Numa fase em que os alunos se desdobram em exames nacionais, o Benfica vai a um exame internacional: vai tentar passar com nota máxima na cadeira de gestão. Nesta terça-feira (20h, TVI), na Luz, frente ao Nice, os “encarnados” só precisam de gerir uma vantagem confortável trazida de França (2-0) para ultrapassarem a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Gestão será, portanto, a “prova de ingresso” do Benfica no play-off, o último obstáculo entre os “encarnados” e a fase de Liga. Neste jogo não se pedirá à equipa de Bruno Lage um especial fulgor ofensivo, um risco táctico desmedido ou um desejo ardente e incontrolável pelo golo. Pede-se, por outro lado, capacidade de gerir: o jogo, a bola e o resultado. Se for possível com golos e vitória, perante uma Luz a salivar por futebol “a sério”, tanto melhor.

Qual é o sistema?

A base de análise para este jogo não é muito extensa: há a partida da primeira mão e pouco mais. O Benfica levou a esse jogo um 4x4x2 que não surpreendeu pelo gosto do treinador (que já mostrou apreço por esse sistema), mas sim pela aposta num desenho que ainda não tinha sido utilizado na pré-temporada – pelo menos nos jogos transmitidos.

O entrosamento entre Pavlidis e Ivanovic foi uma das boas notícias dessa noite e pode sugerir que o plano será repeti-lo – até porque se a ideia é manter o 4x4x2 então terem jogos juntos nas pernas será útil.

Mas Bruno Lage já mostrou na última temporada – e até na carreira de treinador – que gosta de ter a equipa dotada de ferramentas em vários sistemas e adequar o desenho táctico ao adversário e àquilo que o jogo pede.


Nesse sentido, não será estranho que o técnico transforme a equipa num 4x3x3 com mais um médio que permita guardar mais a bola, ter mais equilíbrio e correr menos riscos – ainda que Ivanovic e Aursnes tenham corrido por quatro no jogo em Nice.

Apesar das dificuldades sentidas em França na primeira parte, o Benfica acabou por encontrar soluções interessantes a nível ofensivo e, sobretudo, mostrar que é colectiva e individualmente superior aos gauleses. Nesse sentido, é possível que a necessidade de marcar golos seduza o Nice a ser mais ávido na procura da baliza adversária e, por extensão, que isso dê ao Benfica muito espaço para contra-ataques.

Essa possibilidade pode contrariar o tal regresso ao 4x3x3, já que ter Ivanovic e Pavlidis na frente, em constantes contra-movimentos, poderá ser um veneno letal para um Nice que exponha muito a sua defesa a transições e ataques ao espaço.

Há, portanto, bons argumentos para Lage escolher o 4x4x2 ou o 4x3x3 – e o técnico não abriu o jogo na antevisão da partida. Disse que o importante é crescer e melhorar e defendeu que “a eliminatória está longe de estar decidida”.

Quem é o ala?

Lage anunciou também que Akturkoglu já está disponível para ir a jogo, abrindo um duelo entre o turco e Schjelderup pelo lugar de extremo-esquerdo. Esta é uma das curiosidades que ainda envolve a equipa para as próximas semanas, já que um foi um titular indiscutível no ano passado, mas é apontado como transferível para a Turquia, enquanto o segundo, mais jovem, tem tido menos espaço, mas mostrado um potencial superior a Akturkoglu, sobretudo a nível técnico.


Akturkoglu tem dado à equipa verticalidade, trabalho sem bola e capacidade de aparecer em zonas de finalização – e, claro, de finalizar. Já Schjelderup é mais requintado a nível técnico, associa-se melhor com os colegas e tem o um contra um puro – e não tem, por outro lado, o trabalho sem bola do turco.

O que é que isto significa para este jogo? Nada. Tal como a escolha de sistema táctico, também aqui Lage poderá escolher em função da estratégia para o jogo. Pode optar por Akturkoglu para dar solidez, não correr riscos e tentar “matar” o jogo numa transição ou pode optar por Schjelderup caso pretenda mais capacidade de circular a bola, colocar “gelo” no jogo e servir os atacantes.

Bruno Lage parece ter, nesta fase, ideias e jogadores para dois planos distintos. Resta saber se isso confunde os adversários ou se nesta fase confunde também a própria equipa.