O legado que continua a atravessar gerações e a diversidade marcou, esta quinta-feira, o Desfile da Mordomia da romaria de Nossa Senhora d”Agonia. No primeiro grande número das festas de Viana do Castelo participaram mais de mil mulheres trajadas com os diversos trajes tradicionais, formando, mais uma vez, um colorido que invadiu as principais ruas da cidade. Foi uma das maiores participações de sempre e o sentimento comum de desfilar como mordoma atravessou gerações, proveniências, estratos sociais e profissões. O traje, o ouro e o orgulho de os exibir falaram, como sempre, mais alto.
“Sou eu que vou, é a minha cara, o meu corpo, mas vou a representar todas as avós e bisavós da minha época. Era este o traje que elas usavam para ser mordomas da festa, depois para casarem e, depois, era o traje de cerimónia quando iam a casamentos, batizados ou quando os filhos, que estavam fora, vinham à aldeia, para ir à missa. Represento-as a todas: à minha avó, à minha bisavó, às minhas tias avós e a todas”, disse Rosalina Viana, de 82 anos, que, este ano, voltou a desfilar envergando o traje, uma réplica dos que usavam as suas antepassadas. “É um privilégio ainda conseguir vir”, comentou, abraçando uma sobrinha-neta que também já participa no desfile.
Leia também
“100 milhões de euros” de ouro e trajes nas ruas de Viana do Castelo
Inês Fofana, de 14 anos, atriz e filha de guineenses, nasceu em Viana do Castelo, vive em Lisboa e desfilou pela primeira vez. “Participo no cortejo desde pequenina, vim com a minha prima e isto já está na minha família há várias gerações”, disse.
Inês Fofana
Foto: Artur Machado
E a prima Renata Guisantes, de 39 anos, tatuadora, que já foi mordoma do cartaz da romaria em 2021, destacou “a diversidade” de mulheres que participam na Mordomia e o “orgulho” de todas. “É uma coisa difícil de explicar. Nós chamamos-lhe chieira para conseguirmos dar nome ao sentimento. Para mim é algo muito mágico”, resumiu. “O que tenho visto ao longo dos anos é diversidade. A minha prima é uma mulatinha linda, é de Viana, é vianense, e eu sou tatuadora. Somos todas bem acolhidas”, garantiu.
Georgina Marques é natural de Torres Vedras, mas reside, desde 1990, em Viana do Castelo. Começou a desfilar em 1991. “Gostei tanto do sentimento de vestir os trajes daqui, acho que me fez sentir mais vianense, que, a partir daí, comecei a participar em todas as mordomias e nos cortejos, e transmiti isso para as minhas filhas”, descreveu, lembrando que, em 2006, desfilou grávida da filha Beatriz Ramalhete, agora com 18 anos e que, este ano, participou, mais uma vez, no Desfile da Mordomia.
Manuel Vitorino, presidente da VianaFestas, exaltou o “esforço organizativo” do evento, que agrega “voluntários, mulheres que participam, famílias, grupos folclóricos, juntas de freguesia, bandas filarmónicas e toda a comunidade”. “São o sentido melhor daquilo que podemos ter numa festa, que é uma identidade partilhada, valores assentes naquilo que são preservação de tradições, uma entidade vincada da cultura vianense, na sua diversidade, os diferentes trajes da Ribeira Lima, a Carreça e Serra de Arga”, frisou.
Fotos: Artur Machado