Esta terça-feira, 12 de agosto, termina a “pausa” de 90 dias dada pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA) à China, com o objetivo de tentar um acordo comercial que envolva tarifas menos escandalosas do que a de 245% inicialmente acenada, à qual a China respondeu com uma ameaça de tarifa retaliatória na ordem de 125% sobre produtos norte-americanos.
É num cenário de total incerteza e parca informação (Washington e Pequim não têm praticamente dado atualizações sobre as negociações que têm decorrido), que na véspera, esta segunda-feira, o governo dos EUA fez saber que duas das maiores empresas norte-americanas (ambas fabricantes de semicondutores, designadamente chips para IA – inteligência artificial) – Nvidia, a maior empresa dos EUA, que acaba de ultrapassar um valor cotado de 4 biliões de euros, e a enorme AMD – vão partilhar 15% do que vierem a faturar no mercado chinês em troca de licenças para poderem exportar para a China, que é o mercado exterior mais importante para ambas as corporações americanas.
A notícia foi avançada, esta segunda-feira, pelo jornal The New York Times (NYT) e mais tarde confirmada por fonte oficial de uma das empresas, a Nvidia. E depois pela AMD.
De acordo com um levantamento feito pelo DN das contas publicadas pelas empresas, o novo dízimo e meio (15%) do governo de Trump pode permitir um encaixe extra de 3 mil milhões de euros (3,5 mil milhões de dólares) de uma assentada, basta que ambas as empresas repitam a faturação do ano passado no mercado chinês. É o preço das licenças do governo que permitem aos dois grupos privados fazerem negócio na maior economia asiática e, segundo alguns economistas, mundial.
A gigantesca Nvidia pagará assim 2,2 mil milhões de euros à administração Trump por conta da taxa de 15% que, como referido é, no fundo, o preço a pagar para poder exportar para a China. A AMD deve desembolsar 800 milhões de euros.
O mercado chinês é o mais importante para ambas e tem um peso na faturação global das duas empresas na ordem dos 13% e 24%, respetivamente.
Segundo o NYT, Jensen Huang, o presidente executivo (CEO) da Nvidia, concordou com as condições de Trump. Numa reunião em Washington, ficou assente que “o governo federal passa a ser um parceiro nos negócios da Nvidia na China”.
O encontro aconteceu na passada quarta-feira e a Nvidia obteve as primeiras licenças para exportar dois dias depois.
Fonte oficial da Nvidia diz que “seguimos as regras que o governo dos EUA estabelece para nossa participação nos mercados mundiais”.
“Há meses que não expedimos o nosso chip H20 para a China, mas agora esperamos que os controlos de exportação permitam que os Estados Unidos compitam na China e no mundo”. “Os Estados Unidos não podem repetir o que aconteceu com o 5G, que se traduziu na perda da liderança nas telecomunicações”.
Esta segunda-feira, foi a vez da AMD confirmar que também já lhe concederam as autorizações iniciais para vender no apetecível mercado chinês.
Em abril, a escalada comercial entre EUA e China chegou ao rubro com a ameaça das referidas tarifas de valor estratosférico, tendo Washington proibido logo a venda de chips ao gigante asiático, sendo que com isso faria danos à respetiva economia, que depende dessa tecnologia para desenvolver as suas próprias soluções na área da IA.
Na altura, Trump alegou “preocupações com segurança nacional”, mas que afinal se dissiparam com a tarifa interna de 15%, que ajuda a encher os cofres do Tesouro.
No mês passado, Nvidia e AMD revelaram que Washington ir permitir reatar as vendas dos chips H20 e MI308, usados no desenvolvimento de inteligência artificial e os quais têm uma forte procura do lado chinês.
Depois de meses de indefinição e de sofrimento para os acionistas (na sequência do “dia da libertação”, o das tarifas recíprocas de Trump, a cotação da Nvidia chegou a baixar para a casa dos 90 dólares), em julho, a empresa obteve fortes ganhos estando agora a cotar arma dos 182 dólares. É basicamente o dobro face a abril.
“Chamar essa medida de incomum ou sem precedentes é um eufemismo impressionante”, comentou à Bloomberg, Stephen Olson, um antigo negociador comercial dos EUA.
“Isto é, na prática, a monetização da política comercial dos Estados Unidos, em que as empresas americanas têm de pagar ao governo a permissão para exportar. Se é esse o caso, entramos num mundo novo e perigoso”, declarou o perito do Pacific Forum.
Entretanto, começaram a sair informações de que EUA e China podem prolongar negociações por mais três meses e outras antagónicas de que Trump quer punir a China com mais tarifas por esta comprar petróleo à Rússia (na senda do que está a fazer com a Índia).
Este domingo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, revelou que Trump estaria a equacionar “um novo adiamento de 90 dias” para dar tempo de elaborar os detalhes de um acordo que estabelece tarifas de 50% sobre a maioria dos produtos da China, incluindo taxas adicionais sobre produtos relacionados com o tráfico de fentanil.
Em entrevista à Fox News, o vice-presidente dos EUA, James David Vance, acenou que Trump está a pensar em impor tarifas adicionais sobre Pequim por causa da compra de petróleo russo, mas ainda “não tomou nenhuma decisão definitiva”.
Entretanto, uma nova ideia: Trump exige que a China quadruplique as compras de soja americana antes do final de 12 de agosto, o que para ele seria um sinal de aproximação de Pequim no âmbito de um acordo.