O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aproveitou um telefonema com o ministro das Finanças da Noruega, Jens Stoltenberg, para discutir tarifas, no mês passado, para dizer que gostaria de ganhar o prémio Nobel da Paz, segundo o jornal Dagens Naeringsliv.
A notícia foi publicada na quinta-feira, um dia antes da reunião de Trump como seu homólogo russo, Vladimir Putin, que o Presidente dos EUA verá como mais uma oportunidade para avançar para um potencial acordo que ponha fim à guerra na Ucrânia mas que é visto com muita apreensão pela Ucrânia e seus aliados europeus.
A estação de televisão norte-americana NBC comentava que em vésperas da cimeira, o Nobel da Paz parecia ser uma das questões mais presentes no círculo de Trump. A emissora indicou ainda que Trump fez publicações na sua rede social sobre o Nobel da paz sete vezes desde que iniciou o seu mandato actual, seis delas em Junho e Julho.
As nomeações para as candidaturas ao Nobel da Paz terminaram no dia 31 de Janeiro, sublinhava a agência Reuters já em Julho, querendo dizer que as indicações feitas após essa data já não serão consideradas para este ano (como a de Benjamin Netanyahu).
De qualquer modo, Trump poderia já ter sido indicado por outras personalidades que podem fazer nomeações, que incluem além de representantes políticos de nível nacional, antigos laureados, e membros do comité Nobel, entre outros (mas não é permitida uma autonomeação).
Este ano, segundo o site do Nobel, há 338 candidaturas, das quais 244 são pessoas individuais e outras 94 são organizações. São mais do que em anos anteriores, embora não tenham ultrapassado o recorde de 376 candidaturas, em 2016. As nomeações só são tornadas públicas pelo comité Nobel 50 anos depois. As nomeações que vão sendo tornadas públicas (não só de Trump, a relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, foi outra nomeada) são-no por vontade dos promotores.
O facto de um nome surgir como nomeado não tem correspondência com as suas hipóteses de ser laureado. Trump já foi nomeado noutros anos.
Depois das nomeações, é feita uma shortlist de candidaturas, em geral entre 20 e 30, e analisadas por uma equipa de conselheiros, na maioria pessoas da academia com conhecimento nas áreas relevantes.
O nome de Trump não apareceu na lista do director do Peace Research Institute Oslo (PRIO), feita desde 2002, que em vários anos incluiu laureados na shortlist feita antes do anúncio do prémio.
O prémio “não é algo para o qual se faça campanha”, sublinhou um diplomata à NBC. “É uma decisão tomada por pessoas que são independentes e têm o seu ponto de vista.”
A decisão final é tomada pelo comité formado por cinco pessoas, nomeadas pelo parlamento da Noruega. O actual comité é liderado pelo responsável para a Noruega do grupo de defesa da liberdade de expressão PEN International, o escritor Arne Svingen.
Tenta-se que haja consenso entre os cinco elementos, mas já houve escolhas por maioria, algumas contra oposição forte de alguns dos elementos: um demitiu-se em 1994, quando o líder palestiniano Yasser Arafat foi laureado junto com os israelitas Yitzhak Rabin e Shimon Peres, e dois demitiram-se em 1973, quando o Nobel foi atribuído a Henry Kissinger e Le Duc Tho (o vietnamita recusou-se a receber o prémio que foi cunhado pelo New York Times como “o Nobel da Guerra”).
Os critérios não são apenas conseguir acordos de paz, mas também premiar quem tenha feito trabalho “para a fraternidade entre nações”. Se aliados de Trump dão como exemplos acordos entre a Arménia e o Azerbaijão, Camboja e Tailândia, Ruanda e República Democrática do Congo, parte da agenda internacional de Trump está longe da ideia de fraternidade: “O desejo de Trump vencer o Nobel da Paz tornou-se uma piada em capitais estrangeiras”, comentou um antigo diplomata britânico citado na NBC. “As suas reivindicações sobre o Canadá, Panamá, Gronelândia, etc, assim como as guerras das tarifas e os ataques às instituições democráticas americanas, inclinam os governos na direcção oposta.”
A imprevisibilidade de Trump faz também com que um dia um país que o nomeie o acuse de violar o direito internacional no outro: foi o caso do Paquistão, que indicou que iria nomear Trump para o prémio na véspera do ataque dos EUA às instalações nucleares do Irão, que Islamabad criticou duramente e descreveu como contrárias ao direito internacional.
*com Reuters