A professora Alison Wood Brooks, à frente de um MBA sobre como falar melhor na vida e nos negócios, na Havard Business School, tem uma dica de ouro para quem quer mandar bem em toda sorte de conversas (do chefe ao crush): faça perguntas.

Em seu novo livro “Fale – A ciência da conversação e arte de ser você mesmo”, lançado no Brasil pela editora Sextante, ela diz que indagar o outro sobre a vida, os gostos e vontades é um atalho para tornar-se mais interessante e querido. Na mesma publicação, sugere que fazer piadas e preparar tópicos antes de encontros, mesmos os românticos, pode dar mais fluidez e segurança às conversas.

Em entrevista exclusiva ao GLOBO, a pesquisadora ressaltou ainda que, apesar de parecer fácil, a habilidade de ser conversador é delicada e requer prática. Mas, felizmente, pode ser aprendida, inclusive por altos executivos que a encontram anualmente no curso da reputada universidade americana.

—Acho que muitas pessoas se surpreenderiam ao ver quantos dos meus alunos em Harvard, na verdade, não são muito bons em várias das habilidades sobre as quais falamos no livro — diverte-se.

Por que as perguntas te parecem tão centrais para mandar bem numa conversa?

Para muitos de nós o instinto pode dizer que para ser uma pessoa interessante é preciso dizer coisas interessantes. E, infelizmente, esse comportamento deixa passar uma oportunidade muito bonita e única que a conversa nos oferece, que é ser interativa. Ela nos abre a possibilidade de fazer perguntas e, de certa forma, puxar o conteúdo que está na mente do outro. Os questionamentos são essenciais para explorar o poder interativo do diálogo. Quando você faz perguntas, desbloqueia uma série de recompensas incríveis. Recentemente, estudiosos sugeriram que a maior barreira para a gestão de conflitos é a capacidade de se colocar no lugar do outro. E a única forma de entender o ponto de vista de alguém é perguntando. Podemos tentar adivinhar o quanto quisermos, mas a maneira de descobrir é: perguntar, ouvir a resposta e dar continuidade.

A ideia é dar destaque à outra pessoa, portanto.

Estamos tão focados em nós mesmos que esse equilíbrio precisa ser intencionalmente construído. E isso não quer dizer: “foque apenas nos outros e nunca pense em si mesmo”. Isso não seria satisfatório ou gratificante. A questão é que, para alcançar uma dinâmica equilibrada, é preciso se esforçar para focar nas outras pessoas. Se quiser estar em um relacionamento forte o suficiente para ser gratificante, se quer ter conversas que também sejam satisfatórias para você, a outra pessoa precisa estar envolvida, se divertindo e sentindo que suas necessidades estão sendo atendidas.

No livro, você sugere que prepararemos temas, perguntas, que tenhamos autoconhecimento e escuta. Como dar conta de tudo isso?

Uma das principais coisas que aprendi ao escrever este livro é que a maioria de nós vive com a sensação de que conversar deveria ser fácil, e que de fato até é. E por ser algo que fazemos o tempo todo, de forma quase automática, deveríamos ser ótimos nisso. Só que, quando começamos a olhar para o que nossos cérebros realmente estão fazendo e o quanto isso impacta nossos relacionamentos, é que percebemos: é muito mais complicado e importante do que parece. Acho que uma grande lição disso não é ficar mais estressado, mas sim ter mais compreensão com você e os outros. Vamos cometer erros. Ninguém é perfeito nisso. Mesmo grandes comunicadores têm espaço para melhorar.

Muitas conversas acontecem entre posições desiguais. Chefes e funcionários, por exemplo. Dá para se fazer ouvir mesmo assim?

Quando você tem controle sobre o dinheiro, você tem mais poder. Mas é possível ter muito poder e, ao mesmo tempo, ter status muito baixo. Como quando se tem controle sobre o dinheiro, mas ninguém gosta dessa pessoa, quer trabalhar com ela ou passar tempo junto. Então, pensar sobre essa interseção entre poder e status é importante. Muitas vezes, mesmo em uma posição de pouco poder, você ainda tem controle sobre o status. Ser gentil com as pessoas, ser agradável, ser um bom conversador tudo isso é uma forma de subir na hierarquia de status, mesmo sem ter poder. Em nossas pesquisas, descobrimos que pessoas capazes de contar até mesmo uma única piada têm muito mais chances de serem escolhidas como líderes do grupo. E o mesmo vale para quem elogia, faz boas perguntas e aplica os princípios de uma boa conversa: se você faz essas coisas, é mais provável que seja visto como alguém de alto status.

Existe essa impressão de que chefes devem ser sérios. Fazer piadas não seria ruim para a imagem “profissional”?

O equilíbrio entre ser sério e descontraído é bastante delicado de se alcançar em muitos contextos. E, por essa razão, momentos de leveza ou humor são arriscados. É preciso coragem para, naquele momento, dizer: “Vou contar esta piada”. Qualquer pequeno gesto que traga energia para uma conversa assim é um pequeno momento de coragem e risco. Se não aproveitamos esses momentos, o risco de tédio e desinteresse torna-se maior do que os pequenos riscos de tentar ser engraçado. Quando pensamos em conversas que dão errado, lembramos de raiva e conflito. Mas o problema mais comum é o tédio. Quando as pessoas simplesmente não estão interessadas.

Há um capítulo inteiro sobre pedir desculpas no livro. Porque acredita que esse é um ato tão poderoso?

Pedir desculpas é poderoso, contraintuitivo e difícil de fazer. As pessoas muitas vezes sentem que, se forem as primeiras a pedir desculpas, estarão perdendo, que isso as enfraquece. Realmente é algo que exige muita vulnerabilidade. Significa que você está assumindo a responsabilidade de que alguém sofreu ou foi prejudicado de alguma forma e que você fez parte desse dano. Pedir desculpas exige muita coragem. E as pessoas não precisam aceitar seu pedido. Isso é o que torna tudo tão vulnerável. Mas superar o risco, a possível vergonha de pedir desculpas e realmente fazê-lo tem o efeito oposto. Porque a outra pessoa vê que você está disposto a assumir esse risco por ela, pela dor que está sentindo, pelo que está sofrendo, pelo dano que lhe foi causado. Essa disposição de superar todo esse risco pessoal por ela é um ato de amor, uma forma de demonstrar que se importa.

E nos dates, nos primeiros encontros românticos, como se sair bem?

Acho um conselho muito óbvio é: prepare os tópicos de conversa. O tempo que você gasta fazendo a reserva, pensando no que vai fazer é o mesmo que deveria levar pensando sobre o que vai falar quando chegar lá. Não precisa ser nada de outro mundo nem super criativo. Pode ser só perguntar ao outro: “Com o que tem se animado recentemente?” Tanto a preparação de tópicos quanto criar uma lista de perguntas é importante. Assim, nos momentos em que a conversa poderia ficar estranha, haverá coisas para falar. Lembre-se, porém, que só uma pergunta não é suficiente. Não dá para apenas ouvir a resposta e então mudar de assunto ou começar a falar sobre si. Então, faça perguntas de seguimento. Por exemplo, se você ama moda: quais são suas lojas favoritas? Onde você comprou aquele suéter vermelho lindo? Se você seguir essa fórmula o encontro nunca ficará sem assunto. A única exceção é se tudo isso for feito e a outra pessoa não retribuir. Mas, ainda assim, isso é útil. Porque provavelmente você não quer estar em um relacionamento com alguém que não retribui. Não dá para obrigar outra pessoa a fazer perguntas.