O périplo do escritor neerlandês Jan Brokken pela Estónia, Letónia e Lituânia, e enclave russo de Kaliningrado, marcou-o a tal ponto que verteu para livro essa experiência. Da mesma forma que a Índia foi uma revelação para José Ignácio de Andrade, que fez dela o objeto de análise das cartas que escreveu à mulher.
Numa viagem de cargueiro pelo Báltico, o escritor neerlandês Jan Brokken (Leiden, 1949) deu com o porto de Pärnu, na costa da Estónia, no golfo de Riga. Para o autor, foi uma introdução inesquecível aos países bálticos: Estónia, Letónia e Lituânia, e ao enclave russo de Kaliningrado.
A luz extraordinária, a tranquilidade da paisagem e as histórias que ouviu fizeram com que regressasse vezes sem conta a estes lugares que, já no período do Neolítico, exportavam o precioso âmbar. O resultado é este apaixonante “Baltic Souls”, em que une a riqueza cultural e a diversidade social, desde o século XII, com histórias de várias pessoas e o relato das suas próprias viagens nesta região – que sofreu tanto com Hitler e Estaline, o que talvez explique quer o facto de os russos nascidos nestes países serem considerados cidadãos de segunda classe, quer o atual apoio incondicional à Ucrânia na defesa do seu território, da sua independência e da sua cultura.
Da história de uma icónica livraria em Riga – Jānis Roze, fundada em 1918, e que ainda existe – à do artista Mark Rothko, nascido em Daugavpils (Letónia), passando pelo pai do realizador Sergei Eisenstein, um reputado arquiteto do período da Arte Nova, à Königsberg de Hannah Arendt ou ao destino de Anna-Liselotte von Wrangel, uma das muitas descendentes dos suecos, que começaram a chegar à Estónia no tempo dos viquingues, “Baltic Souls” é o livro perfeito para quem gosta das pequenas histórias da grande História. A edição em inglês é da Scribe.
Como informa o autor logo no início, estas suas “Cartas Escritas da Índia” apenas ‘demonstram a carreira de um homem, que, tendo visto o céu, a terra, e o mar, tornou à pátria com diversas ideias na cabeça, e alguns sentimentos de mais no coração.”
Tendo como destinatária a sua mulher, Maria Gertrudes de Andrade, este relato de viagem em formato epistolar revela a grande capacidade de observação deste açoriano, natural da ilha de Santa Maria. Oficial da marinha mercante, negociante e, mais tarde, vereador (e presidente, ainda que só por dois meses) da Câmara Municipal de Lisboa, José Ignácio de Andrade (1779-1863) era um homem com uma vasta cultural geral, capaz de se relacionar com a elite chinesa (algo que estava vedado à maior parte dos ocidentais) e de fortes convicções, entre elas, uma nada disfarçada antipatia pelos ingleses e um feroz antagonismo às políticas europeias relativamente ao Oriente.
E é esse Oriente que estas “Cartas” nos dão a conhecer: os costumes, as paisagens, a história e a política, agora recuperadas pela editora independente Livros de Bordo.
Originalmente, tratava-se de dois volumes (para além da Índia, foi publicada conjuntamente a correspondência oriunda da China), com ilustrações do seu amigo Domingos Sequeira, considerado por muito o primeiro dos românticos portugueses, e de quem José Ignácio de Andrade terá divergido quanto à política, dado que o pintor oscilou entre o apoio a Junot e depois Wellington, para, no final, se converter ao liberalismo.