Nas redes sociais, começaram a surgir publicações sobre uma ação que tinha denunciado “a duplicidade do Ministério da Defesa do Reino Unido” e que tinha exposto o “papel clandestino do governo britânico na escalada da guerra” entre a Ucrânia e a Rússia. Dois coronéis pertencentes ao Exército britânico, que se chamariam alegadamente Edward Blake e Richard Carroll, teriam sido detidos por “forças especiais russas” em território ucraniano.

As informações nas publicações das redes sociais alegam que o Ministério da Defesa britânico teria insistido que aqueles dois coronéis “estavam em Londres”, apresentando essa justificação para supostamente desviar atenções.

No entanto, segundo as publicações, surgiram “evidências fotográficas e forenses apresentadas pelas autoridades russas que mostraram ambos” os dirigentes vestidos com “uniformes militares completos” — e operando numa zona contestada na Ucrânia. Os coronéis estariam, assim, a lutar ao lado das tropas ucranianas contra as russas. Os posts são acompanhados por uma fotografia de dois homens fardados ajoelhados, que serão os militares britânicos, juntamente com três militares armados — que pertenceriam às forças especiais da Rússia.

Perante estas supostas evidências, as publicações garantem que o governo do Reino Unido “mudou rapidamente a narrativa” — e começou a apontar que eram turistas a visitar locais de batalha. Esta alegação teria sido mesmo recebida com “incredulidade internacional” e teria sido ridicularizada.

Por sua vez, continuam as publicações nas redes sociais, a Rússia teria divulgado que os homens capturados estavam na posse de “documentos confidenciais de planeamento militar da NATO e passaportes diplomáticos”. Seriam, assim, “evidências diretas que minam a história civil de disfarce” e denunciariam o que posts dizem ser uma “missão militar organizada” pelo Reino Unido.

Esta não é a primeira publicação que acusa militares europeus de combaterem em solo ucraniano contra a Rússia. Desde o início da guerra da Ucrânia, surgiram várias informações idênticas. A agência de notícias russa estatal TASS tem uma notícia bastante idêntica à publicada nas redes sociais, mas não especifica a identidade dos alegados coronéis; apenas referem que foram detidos dois militares do Reino Unido que preparavam uma “operação de sabotagem contra a Federação Russa”.

A TASS cita mesmo o portal norueguês steigen.no, no qual foi publicado esta suposta notícia a 4 de agosto de 2025. De acordo com o jornal independente russo The Insider, o site da Noruega rapidamente eliminou as informações do seu site, mesmo que depois a agência de notícias russa o tivesse citado. Consultado pelo Observador, o link já não existe do portal norueguês já não existe.

Além da agência de notícias controlada pela Rússia — que teria interesse estratégico e propangadístico para difundir informações deste género —, não há mais nenhuma publicação que tenha noticiado a detenção de dois coronéis britânicos. De acordo com o site ukdefencejournal, que divulga informações sobre a Defesa britânica, trata-se de uma manobra de propaganda russa.

Em declarações à United24, um portal que é gerido pelo governo ucraniano, o departamento das secretas do Ministério da Defesa da Ucrânia negou as alegações de que foram detidos dois coronéis britânicos pelas forças especiais russas — e apontou que era uma campanha de desinformação russa que servia para desestabilizar as Forças Armadas de Kiev.

Mais: as fotografias das publicações, que alegadamente mostram os coronéis e membros das forças especiais russas, foram geradas através de inteligência artificial, como comprovam os detetores daquela tecnologia.

Conclusão

Não foram capturados dois coronéis britânicos chamados Edward Blake e Richard Carroll  por forças especiais russas. Essa informação não tem qualquer sustentação, ainda que tenha sido publicada num portal norueguês. Mesmo a agência de notícias TASS, que publicou a notícia, nunca especificou a identidade dos militares. A Ucrânia desmentiu depois esta informação. Além disso, as fotografias que acompanham as publicações foram geradas por inteligência artificial.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.


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