O Festival de Toronto (TIFF), através do seu director Cameron Bailey, clarifica a sua posição — nas suas palavras: repõe a verdade — sobre a (não) inclusão do documentário The Road Between Us: The Ultimate Rescue, do canadiano Barry Avrich, na edição de 2025, que decorrerá de 4 a 14 de Setembro.

Numa história publicada na terça-feira, o site norte-americano Deadline noticiava que este documentário sobre gestos de heroísmo, os do general israelita na reserva Noam Tibon que salvou membros da sua família, incluindo duas netas, do cerco do grupo Hamas à sua casa no dia 7 de Outubro de 2023, e que ainda resgatou espectadores do festival de música atacado pelos terroristas, fora retirado do programa por não obedecer às exigências colocadas quando o filme foi convidado. Entre as quais, o apuramento dos direitos legais do material de arquivo usado, fundamentalmente as imagens dos massacres filmadas pelo próprios terroristas.

A notícia foi escrita como foi interpretada, nomeadamente pela comunidade judaica: que se tratava do apagar de uma história de sobrevivência aos piores ataques a cidadãos judeus desde o Holocausto, e que isso constituiria uma narrativa actual, a de que umas vítimas são mais importantes do que outras. E mais: que não fazia sentido estar a fazer depender a aceitação do filme da autorização, e do reconhecimento, pelos terroristas de que as imagens eram da sua autoria, algo que nunca concederiam.




Cameron Bailey: o TIFF eforçar-se-á por ser sempre um festival seguro e inclusivo
Jeremy Chan/Getty Images

Segurança e inclusão

A equipa do filme respondeu imediatamente. A Variety publicou a sua declaração sobre um “venerável festival de cinema que contrariou a sua própria missão e censurou o seu gesto de programação”. Quem realiza The Road Between Us não é um grupo de “políticos”, nem de “activistas”, acrescentam, mas de “contadores de histórias”. São os espectadores, defendem, que devem escolher o que querem ver, não os festivais por eles, e “decidir o que pensam” sobre o filme.

Entrou então em acção Cameron Bailey. Na quarta-feira, também à Variety, o director do TIFF afirmou que eram “inequivocamente falsas” as alegações de censura. Reconhece a tensão e as preocupações que a questão, “para a qual são necessárias compaixão e sensibilidade”, estão a despertar “entre os membros da comunidade judaica e mais além”. Pede desculpa pela dor que com isso pode estar a causar. Mas reforça que a sua intenção sempre foi a de programar The Road Between Us: The Ultimate Rescue, e por isso, aliás, é que convidou o filme a estar presente no festival. Está mesmo determinado “a trabalhar” com a equipa de produção e de realização para serem consideradas “todas as opções possíveis” no sentido de se reunirem as condições de exibição.

Tais salvaguardas, argumenta, permitirão ao TIFF mitigar e antecipar os riscos inerentes a uma sessão com “um filme de matéria altamente sensível e um potencial de ameaça de distúrbios significativo”.

O ponto é este para Cameron: “Os acontecimentos de 7 de Outubro de 2023 e o actual sofrimento em Gaza” são uma pesada responsabilidade para o festival “que torna mais necessária a compaixão no meio dos crescentes [sentimentos de] anti-semitismo e islamofobia”. Não sendo o TIFF uma organização política, “esforçar-se-á sempre para apresentar a sua programação num ambiente seguro e inclusivo”.