Investigadores envolvidos num estudo pioneiro desenvolveram uma nova técnica para colocar dispositivos científicos em baleias, substituindo os tradicionais bastões manuais por drones de corrida equipados com ventosas. Esta abordagem inovadora promete transformar a forma como se recolhe informação sobre estes gigantes dos oceanos.
Durante décadas, os cientistas têm dependido de dispositivos de recolha de dados — conhecidos como tags — aplicados diretamente nas costas das baleias para estudar o seu comportamento, mergulhos, batimentos cardíacos e até a forma como comunicam. Até agora, a colocação destes dispositivos exigia que uma embarcação se aproximasse cuidadosamente do animal, permitindo a aplicação manual do tag com um bastão longo. Este processo, além de demorado, podia causar perturbações nos animais e exigia uma coordenação complexa.
A: Procurar baleias. B: Lançar o drone do barco. C: Alinhar o drone atrás da baleia antes da implantação da etiqueta. D: Implantação da etiqueta na baleia via “tap-and-go”. E: Retorno do drone ao barco. F: Gravação de dados na baleia. G: Recuperação da etiqueta. H: Descarga de dados e recondicionamento da etiqueta para a próxima implantação. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0328037.g005
Agora, uma equipa internacional de investigadores testou uma alternativa surpreendente: a utilização de drones, operados por controlo remoto, adaptados para ambientes marinhos. Estes drones, normalmente usados em competições de velocidade e acrobacias, foram modificados para transportar e aplicar os tags diretamente nas costas das baleias — tudo isto sem necessidade de um barco se aproximar.
Uma abordagem “tocar e fugir”
O método, apelidado de “tap-and-go”, demonstrou-se eficaz em testes com cachalotes (espécie Physeter macrocephalus) ao largo da ilha de Dominica, nas Caraíbas. Os drones, lançados a partir de embarcações a centenas de metros de distância, localizam os animais com o apoio de uma câmara de visão em primeira pessoa (FPV), posicionam-se sobre as costas das baleias e aplicam o tag com precisão.
“O processo completo — desde a deteção do animal à aplicação do dispositivo e regresso do drone — levou menos de sete minutos, com uma média de apenas 1 minuto e 15 segundos para a aplicação propriamente dita”, descrevem os autores do estudo.
Além disso, o sucesso do método foi considerável: 55% das tentativas resultaram na colocação bem-sucedida dos dispositivos, que permaneceram nas baleias durante pelo menos um mergulho.
Menos intrusivo, mais eficiente
O local ideal de implantação é entre a barbatana dorsal e o orifício respiratório, com preferência para a frente, para ficar mais próximo do órgão do espermacete, explica o estudo. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0328037.g006
Um dos principais benefícios desta técnica é a sua menor intrusividade. A presença de barcos junto aos cetáceos pode alterar o seu comportamento devido ao ruído e à proximidade não habitual. Com os drones, a necessidade de aproximação direta desaparece, permitindo intervenções mais suaves e rápidas.
Adicionalmente, os drones conseguem operar em condições em que o método tradicional falha — por exemplo, em mar agitado ou quando os animais surgem à superfície apenas durante breves instantes. A agilidade dos drones permite aproveitar estas janelas curtas com mais eficácia.
Desafios e futuro
Apesar do sucesso, a técnica não está isenta de limitações. Condições meteorológicas adversas, como ventos fortes e ondas elevadas, dificultam a precisão do voo e a aplicação do dispositivo. A água acumulada nas costas dos animais também pode impedir a aderência das ventosas.
Outro obstáculo é a exigência técnica: os drones utilizados requerem pilotos experientes, dado que operam em modo manual e não possuem sistemas automáticos de estabilização, ao contrário dos drones comerciais mais comuns. Ainda assim, os investigadores acreditam que simuladores de voo e treino específico podem ajudar a ultrapassar esta barreira.
Para o futuro, os cientistas já estão a trabalhar na automação do processo — desde a deteção do animal até à aplicação do tag com a pressão ideal e na posição anatómica correta. O objetivo? Tornar o sistema ainda mais preciso e acessível.
A: Lançamento do drone do barco. B: Alinhamento do drone atrás da baleia. C: Passagem pela barbatana dorsal e sincronização com as ondas a quebrar sobre a baleia. D: Descida e aderência da etiqueta à baleia. E: Verificação pós-implantação de que a etiqueta está presa na baleia. F: Retorno ao barco.
Um avanço ao serviço da ciência
Este avanço é particularmente importante para projetos como o CETI (Iniciativa de Tradução de Cetáceos), que visa decifrar a comunicação dos cachalotes. Com mais dados recolhidos de forma eficiente e não intrusiva, a esperança é que possamos compreender melhor como estas criaturas se relacionam, mergulham, comunicam e vivem.
Com um custo estimado de cerca de 1300 dólares por drone, esta tecnologia representa também uma solução económica e acessível para equipas de investigação em todo o mundo.
A ciência dos oceanos acaba de ganhar uma nova ferramenta — mais rápida, mais discreta e com potencial para revolucionar a nossa relação com os seres que habitam as profundezas do mar.