117,5 milhões de euros. Foi este o valor que o Manchester City pagou ao Aston Villa em 2021 pelo passe de Jack Grealish. O extremo tornou-se, então, na transferência mais cara da história dos cityzens, algo que ainda se regista na atualidade. Para além disso, passou a ser a terceira maior compra de um clube da Premier League, apenas batido por Philippe Coutinho (135 milhões) e Eden Hazard (120,8 milhões), embora entretanto tenha caído para o quinto lugar, por conta das entradas de Florian Wirtz (125 milhões) e Enzo Fernández (121 milhões). Os números não enganavam e a expectativa em tornou de Grealish era grande, mais ainda por se tratar de um atleta em crescimento e perto do pico de forma aos 25 anos.

Por entre as quatro temporadas de altos e baixos, o grande destaque apareceu em 2022/23, ano em que conquistou o famoso triplete (Liga dos Campeões, Premier League e Taça de Inglaterra), tendo participado em 50 jogos e somado cinco golos e 12 assistências. No último ano, Grealish foi uma das caras da época negativa do clube, tendo feito 32 golos, três golos e cinco assistências. Os números são bem mais penosos se tivermos em conta que o internacional inglês foi titular em apenas metade das partidas (16), tendo rubricado uma média de 47,5 minutos por jogo. Para além disso, só completou os 90 minutos em oito desafios e acabou por ser “riscado” por Pep Guardiola no final da época, não tendo estado no Mundial de Clubes. Agora, o seu futuro vai passar por um empréstimo ao Everton, onde tentará relançar a carreira.

Uma das últimas titularidades do camisola 10 aconteceu na Liga dos Campeões, na eliminatória do playoff de acesso aos oitavos de final, frente ao Real Madrid. Grealish foi aposta de Guardiola, mas acabou por sentir um desconforto muscular na primeira parte e foi substituído aos 29 minutos, saindo diretamente para os balneários. Nessa altura, o “problema” já estava praticamente sem solução à vista e, cerca de um mês antes, o treinador espanhol até tinha tecido uma mensagem pública a esse respeito. “O Savinho está em melhor forma e está melhor em tudo face ao Jack. Foi por isso que coloquei o Savinho a jogar. Se quero o Jack que ganhou o triplete? Sim, quero, mas tento ser honesto comigo mesmo sobre isso. Eles têm que lutar. Pode dizer que é injusto. Se pensa isso, tudo bem, mas tem de provar que vai lutar, todos os dias, todas as semanas e todos os meses”, partilhou Guardiola em janeiro.

Curiosamente, foi depois dessa crítica que se viu o melhor Grealish da última temporada, com o avançado a marcar o seu primeiro golo em mais de um ano frente ao Salford, na FA Cup, e ao PSG, regressando aos golos na Champions quatro anos depois. Há quem considere que não se deva comparar o Grealish do Man. City do Grealish do Aston Villa, por conta das diferentes tarefas que tem em campo. Foi este o caso de Theo Walcott que, em entrevista à BBC, disse ver “um jogador com um talento incrível que foi completamente destruído pelo treinador. Sinto que ele se afastou dos seus pontos”. “Ele só tem de seguir em frente. Isso acontece com toda a gente. Ele seria titular em praticamente todas as outras equipas da Premier League. Não faço ideia qual é o problema do Pep, mas ele deve muito ao Pep. Ele quer jogar e sabe o que fazer. Só precisa de continuar a trabalhar muito”, disse, por sua vez, Tim Sherwood, que lançou Grealish no emblema de Birmingham.

Para perceber a história descendente de Grealish é preciso recuar pouco mais de dois anos quando, em Istambul, os sky blues conquistaram pela primeira vez a Liga dos Campeões. O avançado era uma das figuras dessa equipa e até se destacou nos festejos, com a muita bebida e a falta de sono a colocarem Jack como uma dos principais destaques da festa. Apesar de isso ter agradado a alguns adeptos, não passou ao lado de Gareth Southgate, então selecionador de Inglaterra: “Existe uma linha”. “Não acho que seja uma coisa de festa. Nunca iria mentir sobre isso e dizer ‘sim, eu não bebo e não vou a festas’, porque eu faço-o… Apenas me divirto. Estou a viver o meu sonho de jogar pelo melhor clube do mundo, na minha opinião. Sabia o que estava a fazer, sou mesmo assim. Sou assim quando vou a festas normalmente”, disse Jack em resposta às críticas. Em 2021, o jogador já tinha sido alertado por, a par de Phil Foden, ter sido apanhado numa festa depois de um jogo.

No decorrer da temporada 2024/25, outro dado que saltou à vista foram as justificações extra-futebol de Grealish. “Tive momentos, nesta temporada, em que passei por dificuldades fora do campo — não me importo de dizer isso — e ele [Guardiola] esteve sempre ao meu lado. Também tive algumas coisas que aconteceram fora de campo. Às vezes, as pessoas de fora não percebem, pensam que só jogamos futebol e que somos robôs, mas também temos uma vida fora de campo. E, às vezes, é difícil lidar com isso”, referiu em duas conferências de imprensa. Segundo a imprensa inglesa, o assalto à sua casa em dezembro de 2023, com alguns familiares presentes, pode ser um desses motivos, já que Grealish descreveu o momento como “experiência traumática”. A partir daí, ficou de fora do Europeu de 2024, uma decisão que não viu de bom agrado.

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