Uma “chave mestra” usada para “lavagem de dinheiro” através de manipulação ilegal de transferências bancárias. A suspeita, noticiada pelo jornal Politico, coloca o Vaticano no centro de um esquema que permitiria que os funcionários da sede da Igreja Católica pudessem enviar fundos para clientes privados sem revelar identidades, o que, alegadamente, permitiria uma lavagem de dinheiro praticamente ilimitada e que violaria até as regras mais básicas de combate à fraude.
Em causa estará o SWIFT, o sistema internacional de transferências bancárias, e o Vaticano nega todas as acusações. Mais do que isso, apesar de as denúncias estarem a ser tidas em conta por serem feitas por autores credíveis, fonte familiarizada com o sistema citada pelo jornal diz que “não é possível alterar o conteúdo de uma mensagem de pagamento depois de enviada” devido à encriptação e às assinaturas digitais, tendo em conta que se trata de um sistema considerado altamente seguro.
Libero Milone, ex-auditor da Deloitte que foi nomeado pelo Papa Francisco em 2015 para reorganizar as finanças do Vaticano após anos de escândalos e negligência, garantiu que a agência de processamento salarial do Vaticano era capaz de mudar os nomes e números de contas nas transações que já tinham sido realizadas, o que permitia ocultar a identidade de destinatários e remetentes.
Em 2017, recorda o Politico, Milone foi obrigado a renunciar após ser acusado de espionagem, mas assegura que foi afastado quando identificou irregularidades financeiras que envolviam Angelo Becciu, antigo chefe da polícia do Vaticano, que acabou condenado por peculato anos depois.
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O ex-funcionário ainda colocou um processo contra o Vaticano, mas este caiu no mês passado, altura em que Milone falou pela primeira vez do sistema fraudulento, o que levou o site The Pillar a publicar um artigo onde revelou que existiam informações sensíveis relativamente aos anos em que trabalhou na sede da Igreja Católica. O site refere que a ferramenta servia para editar o dados como uma “chave mestra para lavagem de dinheiro”, o que levaria o Vaticano entrar “provavelmente numa lista negra internacional das mais sombrias, banido do sistema bancário internacional e impossibilitado de enviar ou receber dinheiro exceto fisicamente”.
“Tenho um papel que diz que eles podem alterar transações — podem mudar o nome — a qualquer momento”, explicou Milone em declarações ao Político, sugerindo a existência mais provas de irregularidades, mas assegurando que não as vais entregar nem chantagear ninguém.