“Erro humano.” É este o diagnóstico da averiguação preliminar pedida pela Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) ao operador privado da Linha SNS 24 sobre o tratamento dado à chamada telefónica de uma grávida de 28 anos que acabou por ter o bebé na rua, esta segunda-feira, no Carregado.
A SPMS diz que houve um “um erro humano” na aplicação do algoritmo de triagem e no encaminhamento, levando a que a chamada telefónica não tivesse sido transferida para o INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica.
A mãe da jovem de 28 anos, grávida de 40 semanas, terá ligado para a Linha SNS 24 a pedir uma ambulância, mas recebeu a indicação para que fossem de carro para o hospital. Ligou depois para o 112, mas terão demorado a atender a chamada (terá sido atendida pelas 10h29). O parto acabou por acontecer na rua, com a ajuda dos pais, sendo que a jovem seria uma grávida de risco por não ter um rim.
De acordo com a SPMS, a responsabilidade é de um dos profissionais da linha, que não encaminhou a chamada para o INEM. “Auditado o sistema da Linha SNS 24, regista-se uma chamada da utente para a opção ‘Linha SNS Grávida’, às 10h16, de 11 de Agosto de 2025. A chamada foi atendida, por um enfermeiro, no espaço de 17 segundos. O processo de triagem durou cerca de quatro minutos, tendo a utente sido encaminhada para um Serviço de Urgência Obstétrico. Naquele momento, e para a área de abrangência geográfica, o prestador de saúde disponível no sistema de informação era o Hospital Beatriz Ângelo – Loures”, esclarece a SPMS em comunicado. Contudo, “existiu um erro humano na aplicação do algoritmo de triagem e no encaminhamento, levando a que a chamada não tivesse sido transferida para o INEM”, esclareceu a SPMS em comunicado.
Depois desta chamada, a mãe da grávida ainda terá tentado contactar directamente o INEM. O comandante dos bombeiros de Alenquer, Daniel Ribeiro, disse à Lusa que a corporação recebeu uma chamada do CODU, tendo saído uma ambulância para a ocorrência pelas 10h30 e chegado ao local pelas 10h38. Mas a essa hora o bebé já tinha nascido, na rua, uma situação que a Ordem dos Médicos já considerou ”inadmissível”, insistindo ser “fundamental perceber exactamente em que circunstâncias ocorreu”.
A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, também já solicitou à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) a abertura de um processo de inquérito a este caso.
“O procedimento foi já determinado pelo inspector-geral das Actividades em Saúde para investigar os factos relativos à assistência prestada pela Linha SNS 24 e pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), no momento da ocorrência, bem como à assistência prestada pela Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo à grávida”, refere o Ministério da Saúde em comunicado.
A mulher de 28 anos estava grávida de 40 semanas e cinco dias. Seria uma grávida de risco por não ter um rim, segundo a notícia avançada pelo Correio da Manhã na edição desta terça-feira. Tudo isto se passou perto da Junta de Freguesia do Carregado, numa zona residencial e de comércio. Aparentemente, a grávida estaria a tomar o pequeno-almoço numa pastelaria com os pais quando começou com dores e lhe rebentaram as águas, contou à Lusa uma moradora.
Em comunicado, a Ordem dos Médicos anunciou que pediu esclarecimentos ao Ministério da Saúde, à Direcção Executiva do SNS e ao INEM, com “o objectivo de apurar em detalhe as circunstâncias que conduziram a este desfecho e de avaliar eventuais falhas ou necessidades de melhoria no acesso e na capacidade de resposta da Linha SNS 24 e dos serviços de saúde”.
“Esta situação é inadmissível e é fundamental perceber exactamente em que circunstâncias ocorreu. O propósito da Ordem dos Médicos é garantir que, no futuro, situações semelhantes possam ser prevenidas”, afirmou o bastonário da Ordem dos Médicos, citado no comunicado. Carlos Cortes reforçou que “a segurança e a dignidade das pessoas, das grávidas e seus filhos têm de estar sempre em primeiro lugar”.