O primeiro-ministro anunciou esta terça-feira que o Governo decidiu voltar a prolongar a situação de alerta em vigor no país devido ao elevado risco de incêndio, por um período de 48 horas, até às 23h59 de sexta-feira, 15 de Agosto.

Luís Montenegro manifestou solidariedade para com a população afectada pelos incêndios que têm lavrado no Norte e Centro do território continental, deixando também um agradecimento às forças de segurança, protecção civil e bombeiros que têm estado envolvidos no combate às chamas.

O chefe de Governo lembrou que o prolongamento da situação de alerta, justificado pela previsão de tempo quente e seco para os próximos dias, permite o reforço do dispositivo operacional no terreno, exige maior fiscalização e vigilância e continua a implicar restrições de acesso a áreas florestais, a proibição da utilização de fogo-de-artifício, da realização de queimadas e de trabalhos agrícolas com recurso a maquinaria.

“Esperemos que, esgotado este período, possamos aliviar estes condicionalismos e possamos retomar a nossa vida quotidiana e deixar de ter as imagens que, infelizmente, têm marcado os últimos dias”, acrescentou o primeiro-ministro, numa cerimónia em Faro.

O Presidente da República também garantiu estar a acompanhar a evolução da situação, apesar de estar em período de férias. Após uma conversa telefónica com o secretário de Estado da Protecção Civil, Marcelo Rebelo de Sousa disse que achou o governante “mais optimista com a evolução meteorológica e com a possibilidade de os maiores fogos conhecerem, finalmente, uma situação de mais duradouro controlo”.

Portugal pôde esta terça-feira voltar a contar com três aviões Canadair para o combate aos incêndios, depois de a Avincis, empresa responsável por operar estas aeronaves pesadas, ter substituído um dos três aviões que se encontram inoperacionais. Um segundo avião de substituição deverá chegar ao país nos próximos dias.

Os outros dois Canadair foram enviados por Marrocos, após um pedido de Portugal na segunda-feira, e realizaram esta terça-feira de manhã as primeiras missões aéreas. Ambos integram o Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Rurais até ao final desta semana.

Mais de 62.500 hectares de área ardida

Este ano, os incêndios rurais já consumiram mais de 62.500 hectares em Portugal, 50% em zonas de mato, 40% em povoamentos florestais e 10% em áreas agrícolas. O incêndio que lavra desde o passado sábado em Trancoso, no distrito da Guarda, é já o maior do ano. Segue-se o fogo que queimou perto de 7370 hectares em Arouca e Castelo de Paiva, no final de Julho; e o incêndio que começou no Lindoso, em Ponte da Barca, e consumiu 6941 hectares.





Segundo o presidente da Câmara Municipal de Trancoso, Amílcar Salvador, o fogo já atingiu 11 das 21 freguesias do concelho e consumiu perto de 12 mil hectares. Através da plataforma Copernicus, é possível confirmar que a área ardida até 11 de Agosto representava já mais de um quinto (22,3%) da área total do município.

Durante a tarde, este incêndio voltou a ameaçar a população, quando o vento empurrou as chamas na direcção da aldeia de Terrenho. Pelas 19h, de acordo com o comandante nacional de Protecção Civil, Mário Silvestre, a situação em Trancoso era “bastante estável”. “Temos uma frente activa onde o trabalho decorre de forma favorável”, afirmou, em conferência de imprensa.

Às 22h30, os esforços de combate às chamas mobilizavam 565 operacionais, apoiados por 194 veículos. Não há, até ao momento, registo de feridos graves ou vítimas mortais, nem de casas de primeira habitação ardidas.

Continuavam ainda a motivar preocupação os incêndios em Tabuaço, distrito de Viseu, e em Vila Real, onde as chamas lavram há dez dias. Sobre este fogo que tem serpenteado a serra do Alvão, Mário Silvestre disse que “o problema tem sido as constantes reactivações em zonas de muito difícil acesso”, cuja origem está a ser investigada pelas autoridades.

Um novo incêndio deflagrou pelas 16h40 numa zona de povoamento florestal da freguesia de Ermidas-Sado, em Santiago do Cacém, distrito de Setúbal. O fogo obrigou a cortar a circulação rodoviária em ambos os sentidos no Itinerário Complementar 1 (IC1), na zona de Vale da Eira.

Para já, a A2 ainda pode ser usada como alternativa, mas a Protecção Civil admite que possa vir a ser necessário cortar também a circulação na auto-estrada. Às 22h30, o incêndio mobilizava mais de 350 operacionais e 127 veículos.

À Lusa, o comandante sub-regional de Emergência e Protecção Civil do Alentejo Litoral explicou que o incêndio tem três frentes activas, que consomem áreas de eucaliptal, pinhal e mato. “Uma das três frentes vai em direcção ao concelho de Grândola, outra em direcção a Canhestros [concelho de Ferreira do Alentejo] e uma outra em direcção a Oeste, para Vale da Eira”, em Santiago do Cacém, detalhou Tiago Bugio.