O Presidente norte-americano, Donald Trump, chegou à Escócia esta sexta-feira para jogar golfe e participar em discussões bilaterais que podem resultar num acordo comercial com a União Europeia, recusando responder a perguntas sobre a sua alegada ligação com Jeffrey Epstein, magnata acusado de tráfico sexual.
A viagem combina actividades políticas com interesses pessoais, incluindo a visita aos dois campos de golfe dos quais é proprietário, reuniões com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, que Trump disse ser uma “mulher altamente respeitada”.
Trump repetiu o comentário que já tinha feito antes sobre existir uma “possibilidade de 50%” de garantir um acordo com a UE. Seria o maior acordo comercial do seu Governo até agora, se fosse concretizado, disse. No entanto, admitiu que ainda havia “pontos de discórdia” com Bruxelas, “talvez sobre 20 coisas diferentes”.
Sobre a reunião com Starmer, o Presidente norte-americano disse tratar-se de uma celebração do acordo comercial já alcançado, mais do que uma continuação do trabalho. “É um óptimo acordo para ambos”, referiu. Antes de deixar Washington, Trump garantiu que estava a trabalhar arduamente num possível acordo comercial com a União Europeia, entidade que também está ansiosa por chegar a acordo, considerou. Von der Leyen admitiu mais tarde que se vai encontrar com Trump na Escócia no domingo.
Diplomatas europeus acreditam que um acordo poderia resultar numa tarifa de 15% sobre os produtos da UE, espelhando um acordo-quadro com o Japão alcançado esta semana, e metade dos 30% que Trump ameaça impor até 1 de Agosto.
Trump tem procurado reordenar a economia global após impor uma tarifa de 10% a quase todos os parceiros comerciais dos EUA em Abril e ameaçar com taxas significativamente mais altas para muitos países a partir da próxima semana. Afirma que as medidas reduzirão o défice comercial dos Estados Unidos e trarão receitas adicionais, mas economistas alertam que as novas políticas comerciais podem, em contrapartida, aumentar a inflação.
“Não falem sobre Trump”
A enfrentar a maior crise política interna do segundo mandato, o Presidente norte-americano expressou frustração com as perguntas contínuas sobre a forma como a Administração Trump lidou com os ficheiros da investigação relacionados com as acusações criminais de Epstein e com a sua morte, na prisão, em 2019.
“Estão a dar muita importância a algo que não é importante”, respondeu aos jornalistas na Escócia, pedindo-lhes que se concentrarem noutros norte-americanos com ligações a Epstein, como o ex-Presidente Bill Clinton.
“Falem sobre Clinton. Falem sobre o ex-presidente de Harvard. Falem sobre todos os seus amigos. Falem sobre os tipos dos fundos de investimento que estavam sempre com ele. Não falem sobre Trump”, contestou. “Vocês deviam estar a falar sobre o facto de termos os melhores seis meses da história de uma presidência”.
O tema Epstein causou uma ruptura com alguns dos apoiantes mais leais de Trump e a maioria dos norte-americanos e republicanos dizem acreditar que o Governo está a esconder detalhes sobre o caso, de acordo com uma sondagem da Reuters/Ipsos. Funcionários da Casa Branca esperam que a controvérsia desapareça enquanto Trump está no estrangeiro.
Aprofundar laços
Enquanto estiver na Escócia, Trump vai ficar alojado na sua propriedade em Turnberry, na costa oeste, antes de viajar na segunda-feira para um campo de golfe em Aberdeen. Lá vai inaugurar um segundo campo de 18 buracos baptizado Mary Anne MacLeod, em homenagem à sua mãe. MacLeod nasceu e foi criada numa ilha escocesa antes de emigrar para os Estados Unidos.
Ao deixar a Casa Branca, Trump mostrou-se ansioso para se encontrar com Starmer e com o líder escocês John Swinney, que apoiou publicamente a candidata democrata Kamala Harris nas eleições presidenciais norte-americanas de 2024.
O Presidente norte-americano foi recebido com protestos
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A viagem dá a Trump e Starmer a oportunidade de aprofundar os laços já cordiais, com questões-chave na agenda, incluindo o fim da guerra da Rússia na Ucrânia, apontam fontes britânicas e norte-americanas. A situação em Gaza também deverá ser abordada. Starmer disse na quinta-feira que faria uma chamada de emergência com França e Alemanha para falar sobre o sofrimento e fome “indescritíveis e indefensáveis” que estão a ser relatadas e pediu a Israel que permitisse a entrada de ajuda no enclave palestiniano.
Também é esperado que Starmer pressione para conseguir tarifas mais baixas sobre o aço, mas fontes próximas às negociações têm dúvidas de que seja possível algum avanço durante a visita de Trump.
Trump descreveu a Escócia como um “lugar muito especial”. Fez uma viagem semelhante em 2016, durante a campanha presidencial, mas desta vez não deverá ter uma recepção calorosa. Cerca de 70% dos escoceses têm uma opinião desfavorável de Trump, enquanto 18% têm uma opinião favorável, segundo um estudo da Ipsos realizada em Março. A polícia escocesa está inclusive a preparar-se para protestos no sábado em Aberdeen e em Edimburgo, a capital do país.
Trump regressará ao Reino Unido de 17 a 19 de Setembro para uma visita de Estado organizada pelo rei Carlos. Vai ser o primeiro líder mundial da era moderna a realizar duas visitas de Estado ao país. A rainha Isabel II recebeu Trump no Palácio de Buckingham para uma visita de Estado de três dias em Junho de 2019.