António encontrou na escrita uma forma de resgatar o tempo que, admitiu, não conseguiu dedicar à família durante a sua vida profissional. Ex-quadro superior dos CTT, com funções operacionais exigentes e responsabilidade sobre um serviço de funcionamento contínuo na região Norte, viveu grande parte da vida sem espaço para a escrita — apesar de, como recorda, o gosto estar sempre lá.

Foi apenas após a aposentação que esse gosto se materializou verdadeiramente. Um momento marcante aconteceu ao acompanhar a neta nas feiras escolares de São Bartolomeu. O contacto com essas vivências — que sente ter perdido com os filhos — comoveu-o profundamente e inspirou-o a começar a escrever. A partir daí, nunca mais parou.

António Ramos escreve com propósito: todos os seus livros visam provocar reflexão. Considera que a sua bagagem — construída ao longo de décadas de vida, experiências profissionais e políticas (foi autarca), e o facto de ter vivido tanto em ditadura como em democracia — permite-lhe conjugar perspetiva histórica com atualidade. Acredita que, tal como no passado, hoje é novamente tempo de pensar criticamente a democracia. Para ele, escrever é isso mesmo: um exercício de reflexão com vista à melhoria individual e coletiva.