Num cenário oposto ao que se vive em grande parte do mundo desenvolvido, o Japão está a enfrentar uma crise imobiliária inversa, marcada por uma crescente abundância de casas vazias e uma queda acentuada nos preços das habitações.
Com a população em rápido envelhecimento e em constante declínio, estima-se que 13,8% das residências estejam desocupadas no início de 2025 — o equivalente a cerca de 9 milhões de imóveis, segundo dados do governo japonês.
Especialistas alertam que esta tendência está a transformar bairros inteiros em zonas fantasma, agravando a degradação urbana, especialmente nas zonas rurais e em algumas áreas da capital, Tóquio, revela o ‘elEconomista’. O Instituto de Pesquisa Nomura antecipa que, até 2033, mais de 30% das propriedades residenciais no Japão estarão desocupadas.
O fenómeno está diretamente ligado a fatores demográficos. Desde 2010, o Japão perdeu quase 4 milhões de habitantes. Em 2023, o país contava com 124 milhões de residentes — menos do que há 12 anos — e quase 30% da população tem mais de 65 anos. Por contraste, nasceram apenas 799 mil bebés em 2023, o número mais baixo desde que há registos.
A crise atual tem raízes profundas. Nos anos 1980, o Japão viveu uma bolha especulativa impulsionada por crédito fácil e políticas monetárias expansionistas. O colapso da bolha no início da década de 1990 levou a décadas de estagnação e deflação, conhecidas como a “década perdida”. Trinta anos depois, o país ainda não recuperou completamente. As habitações japonesas continuam, em média, 25% mais baratas do que há 35 anos.
Casas desocupadas, conhecidas localmente como akiya, multiplicam-se, sobretudo em zonas rurais, mas também começam a surgir em áreas urbanas. Os herdeiros das propriedades — frequentemente ausentes ou desinteressados — deixam-nas ao abandono. A manutenção ou demolição acarreta poucos custos, e a baixa procura dificulta qualquer perspetiva de venda. Algumas destas casas chegam a ser colocadas no mercado por apenas 10 mil dólares.
A proliferação de imóveis vazios está a gerar um efeito negativo nos bairros vizinhos. Segundo o Consórcio Akiya do Japão, estima-se que os preços dos imóveis nas imediações das casas abandonadas tenham caído o equivalente a 3,9 biliões de ienes (cerca de 24,7 mil milhões de dólares) entre 2018 e 2023.
O governo japonês já implementou várias medidas para tentar conter o problema, incluindo subsídios para demolições, incentivos fiscais, uma plataforma online gratuita para anunciar casas desocupadas e o envolvimento de empresas privadas na reconversão dos imóveis para fins comerciais ou turísticos. Ainda assim, os especialistas consideram que o fenómeno poderá agravar-se, à medida que a população continua a encolher e a envelhecer.