A manhã ainda não vai a meio mas o movimento no mercado de Alvalade denuncia o mês de agosto. Os clientes são escassos até para as poucas bancas que não estão fechadas para férias. Nas que restam, os pêssegos e as nectarinas da época alinham-se junto às mangas e abacaxis vindos de longe. A impressão de Delfina Silva, vendedora de frutas e hortaliças, condiz com os números que o Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou esta semana: “está tudo mais caro. Muitas coisas ao dobro do preço”. É o caso, precisamente, dos pêssegos e nectarinas, exemplifica. Mas também dos kiwis ou dos alperces. Afinal, porque é que o preço da fruta está a aumentar?
“Não preciso de tirar um curso para saber o que se passa com o preço da fruta. Já viu como está o mundo?”, atira Delfina Silva. A pergunta é retórica mas resume de forma simplificada a subida de 10,05% do preço da fruta registada em julho face ao mesmo mês do ano passado. “Não há uma razão única, há várias. E ainda há motivos que nós desconhecemos”, começa por descortinar Domingos Santos, presidente da Associação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP).
“Após a invasão da Ucrânia, tivemos um aumento da inflação brutal de todos os produtos alimentares. Num ano, os fatores de produção aumentaram à volta de 34% e os preços no produtor só aumentaram 11%. Houve aqui 23 pontos que foram absorvidos pelos produtores. Claro que alguns entraram no vermelho e, a pouco e pouco, os preços têm vindo a equilibrar-se”, explica o também presidente da Frutoeste.
Além disso, continua, pesa também o facto de estarmos num ano de contra-safra para algumas culturas. “Há anos em que se produz mais, outros em que se produz menos”. É o caso do limão, como é possível verificar nas bancas do mercado de Alvalade. “Deu um salto… não me lembro de ver o limão tão caro. Vendem-nos a nós a 2,30 euros o quilo, nós estamos a vender a 2,97. Deu um pulo… como nunca se viu”, conta ao Observador o comerciante Sadik Mohamed.
A razão está nas árvores. “No ano passado houve uma super produção de limão no hemisfério norte. Em Portugal, Espanha, Itália… Este ano as árvores tiveram muito menos produção. Estamos a importar limão. Da África do Sul, da Argentina. Claro que é sempre mais caro”, aponta o presidente da ANOP.
A importação de muitos produtos é outro dos fatores apontados por produtores, distribuidores e comerciantes para o aumento dos preços. “Hoje o consumidor quer a mesma fruta todo o ano, quase não há fruta de época. Há melão o ano inteiro, uvas, morangos… E esses movimentos acabam por ter efeito nos preços também”, diz Domingos Santos.