Não serão enviados soldados norte-americanos para a Ucrânia como parte das garantias de segurança dadas ao país europeu no contexto do pós-guerra, reafirmou nesta terça-feira o Presidente dos EUA, Donald Trump, um dia depois de ter recebido em Washington o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e vários líderes europeus.
Numa entrevista à Fox News na qual fez um balanço das negociações da véspera, Trump disse que países como França, Alemanha e Reino Unido estão disponíveis para enviar militares para a Ucrânia e, por isso, não acredita que “haverá problemas” na questão das garantias de segurança. Mas em relação a um envolvimento directo de forças norte-americanas, Trump foi categórico na recusa.
“Tem a minha garantia, e eu sou o Presidente”, declarou. Esta era uma política que também o seu antecessor, Joe Biden, defendia, considerando que cabe aos países europeus o papel principal na segurança do continente.
“Temos um oceano que nos separa”, afirmou Trump, e, por isso, serão os países europeus a estar na linha da frente. “No que diz respeito à segurança, eles estão dispostos a pôr gente no terreno”, acrescentou.
Ainda assim, o Presidente norte-americano mostrou-se aberto a outras formas de cooperação tendo em vista a defesa da Ucrânia, e sublinhou a possibilidade de haver apoio aéreo dos EUA. “Estamos dispostos a ajudá-los com coisas, especialmente se estivermos a falar do ar, porque ninguém tem o tipo de coisas que nós temos”, disse na entrevista desta terça-feira.
Não ficou claro, porém, a que tipo de apoio aéreo se referia Trump, podendo tratar-se apenas de auxílio em operações de reconhecimento e vigilância ou, no limite, à participação em patrulhas do espaço aéreo com aviões de combate.
A concessão de garantias de segurança à Ucrânia é um dos tópicos mais importantes das negociações para o fim do conflito. Kiev quer evitar a todo o custo que um futuro acordo de paz venha a deixar as suas fronteiras novamente desprotegidas e seja apenas uma questão de tempo até a Rússia voltar a avançar.
O cenário ideal, do ponto de vista ucraniano, seria a adesão à NATO, mas Trump já deixou claro não apoiar essa iniciativa. A chamada “coligação dos dispostos”, que junta os países europeus mais empenhados na defesa da Ucrânia, tem procurado soluções que permitam criar condições para que as fronteiras ucranianas se mantenham protegidas num contexto pós-guerra.
Na mesma entrevista, Trump manifestou algumas dúvidas sobre o real interesse do Presidente russo, Vladimir Putin, com quem se reuniu na semana passada, em pôr fim ao conflito. “Vamos saber do Presidente Putin nas próximas semanas. É possível que ele não queira fazer um acordo”, afirmou Trump, dizendo que, nesse caso, estará numa “situação difícil”.
A Administração Trump tem ameaçado com a aplicação de novas sanções contra países que compram petróleo e outras matérias-primas à Rússia, caso Putin rejeite chegar a um acordo para acabar com a guerra, mas até agora nada foi feito nesse sentido.
Trump também foi questionado sobre as negociações relativamente ao território que a Rússia reivindica e deixou a garantia de que a Ucrânia “vai ficar com muitas terras”, sem esclarecer a que se referia. No entanto, voltou a sugerir que terá de haver concessões por parte de Kiev nesta área. “Isto é uma guerra, a Rússia é uma nação militar poderosa, quer as pessoas queiram quer não”, afirmou.
Zelensky tem reiterado que não está disposto, nem sequer autorizado por lei, a ceder qualquer parte do território internacionalmente reconhecido da Ucrânia.
Das reuniões de segunda-feira em Washington saiu fortalecida a hipótese de vir a ser marcada uma cimeira entre Zelensky e Putin, seguida de um encontro trilateral ao qual se irá juntar Trump.
O Kremlin confirmou a disponibilidade do Presidente russo para participar em conversações diplomáticas em qualquer tipo de formato, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, disse que a marcação de uma cimeira entre chefes de Estado deve ser preparada em “grande pormenor”, indicando que o encontro poderá não ser para uma data tão breve como tem sido sugerido.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu, em entrevista ao canal LCI, que o encontro fosse marcado para Genebra, na Suíça, país neutro para o qual Putin poderá viajar sem receio de ser detido em virtude do mandado de captura internacional emitido pelo Tribunal Penal Internacional. O Governo suíço confirmou esta terça-feira a disponibilidade para conceder imunidade ao chefe de Estado russo para que possa entrar no país para a eventual cimeira.
Na mesma entrevista, Macron deixou patente a enorme desconfiança que grassa entre os países europeus em relação à Rússia, contrastando com a aparente bonomia entre Trump e Putin. Acusando o Presidente russo de “raramente honrar os seus compromissos”, Macron descreveu-o como “um predador que, para a sua própria sobrevivência, precisa de continuar a comer”.