AMOR POR ACASO || Séanna viajou sozinha pela Europa durante dois meses. Só ela e uma scooter – que aprendera a conduzir meses antes. A viagem acabou por ter outro destino
Encontrou o amor num cruzeiro? Fez uma grande amizade numa viagem? A sua história é especial, partilhe-a connosco através do e-mail amorporacaso@cnnportugal.pt
Séanna estava a passar férias em Bali quando decidiu fazer uma viagem de scooter pela Europa com destino a Lisboa. Foi assim que começou uma aventura que a levou a conhecer o seu futuro noivo.
Aos 36 anos, resolveu fazer uma pausa da azáfama de Los Angeles, onde trabalhava na produção de filmes, e passar férias em Bali, na Indonésia. Foram três meses de um roteiro entre a cidade de Ubud, a ilha de Nusa Penida e a vila costeira de Canggu. “Aprendi a conduzir uma scooter e, em poucos meses, experimentei a liberdade que é viajar assim.”
Certa noite, lembra-se de estar sentada num terraço com vista para um campo de arroz, e de pensar “para onde vou agora?”. “Não queria voltar para Los Angeles e o meu trabalho permitia-me estar onde quer que fosse.”
Nessa noite, sonhou que estava a andar de scooter num cenário que lhe parecia familiar – Lisboa. “Nunca tinha estado em Portugal, mas já tinha ouvido falar, dizem que é lindo e parecido com a Califórnia.”
Séanna quis confirmar por ela própria – e quis fazê-lo tal qual aparecia no sonho – a conduzir uma scooter, “de mãos no guiador, em direção ao sol e a mergulhar nas montanhas do oeste.”
Dois meses depois, em pleno verão de 2017, viajou para o sul de França, onde comprou uma Honda Innova 125cc em segunda mão. “Descobri que era uma moto pequena, mais pequena do que a scooter que conduzi em Bali, e tive de aprender a trocar as mudanças e a posicionar os pés.”
“Fui um desastre durante dois dias a conduzir pela Riviera Francesa”, conta, entre risos.
A avaria a nove quilómetros de Portugal e o desvio por Évora
O Mónaco foi o ponto de partida para o que viria a ser a grande aventura da sua vida. Foram oito dias de viagem, com paragens – e percalços – pelo meio. A scooter avariou em Espanha, a apenas nove quilómetros de Portugal, “no meio do nada”. “Tive de empurrá-la durante 12 quilómetros até que um senhor e uma jovem de uma pequena cidade fronteiriça em Espanha se ofereceram para me rebocar até um mecânico utilizando uma corda elástica e uma corrente.” Ficou tudo documentado em vídeo.
Acabou por ter de fazer um desvio até Évora, onde foi de reboque profissional em direção à concessionária de motociclos mais próxima. Quando chegou, lembra-se de pensar como a cidade “parecia um conto de fadas”. “Apaixonei-me por Évora e pelos seus habitantes.” Tanto assim foi que viria a voltar mais tarde.
Depois de empurrar a scooter durante 12 quilómetros quando estava quase a chegar a Portugal, Séanna foi de reboque até Évora (Cortesia Séanna Cabezut)
“Depois de a scooter ter sido miraculosamente arranjada, parti para Lisboa.”
Esta aventura tinha um propósito maior – encontrar “o tal”. Séanna já tinha tido algumas relações, mas sentiu sempre que a pessoa certa não estava na Califórnia, nem em Nova Iorque, nem mesmo em França, onde viveu durante uns tempos. Nesta viagem, estava convencida que seria em Lisboa que o iria encontrar.
“Finalmente cheguei a Lisboa, mas algo em mim dizia que tinha chegado ou demasiado cedo ou demasiado tarde.”
Decidiu então seguir viagem de volta. Fez uma pequena paragem em Lagos, atravessou Espanha e França. Ao contrário do que estava previsto, continuou a seguir para nordeste – viajou pela Suíça, Alemanha, Áustria, Hungria e Eslovénia. Continuou pela Croácia, Bósnia, Montenegro, Albânia, Grécia e Itália. “Enfrentei de tudo, desde ventos fortes e chuva torrencial, a neve fraca e calor abrasador.”
“Dois meses, duas semanas e dois dias depois, regressei ao Mónaco.”
A mudança para Lisboa e o encontro inesperado
Ao longo desta viagem, Séanna passou muito tempo a sós. “Enquanto conduzia, tive mesmo de seguir a minha intuição, saber quanto tempo é que conseguia continuar a conduzir, se tinha fome, etc. Parece básico, mas aprendi mesmo a ouvir-me e a confiar em mim própria, nas minhas decisões.”
De todos os locais que visitou, foi em Lisboa que se sentiu mais “em casa”. “Não só porque me faz lembrar São Francisco, perto da cidade onde cresci, mas também porque me senti acolhida.”
“Pensei para mim própria: ‘eu vejo-me a viver aqui’.”
Acabou por regressar a Portugal algumas vezes, mas ficou sempre em Évora, onde foi acolhida pelos seus “pais portugueses” – como lhes chama – que eram os donos da concessionária que a ajudaram meses antes. Intercalava as viagens com a sua vida em França, onde queria obter a nacionalidade para poder mudar-se para a Europa permanentemente.
Séanne mudou-se para Lisboa definitivamente em agosto de 2021. “Cheguei exatamente no mesmo mês e na mesma semana da primeira visita, mas quatro anos depois.”
Três dias depois de chegar, quando estava a passear pelo Príncipe Real em direção a um bar que dizia estar aberto no Google Maps, encontrou-o. “Ficámos os dois à porta a olhar para o sinal que dizia ‘fechado’ e comentámos que pensámos que estivesse aberto. Depois ele sugeriu que fôssemos beber um copo de vinho num restaurante ali perto.”
Séanna acedeu. Afinal, o restaurante era italiano, o seu favorito. “Bebemos vinho e comemos pizza e, enquanto jantávamos, fizemos jogos numa espécie de individual de papel que estava na superfície da mesa. Pedimos uma caneta e começámos a desenhar, cada um acrescentava um pormenor ao desenho um do outro.”
“Divertimo-nos muito. O sorriso dele conquistou-me. E eu diria que foi amor ao primeiro encontro.”
Séanna lembra-se de ter pensado que parecia que já o conhecia há anos. Tanto assim foi que lhe perguntou logo nesse primeiro encontro onde é que ele estava há quatro anos. Aécio contou-lhe que era casado na altura, mas que entretanto se tinha divorciado. “Nenhum de nós estava realmente preparado naquele momento”, conclui Séanna. “Podíamo-nos ter cruzado na altura, mas não era o momento.”
Quatro anos depois, sem que nada o fizesse prever, o momento parecia mais do que certo – e nenhum dos dois estava disposto a abrir mão disso. “Basicamente, saímos juntos todos os dias nessa semana.”
“Todas as noites íamos a uma pizzaria diferente, parecíamos especialistas em pizza, a votar naquela que considerávamos a melhor da cidade. E dançávamos pelas ruas e andávamos de mãos dadas, a ouvir Clair de Lune.”
Séanna e Aécio conheceram-se por acaso, em frente a um bar que estava encerrado (Cortesia Séanna Cabezut)
No final dessa semana, Séanna teve de voltar para França e convidou-o a ir com ela. Foi no cenário idílico da Riviera Francesa que a Aécio lhe disse “amo-te” pela primeira vez. Foi a primeira de nove viagens que viriam a fazer juntos.
Perceberam mais tarde que se conheceram em frente àquele bar porque eram praticamente vizinhos. “Vivemos a cerca de três quarteirões de distância um do outro nos primeiros dois anos e depois fomos viver juntos.”
Séanna e Aécio em Luxor, Egito (Corteia Séanna Cabezut)
“Muitas vezes, recontamos a nossa história quando passeamos juntos porque são memórias muito queridas.”
Séanna e Aécio ficaram noivos em janeiro deste ano. “As palavras lindas que ele usou quando me pediu em casamento foram ‘eu escolho-te’. Eu escolho-te para seres minha companheira, para seres a mulher da minha vida, escolho-te para conhecer o mundo contigo e escolho crescer ao teu lado. Foi tudo sobre ser uma escolha, que eu achei mesmo muito bonito.”
“Porque naturalmente vais enfrentar desafios, mas é nos momentos difíceis que temos de nos lembrar que escolhemos aquela pessoa para os ultrapassarmos juntos.”
Encontrou o amor num cruzeiro? Fez uma grande amizade numa viagem? A sua história é especial, partilhe-a connosco através do e-mail amorporacaso@cnnportugal.pt