Pesquisadores anunciaram a descoberta de dentes fossilizados com aproximadamente 2,6 milhões de anos na Etiópia, que podem pertencer a um ancestral humano ainda desconhecido. Os dentes pertencem a um tipo de Australopithecus, que inclui o famoso fóssil conhecido como Lucy (A. afarensis), mas não se encaixam em nenhuma das espécies conhecidas desse gênero, conforme um estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira, 13.

A pesquisa também revelou a presença de dentes extremamente antigos do gênero Homo, que inclui os humanos modernos (Homo sapiens). Esses dentes podem ser da espécie de Homo mais antiga já registrada, que ainda não recebeu um nome oficial.

Segundo o portal Live Science, os achados indicam que, há 2,6 milhões de anos, pelo menos duas linhagens de hominídeos coexistiram na mesma região da Etiópia, conforme afirmaram os pesquisadores. As amostras foram encontradas no sítio arqueológico de Ledi-Geraru, uma área notável por descobertas anteriores significativas, como um maxilar datado em 2,8 milhões de anos, considerado o mais antigo espécime humano conhecido, e algumas das ferramentas de pedra mais antigas feitas por hominídeos.

Baseando-se em fósseis de animais herbívoros daquela época, os paleontólogos e arqueólogos sugerem que a região era uma planície aberta e árida, rica em recursos para Homo e Australopithecus. A arqueóloga Frances Forrest, da Universidade Fairfield em Connecticut, que não participou do estudo atual, comentou que as gramíneas e rios teriam fornecido água potável e alimento.

No entanto, a riqueza incomum do registro fóssil nessa área pode ser atribuída à excelente preservação dos restos devido a eventos vulcânicos, e não necessariamente à presença constante de hominídeos naquela localidade.

No novo estudo, os pesquisadores analisaram as camadas de cinzas vulcânicas acima e abaixo dos fósseis recém-descobertos para determinar suas idades. Dos 13 dentes encontrados, 10 têm cerca de 2,63 milhões de anos e pertencem a uma espécie não identificada de Australopithecus, que por ora está sendo chamada de Australopithecus Ledi-Geraru.

Pesquisas anteriores na região haviam encontrado restos de A. afarensis e Australopithecus garhi, mas os novos dentes apresentam características distintas. A co-autora do estudo, Kaye Reed, paleoecóloga da Universidade Estadual do Arizona, mencionou que os novos dentes não correspondem a nenhum desses grupos conhecidos.

Entretanto, o time de pesquisa ainda não oficializou a nova identificação da espécie devido à ausência de características anatômicas únicas. Segundo Forrest, novas espécies geralmente são definidas pela presença consistente de traços anatômicos que diferem daqueles já conhecidos.

Além disso, foram identificados dois dentes com 2,59 milhões de anos e um com 2,78 milhões pertencentes ao gênero Homo, que Reed acredita serem da mesma espécie do mais antigo espécime conhecido desse gênero — o maxilar encontrado em Ledi-Geraru — embora isso ainda não tenha sido confirmado.

As novas descobertas indicam que pelo menos três espécies de hominídeos habitavam a região da Etiópia antes dos 2,5 milhões de anos: as espécies do gênero Homo e Australopithecus dos quais os dentes pertencem, além de A. garhi. Durante o mesmo período, A. africanus habitava a África do Sul e o gênero Paranthropus se encontrava no que hoje é o Quênia, Tanzânia e sul da Etiópia.

Essa complexidade evolucionária dentro da família dos hominídeos é o motivo pelo qual a árvore evolutiva humana é considerada “arbustiva” ao invés de linear. John Hawks, antropólogo da Universidade do Wisconsin-Madison que não participou da pesquisa atual, destacou que nos últimos dez anos tornou-se evidente que durante grande parte da nossa história evolutiva existiram múltiplas espécies de parentes humanos ao mesmo tempo.

A equipe está atualmente analisando o esmalte dos dentes recém-descobertos para determinar suas dietas. Essa análise poderá esclarecer se essas espécies competiam pelos mesmos recursos alimentares.


Giovanna Gomes

Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.