Na antevisão do Benfica-Nice escreveu-se nestas páginas que os “encarnados” teriam um exame de gestão como prova de ingresso na fase seguinte da Liga dos Campeões. Agora, depois do 2-0 desta terça-feira (4-o na eliminatória), podemos escrever que o Benfica passou com nota 20 – em rigor, extrapolou até os “conteúdos” que lhe eram exigidos nessa prova.

A equipa de Bruno Lage quis oferecer à Luz um jogo intenso, rápido, dinâmico e técnico, vencendo de forma clara uma equipa francesa impotente e, em alguns aspectos, impreparada. Já lá vamos.

Por agora, há a contar que o Benfica tem duelo marcado com o Fenerbahçe, de José Mourinho – dois jogos separam os “encarnados” da fase de liga da Champions.

Nice assustou e morreu

Este jogo começou com uma boa jogada do Nice, com António Silva a sair na pressão e Otamendi a ir inexplicavelmente ao mesmo jogador – algo comum no argentino e, neste caso, como noutros, ambos foram batidos e a equipa ficou descompensada. O Nice finalizou mal um lance que, aos dois minutos, poderia mudar o curso do jogo e da eliminatória.

Depois disto, só jogou o Benfica. A equipa de Bruno Lage mostrou uma boa variedade de soluções. Ora saía muito curto e atraía o Nice para depois bater longo na frente, ora criava superioridades numéricas no corredor esquerdo, ora fazia um dos avançados baixar em apoio entre linhas.

Um detalhe relevante é que o 3x5x2 do Nice estava claramente mal trabalhado na coordenação entre Clauss, o lateral/ala, e Mendy, o central do lado direito – discutiram muito durante a partida.

Aos 5’, o Benfica criou superioridade nessa zona, chamando Enzo para o três contra dois – bom passe vertical do argentino. Aos 18’, Dahl fez um movimento interior sem bola para dar uma solução à triangulação de Schjelderup e Ivanovic – das melhores jogadas do jogo. Pouco depois, chegou o golo – na zona de Mendy e Clauss, claro. Enzo enviou uma bola longa para Schjelderup, que aproveitou a descoordenação adversária – Mendy apontou para Clauss como que dizendo “este é teu”, mas Clauss não lhe passou cartão. Ninguém marcou o dinamarquês, que assistiu Aursnes para uma boa finalização – recepção e remate no centro da área.

Aos 27’, Dedic arrancou agressivamente no um contra um e comprometeu dois defensores – com isso, deixou Aursnes livre para devolver a cortesia do primeiro golo e fazer a assistência para a boa finalização de Schjelderup.

Enzo dominador

Não será injusto crer que estes dois golos não seriam possíveis com Florentino e Bah. No primeiro, Enzo teve uma qualidade tremenda num passe progressivo de longa distância que Florentino não faz. No segundo, Dedic teve o um contra um em drible que Bah também não oferece. E terá sido isto que Lage quis ao ir buscar um médio e um lateral com estas características. Enzo estava mesmo a tomar conta do jogo, com constantes passes verticais.

Quando o Nice pressionava, o Benfica batia longo – Enzo e Otamendi estavam a lançar bem as bolas e o Benfica criou várias situações de perigo em solicitações no espaço, algo que já se esperava que acontecesse pela necessidade do Nice em procurar o golo. E fica ainda mais difícil para os gauleses se a isso juntarmos a clara má preparação defensiva do 3x5x2.

A primeira parte acabou com 24-8 em duelos e 16-5 em duelos no chão, valores que também explicavam muita coisa – agressividade e intensidade muito maiores do Benfica.

Aursnes estava também muito bem no jogo, ocupando uma posição mais central do que tinha feito em Nice, possivelmente com Lage a procurar não deixar Enzo e Ríos contra três médios franceses.

O Benfica foi facilitando um pouco mais, com distracções mais frequentes e perdas de bola displicentes, mas aproveitou a perda de esperança do Nice para beneficiar de um jogo partido e com várias transições perigosas.

Nota final para a decisão de Bruno Lage – e provavelmente da direcção – em utilizar Akturkoglu. O ala é apontado ao Fenerbahçe e utilizá-lo neste jogo seria vedar a participação no play-off em caso de transferência para os turcos – mas a utilização também poderia hipotecar o negócio. A decisão tinha prós e contras, mas é garantido que não vai ser o “novo Zivkovic”, que em 2020 tirou a Champions ao Benfica dias depois de ser vendido ao PAOK.