Uma nova legislação britânica está mudando o comportamento online de milhões de usuários. Sites antes líderes perderam quase metade de seus acessos em poucas semanas, enquanto alternativas menos reguladas ganham espaço. A medida, que visa proteger menores de idade, também levanta discussões sobre riscos, privacidade e o futuro do consumo digital.

O consumo de conteúdo adulto no Reino Unido passou por uma transformação repentina após o governo impor regras mais rigorosas de verificação de idade. A intenção é impedir o acesso de menores a sites pornográficos, mas os efeitos colaterais vão além da queda no tráfego. De acessos migrando para plataformas não regulamentadas ao crescimento de VPNs, a mudança traz à tona dúvidas sobre privacidade, segurança e eficácia.

Queda drástica de acessos

Dados da empresa Similarweb revelam que o Pornhub, maior site do setor no Reino Unido, perdeu mais de 1 milhão de visitas em apenas duas semanas após as regras entrarem em vigor, em 25 de julho. O tráfego diário médio caiu de 3,2 milhões em julho para 2 milhões no início de agosto — uma queda de 47%. Plataformas como XVideos e OnlyFans também registraram forte retração.

Impacto da nova legislação

As medidas foram implementadas como parte da Lei de Segurança Online britânica, que exige que sites adotem mecanismos avançados de verificação, como selfies para estimar idade ou comparação com documentos oficiais. O objetivo é limitar o acesso de menores de 18 anos ao conteúdo adulto, mas especialistas já apontam efeitos inesperados.

Migração para alternativas e uso de VPNs

Enquanto os maiores sites perderam tráfego, plataformas menores e menos regulamentadas viram aumento nas visitas. Além disso, os aplicativos de rede privada virtual (VPNs) se tornaram os mais baixados na App Store do Reino Unido nos dias seguintes às mudanças. As VPNs permitem mascarar a localização do usuário, dificultando o rastreamento e o controle sobre quem acessa determinados conteúdos.

Debate sobre privacidade e riscos

Críticos alertam que, apesar da boa intenção, a medida pode empurrar usuários para áreas mais obscuras da internet, como a dark web, onde circula conteúdo extremo e sem regulamentação. Há também preocupações sobre segurança de dados: embora empresas de verificação afirmem não armazenar informações pessoais, especialistas lembram que nenhum banco de dados é totalmente imune a ataques.

Um futuro em disputa

O Ofcom, órgão regulador de mídia do Reino Unido, estima que cerca de 14 milhões de pessoas consomem pornografia online no país. Agora, o desafio será equilibrar a proteção a menores, o direito à privacidade e a manutenção de um ambiente digital seguro. Para alguns, a medida é necessária; para outros, abre um precedente perigoso para a normalização da identificação em massa na internet.

Fonte: BBC