“Como mãe, não suporto ver o sofrimento destas crianças” em Gaza

Madonna faz pedido ao Papa: visite Gaza “antes que seja demasiado tarde”

por Christian Edwards Catherine Nicholls, CNN

 

Madonna deixou um apelo ao Papa Leão XIV para que visite Gaza numa missão humanitária que ajude as crianças palestinianas que estão a sofrer com a fome. “Já não resta muito tempo”, diz Madonna.

O pedido da superestrela americana, que tem uma educação católica romana, foi feito numa publicação do Instagram esta segunda-feira. Nela implora ao Papa que visite o enclave.

“Santo Padre. Por favor, vá a Gaza e leve a sua luz às crianças, antes que seja demasiado tarde demais. Como mãe, não suporto ver o sofrimento destas crianças. As crianças do mundo pertencem-nos a todos. Entre nós, o Senhor é o único a quem não se pode negar a entrada”.

Madonna justifica o pedido para que Leão XIV visite Gaza desta maneira: “a política não pode provocar mudança” mas a “consciência pode”.

A publicação foi feita no dia de aniversário de Rocco, filho de Madonna. A cantora explica que o melhor presente que podia dar ao filho seria “pedir a todos que façam o que estiver ao seu alcance para ajudar a salvar as crianças inocentes apanhadas no fogo cruzado em Gaza”.

A CNN contactou o Vaticano para obter um comentário.

Desde o início do seu pontificado, em maio, o Papa tem sido firme nas suas críticas à guerra iniciada por Israel em Gaza, manifestando com frequência a sua preocupação com os civis palestinianos que enfrentam os bombardeamentos israelitas.

“Acompanho com grande preocupação a terrível situação humanitária em Gaza, onde os civis sofrem de fome severa e permanecem expostos à violência e à morte”, disse em julho, apelando a um cessar-fogo.

Segundo a UNICEF, a agência das Nações Unidas para a infância, mais de 18 mil crianças foram mortas em Gaza desde o início da guerra em outubro de 2023.

Em média, são mortas 28 crianças por dia naquele local, informou a agência na semana passada.

Um bloqueio israelita à ajuda destinada ao enclave resultou naquilo a que a Organização Mundial da Saúde (OMS) chamoa “fome em massa provocada pelo Homem”.

Madonna clarificou que “não está a apontar dedos, a atribuir culpas ou a tomar partidos”.

“Estão todos a sofrer. Incluindo as mães dos reféns. Rezo para que também sejam libertados”, afirmou.

Uma das respostas à publicação de Madonna veio do diretor-geral da OMS: Tedros Adhanom Ghebreyesus agradece à cantora a “compaixão, a solidariedade e o empenho em cuidar de todos os afetados pela crise de Gaza, especialmente as crianças”.

“É algo extremamente necessário. A humanidade e a paz devem prevalecer”, acrescentou.


Palestinianos famintos em Gaza esperam por comida num ponto de distribuição de ajuda, a 10 de agosto de 2025 foto Khames Alrefi/Anadolu/Getty Images

Pelo menos 222 pessoas – incluindo 101 crianças – morreram de subnutrição desde o início da guerra, segundo o Ministério da Saúde palestiniano.

Ramesh Rajasingham, chefe do gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla inglesa), afirmou o seguinte numa reunião do Conselho de Segurança da ONU no passado domingo: “Esta já não é uma crise de fome iminente. É pura e simplesmente fome”.

Israel controla, com restrições, o fluxo de ajuda e de pessoal para o enclave.

Em julho, num episódio raro, Israel permitiu a visita de dois líderes religiosos, após ter atacado a única igreja católica de Gaza, matando três pessoas e ferindo muitas outras.

A igreja serviu de abrigo à pequena comunidade cristã de Gaza durante quase dois anos de guerra.

Desde então, a crise de fome em Gaza agravou-se, com as imagens de crianças com magreza extrema a ativarem os alertas a nível global.

“Precisamos que os portões humanitários estejam totalmente abertos para salvar estas crianças inocentes”, escreveu Madonna. E juntou: “Já não há tempo. Por favor, diga que vai”.

Não se sabe ao certo se o governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, concederia a entrada do Papa no enclave. Contudo, o apelo de Madonna sublinha a crescente condenação desta guerra, que se arrasta há 22 meses e que tem causado tensão entre Israel e os seus aliados.

Austrália, Canadá e França anunciaram planos para reconhecer um Estado palestiniano. O Reino Unido afirmou no mês passado que irá reconhecer um Estado palestiniano em setembro se Israel não cumprir um conjunto de critérios, que incluem a aceitação de um cessar-fogo em Gaza.

Os comentários de Madonna surgem numa altura em que um número crescente de artistas, incluindo Massive Attack, Brian Eno e, mais recentemente, U2, têm dado destaque à situação humanitária em Gaza.

Durante um espetáculo no final de 2023, Madonna criticou também os ataques liderados pelo Hamas, a 7 de outubro, contra Israel e a resposta militar israelita. Chamou-lhe “uma guerra de partir o coração”.