O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, não está interessado num acordo de cessar-fogo e prefere discutir um acordo abrangente que ponha fim à guerra na Ucrânia, afirmou o jornalista do site Axios Barak Ravid na rede social X (antigo Twitter).
Trump reuniu-se com Putin na véspera no Alasca, num encontro que tinha gerado grandes receios e expectativas sobre o que poderiam os dois líderes decidir na ausência do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, especialmente sobre trocas de território. Trump tinha dito que a sua prioridade seria um cessar-fogo imediato.
Mas ao relatar, este sábado, o conteúdo da discussão com Putin a aliados da NATO e a Zelensky, Trump concordou com o Presidente russo: “Penso que um acordo de paz rápido é melhor do que um acordo de cessar-fogo.”
Zelensky, disse ainda Ravid, confirmou que irá encontrar-se com Trump em Washington na segunda-feira.
A cimeira de Trump e Putin foi considerada produtiva pelos dois e acabou com breves declarações à imprensa, com Trump a declarar que “não há acordo até haver acordo”, e Putin a dizer, em inglês, “para a próxima em Moscovo”.
O encontro de três horas entre Trump e Putin deixou mais perguntas do que respostas, segundo a BBC. O New York Times destaca que Trump mencionou um “acordo” sobre alguns pontos, não revelando quais, mas não sobre outros, enquanto Putin afirmou, de forma ainda mais vaga, que alcançaram um “entendimento”.
Ao falar da “situação na Ucrânia”, Putin disse que as causas que estão na raiz do conflito tinham de ser resolvidas antes de que fosse possível chegar a um acordo, “uma frase que terá feito soar alarmes em Kiev” e noutras capitais, comenta a BBC, porque é uma expressão que “se tornou sinónimo de uma série de exigências maximalistas de Putin”.
Na análise da BBC, Putin saiu muito bem do encontro com Trump. Primeiro, por ter sido recebido com pompa e circunstância depois de estar anos com viagens ao estrangeiro muito restritas e pela atmosfera calorosa com Trump.
“Enganado de novo por Putin?”
O New York Times também destaca “a atmosfera extraordinária” na recepção a Putin que, lembra, “está sob sanções dos EUA e enfrenta um mandado de captura internacional por crimes de guerra”: a passadeira vermelha, as palmas de Trump quando Putin chegou, o facto de Putin ido na limusina presidencial de Trump do aeroporto ao local da cimeira e, algo notado até pela Fox News, de ter sido o líder russo o primeiro a falar quando ambos prestaram declarações.
Putin terá ficado aliviado por não ter havido quaisquer “consequências graves” para a Rússia, que tinham sido uma ameaça de Trump caso não houvesse um acordo de cessar-fogo.
“A cimeira pode não ter conseguido progressos concretos para a paz na Ucrânia, mas cimentou a reaproximação entre a Rússia e os Estados Unidos”, conclui a BBC.
“Seria difícil imaginar um evento que pudesse ter corrido melhor do ponto de vista do líder russo”, é a análise do New York Times.
“Enganado de novo por Putin?”, perguntava mesmo a estação de televisão CNN, ainda antes do encontro, dizendo que “a retórica de Trump dá a entender que pode ter sido”.
Da Alemanha, o diário Der Tagesspiegel não hesita em concluir que se tratou de “um dia amargo para a Ucrânia e a Europa”.
Relato a Zelensky e líderes europeus
Trump fez o relato da conversa com Putin enquanto regressava a Washington, onde aterrou esta manhã, numa conversa “longa e substancial”, segundo a CNN (terá durado uma hora e meia, segundo o site Axios).
Entre os participantes esteve a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, segundo confirmou a sua porta-voz à agência Reuters. De acordo com um responsável da NATO, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Mark Rutte, também esteve na chamada telefónica, tal como o Presidente francês, Emmanuel Macron, confirmou o Eliseu.
Participaram ainda líderes da Alemanha, Finlândia, Polónia, Itália e Reino Unido, informou a Comissão Europeia.
Numa entrevista com a Fox News, Trump mencionou uma potencial cimeira com Putin e Zelensky, mas, segundo a CNN, o Kremlin disse depois que esta questão não tinha sido levantada no encontro do Alasca.
Ao falar do encontro na entrevista, Trump também disse ter ficado “muito satisfeito” por ouvir Putin dizer que, se ele fosse Presidente, “esta guerra nunca teria acontecido”, uma afirmação feita por Putin ao seu lado nas declarações de ambos à imprensa.
*com Reuters