Na reunião de fevereiro, Trump disse a Zelensky: “Não tem as cartas na mão”. Seis meses depois, Zelensky regressa na segunda-feira à Sala Oval

A última vez que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esteve na Sala  Oval, foi repreendido pelos anfitriões norte-americanos, viu-lhe ser negado um almoço previamente planeado e foi abruptamente convidado a abandonar a Ala Oeste.

“Ele pode voltar quando estiver preparado para a paz”, disse o Presidente Donald Trump depois de a reunião ter colapsado.

Seis meses depois, Zelensky regressa na segunda-feira à Casa Branca para conhecer mais detalhes da cimeira do Alasca entre Trump e o Presidente russo Vladimir Putin — e para perceber como, exatamente, o Presidente norte-americano imagina que poderá ser a paz na Ucrânia.

Na reunião de fevereiro, Trump disse a Zelensky: “Não tem as cartas na mão.”

Depois da cimeira de Trump com Putin no Alasca, continuava por esclarecer como é que o baralho tinha sido redistribuído.

Os primeiros sinais não foram particularmente bem recebidos, nem pelos ucranianos nem pelos responsáveis europeus informados sobre os conteúdos da cimeira de quase três horas em Anchorage. Trump afirmou, no final, que abandonava a esperança de um cessar-fogo imediato, defendendo antes um acordo de paz total sem primeiro exigir o fim dos bombardeamentos russos.

Essa é a posição oposta à dos líderes europeus e de Zelensky, que sustentam que a Ucrânia não pode ser forçada a negociar o seu futuro enquanto estiver sob ataque constante de Moscovo.

Trump também pareceu recetivo ao plano de Putin que previa concessões territoriais significativas por parte dos ucranianos como condição para terminar a guerra. Disse a responsáveis europeus, ao telefone, quando regressava a Washington, que Putin não tinha abandonado a exigência de ficar com toda a região oriental do Donbass, sugerindo que a guerra poderia ser rapidamente resolvida se Zelensky aceitasse ceder o território.

A abertura de Trump a garantias de segurança norte-americanas para a Ucrânia após o fim da guerra deu alguma esperança a certos responsáveis europeus, mas os pormenores do que está disposto a oferecer permanecem desconhecidos.

Tudo isto criará discussões de grande alcance no Sala Oval na segunda-feira, quando Trump pressionar para pôr fim a um conflito que prometera resolver num único dia de mandato.

Desde o confronto em fevereiro, Trump e Zelensky percorreram um longo caminho no sentido de reparar a sua relação. Líderes europeus, incluindo o Presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, aconselharam Zelensky sobre como abordar Trump, sugerindo uma atitude menos combativa e demonstrações mais claras de gratidão pelo apoio norte-americano.

Zelensky fez questão de assinalar a sua gratidão pelo convite a Washington, escrevendo no sábado no X: “Na segunda-feira, reunir-me-ei com o Presidente Trump em Washington, D.C., para discutir todos os detalhes relativos a pôr fim à matança e à guerra. Estou grato pelo convite.”

Espera-se que líderes europeus como o Chanceler alemão Friedrich Merz, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, o Presidente francês Emmanuel Macron, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, o Presidente finlandês Alexander Stubb e a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen participem nas conversações entre Trump e Zelensky, que conta com o apoio europeu.

O Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, poderá também deslocar-se a Washington para a reunião, segundo um responsável.

A imagem de um convite à Sala Oval apenas dias após a cimeira com Putin no Alasca é significativa. Enquanto Putin foi recebido em Anchorage com uma demonstração ostensiva de boas-vindas, não foi fotografado ao lado do Presidente norte-americano no Sala Oval — uma sala em que não entra desde 2005.

Trump bateu palmas quando Putin desceu pela pista e se juntou ao Presidente norte-americano dentro da sua limusina blindada — uma cena rara para qualquer líder estrangeiro, quanto mais para um adversário. Trump descreveu as conversações como “calorosas”, e a encenação do dia sublinhou o regresso de Putin ao palco diplomático, depois de ter sido excluído devido à invasão da Ucrânia.

Ainda assim, também foi recebido com uma demonstração de força: a passagem de um bombardeiro B-2 e quatro caças F-22 Raptor estacionados ao lado do Air Force One, os mesmos que são usados para intercetar aeronaves russas quando entram no espaço aéreo norte-americano.

Segunda-feira marcará a primeira vez que Zelensky regressa à Sala Oval desde que Trump disse que ele estava “a brincar com a Terceira Guerra Mundial” e o vice-presidente JD Vance acusou o líder ucraniano de falta de gratidão, perguntando-lhe: “Já disse obrigado alguma vez?” Uma fonte informou que Vance também estará presente na reunião de segunda-feira.

Trump recebe Putin antes do início da Cimeira do Alasca

Mas Trump e Zelensky já se encontraram frente a frente por duas vezes desde então, e a sua relação melhorou bastante.

Em abril, Trump encontrou-se brevemente com Zelensky no Vaticano, antes do funeral do Papa Francisco, e em junho à margem da cimeira da NATO nos Países Baixos.

“Sabe que tivemos momentos difíceis”, disse Trump após a reunião com Zelensky na NATO. “Ele não podia ter sido mais simpático.”

“Retirei da reunião a ideia de que ele gostaria de ver isto terminar”, acrescentou Trump.

O encontro no Vaticano foi íntimo, com Zelensky e Trump sentados frente a frente, muito próximos, na Basílica de São Pedro, sob uma enorme pintura do batismo de Jesus.

“Acredito que tivemos a melhor conversa com o Presidente Trump de todas as que aconteceram até agora”, disse Zelensky a jornalistas após o encontro.

Depois da reunião, Trump ameaçou com potenciais novas sanções à Rússia e questionou se Putin estava verdadeiramente empenhado na paz ou apenas a “ganhar tempo”.

Mas, vários meses mais tarde, não chegou a aplicar as novas sanções, e muitos responsáveis ocidentais acreditam que Putin continua a ganhar tempo, enquanto procura alcançar os seus objetivos de guerra.

Em maio, depois de Putin desperdiçar a oportunidade de se encontrar com Zelensky em Istambul, enviando em vez disso uma delegação de nível inferior, Trump disse a jornalistas: “Olhem, nada vai acontecer até que Putin e eu nos sentemos juntos, está bem?”

Trump já ultrapassou esse obstáculo, mas alcançar uma paz duradoura continua a ser esquivo.

Sophie Tanno e Sebastian Shukla, da CNN, contribuíram para esta reportagem.