Cientistas anunciaram a descoberta de uma antiga espécie de baleia chamada Janjucetus dullardi, que habitou as águas australianas há aproximadamente 26 milhões de anos. Com olhos grandes e dentes afiados, essa criatura intrigante apresenta um aspecto “fofo”, mas era um predador eficaz.

O J. dullardi representa uma das linhagens mais antigas conhecidas que precedem as baleias de filtragem com barbatana, como a imponente baleia azul (Balaenoptera musculus). Contudo, essa nova espécie era significativamente menor do que seus descendentes contemporâneos, apresentando um corpo compacto que favorecia a agilidade.

A identificação dessa nova espécie ocorreu a partir de fragmentos de crânio encontrados na costa do sudeste da Austrália. O espécime em questão era um jovem de cerca de 2,1 metros de comprimento, conforme descrito em um estudo publicado na última terça-feira, 12, no Zoological Journal of the Linnean Society.

De acordo com Ruairidh Duncan, autor principal da pesquisa e estudante de doutorado em paleontologia no Museums Victoria Research Institute e na Monash University, o J. dullardi pode ser descrito como “essencialmente uma pequena baleia com grandes olhos e uma boca cheia de dentes afiados e cortantes”. Ele complementa, segundo o portal Live Science: “Imagine a versão semelhante a um tubarão de uma baleia de barbatana — pequena e deceptivamente fofa, mas definitivamente não inofensiva.”

Este cetáceo pertencia à família dos mammalodontids, que viveram em águas rasas e quentes ao largo da Austrália e da Nova Zelândia durante o Período Oligoceno (33,9 milhões a 23 milhões de anos atrás). Essa época é relativamente próxima da transição evolutiva em que os ancestrais das baleias modernas retornaram ao ambiente marinho há cerca de 50 milhões de anos.

A descoberta dos fósseis do J. dullardi foi feita por Ross Dullard, um diretor escolar que encontrou os restos enquanto caminhava pela praia de Half Moon Bay, próximo a Melbourne, em 2019. Os fósseis estavam expostos na base de uma formação rochosa erodida pelas ondas — parte da formação geológica conhecida como Jan Juc Marl, datada entre 24 milhões e 28 milhões de anos. Após a descoberta, Dullard fez a doação dos fósseis ao Museums Victoria.

Erich Fitzgerald, autor sênior do estudo e curador sênior de paleontologia vertebrada no Museums Victoria Research Institute, enfatizou a importância da participação pública em descobertas científicas: “Esse tipo de descoberta pública e seu relato ao museu são vitais. A descoberta de Ross desbloqueou um capítulo inteiro da evolução das baleias que nunca havíamos visto antes. É um lembrete de que fósseis que mudam o mundo podem ser encontrados no seu próprio quintal.”

Os pesquisadores utilizaram fotografia, microtomografia computadorizada e outras técnicas para realizar uma análise detalhada dos fósseis, incluindo dentes preservados e estruturas do ouvido interno. A equipe concluiu que o J. dullardi era uma espécie até então desconhecida de mammalodontid e homenageou Dullard ao escolher seu nome. Um dos indícios que apontavam para a juventude da baleia foi a falta de desgaste nos dentes.

A região sudeste da Austrália tem se destacado como um importante local para fósseis antigos de baleias; duas outras espécies de mammalodontids já foram recuperadas da formação Jan Juc Marl. Os pesquisadores continuam realizando escavações na área e esperam novas descobertas nos próximos anos.

Fitzgerald concluiu: “Esta região já foi um berço para algumas das baleias mais incomuns da história, e estamos apenas começando a desvendar suas histórias.”


Giovanna Gomes

Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.