O próprio ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, apresentou nesta quinta-feira o projecto de construir mais 3000 casas numa zona de colonatos chamada “E1”, com a sua consequência: “Enterra a ideia de um Estado palestiniano.”

A construção destas casas está suspensa há anos por pressão internacional pela enorme consequência que terá na Cisjordânia, dividindo o território numa parte norte e noutra sul, cortando assim a meio parte do território de um futuro Estado palestiniano (que também já não teria contiguidade territorial com a Faixa de Gaza). Iria ainda impedir a ligação de Jerusalém Oriental, a capital desejada de um futuro Estado, com o resto da Cisjordânia, incluindo com Ramallah, a sede actual da Autoridade Palestiniana.

“A aprovação dos planos de construção no E1 enterra a ideia de um Estado palestiniano e continua os muitos passos que estamos a dar no terreno para um plano de soberania de facto que começámos a concretizar com o estabelecimento do Governo”, disse Smotrich, o ministro das Finanças de extrema-direita, numa declaração citada pelo diário Times of Israel.

“Depois de décadas de pressão internacional e congelamentos, estamos a quebrar convenções e ligar Ma’aleh Adumin [o maior colonato da Cisjordânia em termos de extensão e um dos maiores em população] com Jerusalém”, congratulou-se Smotrich. “Isto é o sionismo no seu melhor — construir, colonizar e fortalecer a nossa soberania na Terra de Israel.”

A organização Peace Now considerou que o plano para a construção no E1 “é mortífera para o futuro de Israel”, que está “à beira do precipício”, com o Governo a “avançar para lá a grande velocidade”. A organização considera que a criação de um Estado palestiniano é “a solução para o conflito israelo-palestiniano e para a terrível guerra em Gaza”, que os planos de anexação afastam Israel desta solução e “garantem muito mais anos de derramamento de sangue”.

Os colonatos judaicos em território ocupado são considerados ilegais pelo direito internacional e mesmo por aliados de Israel. O Estado hebraico considera que estão em território disputado, lembra a agência Reuters.

“Sonho palestiniano” vs. “realidade judaica”

Smotrich dirigiu-se também à comunidade internacional: “Quem, pelo mundo, está a tentar reconhecer um Estado palestiniano vai ter a nossa resposta no terreno”, disse ainda, citado pelo Haaretz. “Não em documentos, não em decisões ou declarações, mas em factos. Factos de casas, bairros, estradas e famílias judaicas a construir as suas vidas.”


“Vão continuar a falar de um sonho palestiniano e nós vamos continuar a construir uma realidade judaica. Uma realidade que enterra a ideia de um Estado palestiniano, porque não há nada a reconhecer”, disse ainda o ministro.

Há cada vez mais países a anunciar que vão reconhecer um Estado palestiniano numa sessão nas Nações Unidas em Setembro nas últimas semanas, com França, Reino Unido e Austrália a fazerem um anúncio visto como improvável, especialmente no caso de britânicos e australianos.

Os países dizem que querem fazer pressão para a resolução através da diplomacia da guerra em Gaza e assegurar-se de que a janela de oportunidade para a criação de um Estado palestiniano, que vêem cada vez mais ameaçado, não se fecha.

O principal objectivo é pressionar Israel a acabar a guerra em Gaza, que ameaça tornar-se uma “guerra eterna”, com o plano de ocupar a Cidade de Gaza (Israel diz sempre apenas “tomar o controlo”, porque ocupação remete para o que acontece na Cisjordânia, uma ocupação que dura desde 1967 e foi recentemente considerada ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça).

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, referiu-se à pressão internacional sobre Israel dizendo que os países que quisessem ajudar os palestinianos de Gaza “deveriam abrir as suas portas” para os receber e não “dar sermões” a Israel.

Isto quando foram de novo noticiadas tentativas de Israel encontrar países que recebessem palestinianos da Faixa de Gaza, num potencial crime contra a humidade de deslocação forçada ou deportação.