Quatro menos dois. Foi essa simples conta que fez com que o arquiteto Maurício Nóbrega tomasse uma decisão ao se deparar com a nova fase da vida: as duas filhas cresceram, saíram de casa, e ele e a mulher, a psicóloga Cecilia Nóbrega, não precisavam mais de tanto espaço. Resolveram, portanto, encolher. “A gente tem uma casa em Azeitão, Portugal, que também foi muito inspiradora para darmos o passo de desapegar e sairmos de onde vivemos por 10 anos. Ela é pequena, funcional, fácil e gostosa”, enumera Maurício. O casal trocou então 700 por 240 metros quadrados, sem abrir mão do bairro cheio de memória afetiva para eles — Humaitá. O novo lar passou por um ano de reforma, comandada (e projetada), claro, pelo próprio arquiteto.
Maurício vive entre o Humaitá e o Azeitão, em Portugal — Foto: André Nazareth
A casa é preservada como Patrimônio Histórico e precisou de autorização para uma pequena interferência: derrubar uma edícula mal-ajambrada que ficava dentro do terreno, um anexo da construção principal. Abriu-se, assim, espaço para um jardim com piscina, que é visto de dentro da residência, graças a grandes portas de ferro com vidro. Maurício manteve a fachada branca, trocou a entrada principal para os fundos e viu a equipe dedicar quatro meses à recuperação total das janelas que eram pintadas. “Usamos um produto chamado ‘Striptizi’, olha que curioso, para remover a tinta e chegar à cor original da madeira”, conta o arquiteto.
A escada para sótão — Foto: André Nazareth
No interior, o piso de peroba também foi recuperado pelos dois andares compostos por sala e duas suítes — a do casal conta com um banheiro para cada um. A cozinha pode ser integrada ou separada por um painel forrado de madeira. Para decorar, foi preciso escolher entre tantos móveis e objetos acumulados ao longo de 40 anos de casamento. “Essa parte foi gostosa, tudo com muita história, não nos desfizemos de nada. Distribuímos entre as filhas o que achamos que deveria seguir com elas”, conta Cecília Nóbrega.
Mesa de ferro faz as vezes de bar, com abajur marroquino em cima — Foto: André Nazareth
Com isso, nada foi comprado. Estão lá mesa de jantar e cadeiras feitas sob medida com serralheiro de Petrópolis, móvel metálico que faz as vezes de bar, garimpado 30 anos atrás em um antiquário do shopping Cassino Atlântico, armário de madeira de Bali e a amada coleção de arte, com nomes de peso como Nelson Felix, Jadir Freire, Ana Horta e José Bechara. Para guardar o que não coube na decoração, uma solução: as duas caixas d’água que ocupavam o sótão foram transferidas para o subsolo, e o espaço ficou liberado para essa função. Para acessá-lo, o arquiteto criou uma charmosa escada camuflada, que desce do teto. “Subir lá é uma viagem ao tempo”, delicia-se.