Aracaju
A TV por assinatura brasileira passa, nos últimos 12 meses, por uma fase de queda de assinantes. Mais do que isso: sua relevância para o mercado de eventos esportivos ao vivo, que era seu diferencial até então, tem virado um ponto de inflexão devido ao avanço do YouTube e das plataformas de streaming.
Segundo dados da Teleco, empresa de consultoria ao mercado de telecomunicações no Brasil, a TV paga fechou o último mês de junho com 7,1 milhões de assinantes. No mesmo período em 2024, eram 9,2 milhões de clientes. É uma queda de 2,1 milhões de clientes ou 22,8% menos.
A perda de assinantes também se reflete no faturamento. Em receita líquida, a TV por assinatura faturou R$ 2,7 bilhões em junho de 2025, segundo a Teleco. Doze meses antes, eram R$ 3,3 bilhões. Uma redução de R$ 600 milhões (18%).
Uma curiosidade: o pico de assinantes da TV por assinatura aconteceu em agosto de 2014, quando foi impulsionada pela Copa do Mundo realizada no Brasil. Cerca de 20 milhões de clientes assinavam algum serviço.
Nesse período, a TV por assinatura teve perdas significativas de conteúdo. A Disney, em um movimento até agora inédito, decidiu encerrar todos os seus canais lineares, com exceção da ESPN. Franquias famosas como o Disney Channel e o National Geographic foram encerrados.
Já a Paramount acabou com a operação de seus canais em solo brasileiro, e unificou o sinal da América Latina, que chega diretamente da Europa, sem qualquer dedicação ao publico nacional. A Nickelodeon, por exemplo, mostra vinhetas até em espanhol, algo que só acontecia nos primórdios da TV paga, nos anos 1990.
E o esporte ao vivo?
Principal diferencial dos últimos anos, os eventos ao vivo, especialmente o futebol, também estão perdendo relevância na TV paga. Não pela audiência, já que ESPN e SporTV são líderes entre os canais pagos, mas pela pulverização de direitos e a ascensão do YouTube como alternativa.
Há eventos exclusivos da CazéTV, que está no YouTube. É o caso da Europa League, segundo torneio de futebol mais importante da Uefa, federação de futebol europeia. Em 2023, os Jogos Pan-Americanos não foram disponibilizados pelos canais pagos e só era visto em plataformas no Google.
Junte-se a isso, a concorrência com streamings. A Disney, não raramente, coloca jogos importantes apenas no Disney+ para angariar assinantes. A Amazon também avançou neste sentido, e mostra jogos exclusivos do Brasileirão e da Copa do Brasil, que ficam fora do universo da TV por assinatura.
A Globo tem se movimentado para desbravar as novas possibilidades. A empresa da família Marinho promete para executivos de operadoras, segundo apurou a coluna, que seguirá com jogos exclusivos no SporTV pra privilegiar este mercado.
No entanto, a empresa vai lançar em setembro a GE TV, canal esportivo que vai concorrer com a CazéTV no YouTube. A ideia é alcançar uma receita nova, para compensar especialmente as perdas que teve com assinaturas de TV paga nos últimos anos.
Como será o futuro?
Mestre em comunicação pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em mercado de mídia, Fernando Silva afirma que o futuro da TV por assinatura será algo já feito por empresas como a Claro: englobar todos os canais junto com streamings.
“Há uma oferta que oferece Netflix, Globoplay, junto com outros streamings, canais e até YouTube dentro do mesmo aparelho pela Claro em um valor considerado atrativo. Não vejo outra saída para a TV paga ter uma sobrevida que não seja esta”, afirmou.
“Vale dizer que a TV paga também se boicotou, com pacotes caros por muito tempo. Em vez de se popularizar, preferiu se manter elitizada. Os reflexos são vistos agora”, concluiu.