É uma anemia normocítica, chamada desse jeito porque os glóbulos vermelhos, apesar de menos numerosos, mantêm seu tamanho normal, em vez de encolherem — o que aconteceria na carência de ferro — ou de se mostrarem maiores devido a um déficit vitamínico. Se for mieloma múltiplo, a população desses glóbulos só estará menor por falta de espaço para se desenvolverem dentro da medula óssea.
“Outra alteração é a da creatinina”, explica a doutora Erica. A substância indica como andam os rins — e eles podem estar pra lá de sobrecarregados, se o mieloma múltiplo, ao ser flagrado, já avançou. “Nessa doença, as células malignas estão produzindo uma montanha de anticorpos e, como os rins filtram o sangue, eles acabam se depositando ali”, justifica a hematologista.
Não é só isso: as células doentes ocupam um espaço cada vez maior dentro dos ossos, destruindo-os para liberar mais lugar. Com isso, um bocado de cálcio é liberado na circulação, algo que o exame de sangue é capaz de denunciar. O risco é o mineral entupir os rins — ameaça que é dedurada, mais uma vez, pela dosagem da creatinina.
“Embora menos frequente, também pode ocorrer a formação de espuma na urina, indicando que o organismo está perdendo proteína”, acrescenta a doutora.
Um terceiro exame é a eletroforese de proteínas no sangue. Apesar do nome pomposo, ele é barato e oferecido na rede pública. “A gente coloca o soro sanguíneo em uma placa com um gel. Conforme a carga elétrica, então, as proteínas presentes ali irão se deslocar”, descreve a médica que, um dia, quis pesquisar vacinas. Após experimentar essa área, viu que gostava mesmo era de lidar com pacientes e optou por cuidar dos cânceres hematológicos, cujo tratamento depende dos conhecimentos que ela já tinha acumulado sobre o sistema imune.
Normalmente, na eletroforese, os anticorpos não ficam no mesmo lugar e desenham uma espécie de morro achatado na placa observada pelo microscópio. No mieloma múltiplo, porém, esses anticorpos se juntam e formam um pico bem nítido.