e rebuscadas” num podcast com milhões de ouvintes são a justificação para um caso bizarro em que Emmanuel Macron e a mulher estão a processar uma influencer norte-americana.

Uma das acusações de Candace Owens, que tem quase cinco milhões de seguidores no seu canal de Youtube, que mais tem irritado o casal que mora no Palácio do Eliseu é a de que Brigitte Macron nasceu homem e é transexual.

A partir daí, o casal Macron decdiu contratar investigadores privados para tentar perceber melhor com quem estavam a lidar. Entre as surpresas que tiveram, e de acordo com o Financial Times, ficaram a saber que Candace Owens se relaciona com personalidades da extrema-direita francesa e que goza de grande popularidade nos meios de comunicação da Rússia.

A empresa escolhida para liderar a investigação foi a Nardello & Co, contratada ainda antes do processo ter dado entrada na justiça.

E alguns detalhes dessa investigação foram partilhados com o Financial Times, incluindo as relações próximas de Candace Owens com figuras populistas de Franla, Estados Unidos ou Reino Unido, além de interações online com um nacionalista russo.

“Os Macrons avançaram com este processo com total conhecimento do alinhamento de Owens”, confirmou Dan Nardello, presidente da empresa e antigo procurador federal em Nova Iorque.

Esta contratação é um sinal claro de que Emmanuel e Brigitte Macron levam este caso a sério, sobretudo porque querem perceber porque é que uma influencer conservadora quer atacá-los em concreto.

E o ataque é feito sobretudo à mulher do presidente francês. “Brigitte Macron voltou a ser apanhada, e, entre advogados, equipas de relações públicas e investigadores, o casal está a gastar dinheiro a sério para acalmar a paranoia sobre o passado dela”, afirmou Owens, sugerindo que há uma obsessão com a sua personagem.

Sobre a sugestão de que Brigitte Macron é um homem, os investigadores encontraram uma origem que remonta a maio de 2017, a uma publicação de um blogger espanhol. Uma ideia que ganhou popularidade em França a partir de 2021, com o antigo chefe de redação da Faits et Documents, uma publicação de extrema-direita, a ajudar a espalhar o rumor.

Esse homem é Xavier Poussard, que até apareceu num vídeo em abril de 2024 a confirmar que tinha enviado o seu trabalho traduzido para Candace Owens e “outros Trumpistas”.

As informações partilhadas acabaram por levar a influencer a interessar-se no caso. De acordo com Xavier Poussard, Candace Owens não sabia de nada até um mês antes da sua partilha.

“De repente, interessou-e pelo caso e disse que estava a colocar a sua carreira em jogo”, acrescentou, sublinhando a existência de um “grande empurrão da máquina de Trump”.

Com efeito, a primeira referência da influencer a Brigitte Macron data de março de 2024. É aí que dá conta de um título do Daily Mail, de 2021, chamado “A prova de que a primeira-dama de França NÃO nasceu homem”.

Mais tarde, a mesma Candace Owens acabaria por entrevistar Xavier Poussard, apresentando-o como um contador de verdades sobre o caso.

Além disso, o lançamento da série “Becoming Brigitte”, da autoria da influencer, foi altamente anunciado nos meios de comunicação da Rússia.

Desse lado, e apesar de Candace Owens não se ter encontrado fisicamente com nenhum responsável ou personalidade da Rússia, foi provado que manteve interações com Alexander Dugin, um nacionalista e filósofo russo tido como muito próximo de Vladimir Putin.

E as conexões com eventuais inimigos do casal Macron estendem-se até Marion Maréchal, a sobrinha de Marine Le Pen, figura principal da extrema-direita francesa, mesmo que tenha deixado a liderança do Reagrupamento Nacional.

Um caso que vai desde os Estados Unidos à Rússia, com ponto central em França, onde o presidente e a mulher continuam a tentar perceber as reais razões de uma influencer para fazer o que faz.