Um vídeo divulgado esta sexta-feira pelo jornal britânico The Guardian, filmado secretamente por um jovem norte-americano, mostra as tácticas violentas que as autoridades dos Estados Unidos estão a usar para deter imigrantes em situação irregular.

O vídeo foi gravado no dia 2 de maio deste ano, quando Kenny Laynez-Ambrosio, de 18 anos de idade, um cidadão norte-americano de ascendência latino-americana, seguia numa carrinha juntamente com a sua mãe e dois amigos, no estado da Flórida. Laynes-Ambrosio dirigia-se para o local onde iria trabalhar em jardinagem.

A dada altura, a carrinha foi parada pela polícia numa operação STOP — que, muito rapidamente, se transformou numa violenta detenção. Assim que percebeu o que se estava a passar, o jovem começou a filmar secretamente com o seu telemóvel.

No início, é possível ouvir uma agente das autoridades de imigração dos EUA a perguntar, em espanhol, se alguém se encontrava ilegalmente no país. Quando um dos jovens admite que não tem documentos, o grupo de agentes tornou-se agressivo.

É possível ver um dos agentes a puxar um dos jovens para fora do carro, detendo-o com recurso a um estrangulamento.

Quando Laynes-Ambrosio, também agarrado pelos polícias, contesta a detenção violenta, gritando que é um cidadão norte-americano e que conhece os seus direitos, é possível ouvir um dos polícias a gritar: “Não tens direitos aqui. És um migo.”

Na confusão, gerada pela violência dos agentes — já que é possível perceber que os jovens nunca se agitam antes de serem detidos —, um dos jovens é atingido com um taser. “O meu amigo não fez nada antes de o agarrarem”, contou Laynez-Ambrosio ao The Guardian.

“Eu não estava muito preocupado comigo, porque sabia que ia sair da situação. Mas estava preocupado com ele. Podia falar por ele, mas não lutar, porque tornaria a situação pior”, explicou.

O vídeo continua, depois, já no interior do carro da polícia, onde os três jovens foram transportados sob custódia. É possível ouvir os agentes da polícia a rir-se, a gozar com os jovens e a gabar-se da força que usaram. “Já se consegue cheirar o bónus de 30 mil dólares”, diz um dos agentes.

“Eles estão a resistir mais agora”, ouve-se também. “Vamos acabar a ter de disparar sobre alguns.”

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O jovem norte-americano foi acusado de obstrução à ação policial e pelo vídeo que gravou — e foi condenado a 10 horas de serviço comunitário e a frequentar um curso de quatro horas de gestão da raiva. De acordo com Laynez-Ambrosio, quando esteve detido foi ameaçado pela polícia para apagar o vídeo do seu telemóvel, algo que recusou.

Laynez-Ambrosio está a ser apoiado por advogados da organização Guatemalan-Maya Center, que divulgou o vídeo ao jornal britânico. O advogado Jack Scarola, que representa o jovem, acusou o governo norte-americano de ter imposto “quotas para a detenção de imigrantes”, lembrando que “sempre que as forças policiais são compelidas a trabalhar rumo a uma quota, isso coloca um risco significativo para os direitos dos outros”.

A organização acusa a polícia estatal da Flórida de perder a confiança dos habitantes do estado com este tipo de ações, sobretudo depois de o governador da Flórida, Ron DeSantis, ter feito um acordo com o Departamento de Segurança Interna dos EUA para permitir que a polícia estadual de trânsito seja treinada pela polícia federal fronteiriça para efetuar estas detenções.