A pressão para uma reunião bilateral surge depois de o presidente norte-americano se ter reunido com Putin no Alasca na semana passada e recebido sete líderes europeus e Zelensky na Casa Branca na segunda-feira.
Trump admitiu que o conflito era “difícil” de resolver e admitiu que era possível que o presidente russo não estivesse interessado em terminar as hostilidades.“Vamos descobrir mais sobre o presidente Putin nas
próximas semanas”, disse na terça-feira. “É possível que ele não queira
fechar um acordo”.
Putin enfrentaria uma “situação difícil” se fosse esse o caso, acrescentou Trump, sem adiantar detalhes.
Trump sugeriu que “seria melhor” se Putin e Zelensky se encontrassem sem ele, numa entrevista ao apresentador de rádio Mark Levin na noite de terça-feira.
O presidente norte-americano está disponível para participar num encontro com os homólogos russo e ucraniano se fosse “necessário”, mas quer “ver o que acontece”.
Putin disse a Trump na segunda-feira que estava “aberto” à ideia de conversações diretas com a Ucrânia, mas no dia seguinte o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, suavizou esse compromisso já vago.
Qualquer reunião teria de ser preparada “com o máximo rigor” e não podem ser procurados em nome de “cobertura mediática ou transmissões noturnas”. Começando pelo nível dos especialistas e, posteriormente, passando por todas as etapas necessárias”, disse, repetindo uma frase frequente do Kremlin.
Dmitry Polyanskiy, representante adjunto da Rússia na ONU, disse à BBC que “ninguém [tinha] rejeitado” a oportunidade de conversações diretas, “mas não deveria ser uma reunião por si só”.Os chefes militares da NATO deverão realizar uma reunião virtual na
quarta-feira, enquanto o chefe militar do Reino Unido, o almirante Tony
Radakin, se desloca a Washington para discutir o envio de uma força de
segurança na Ucrânia.
Na terça-feira, foi noticiado que Putin sugeriu a Trump que Zelensky viajasse para Moscovo para conversações, algo que a Ucrânia provavelmente nunca aceitaria.
A proposta pode ter sido a forma de a Rússia apresentar uma opção tão improvável para Kiev não aceitar.
As conversações dos últimos dias parecem ter dado a Trump uma compreensão renovada das complexidades da guerra e do abismo entre as exigências de Moscovo e a posição de Kiev.
O tão apregoado cessar-fogo com o qual disse que conseguiria que Putin concordasse não se concretizou e, agora, o presidente dos EUA disse que a Ucrânia e a Rússia deveriam avançar diretamente para um acordo de paz permanente – mas houve algum progresso em termos de garantias de segurança para a Ucrânia.
Zelensky e os líderes europeus parecem ter convencido Trump de que tais compromissos seriam fundamentais para a soberania de Kiev em caso de acordo de paz.
Os líderes europeus e Zelensky manifestaram-se também a favor da ideia de um encontro bilateral. O presidente ucraniano disse na segunda-feira que estava aberto a “qualquer formato” de encontro com Putin, enquanto os europeus vinham apresentando ideias para possíveis locais de cimeira.
Ao apoiarem entusiasticamente as negociações diretas, provavelmente
esperam convencer Trump a adotar uma postura mais dura contra Moscovo
caso Putin continue relutante em tomar medidas para pôr fim à guerra.
Entretanto, os parceiros europeus da Ucrânia parecem significativamente menos otimistas do que Trump quanto à possibilidade de uma resolução do conflito estar próxima.
Na terça-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, considerou Putin “um predador e um ogre à nossa porta” e expressou “a maior dúvida” de que o presidente russo estivesse disposto a trabalhar pela paz.
O presidente finlandês, Alexander Stubb, disse que Putin “raramente é de confiança”, acrescentando que estava cético quanto à concretização de um encontro com Zelensky.
Estão planeadas mais negociações de alto nível para os próximos dias, uma vez que ainda existem dúvidas sobre o nível de apoio de Trump à Europa.
EUA podem fornecer apoio aéreo para apoiar acordo de paz
Na terça-feira, Trump afirmou que os EUA estavam dispostos a ajudar os europeus “por via aérea” se estes fornecessem tropas terrestres na Ucrânia em caso de cessar-fogo ou acordo de paz, embora tenha descartado o envio de tropas norte-americanas.
No entanto, a natureza da ajuda militar dos EUA à Ucrânia ao abrigo de um acordo de paz não era clara. O apoio aéreo poderia assumir diversas formas, como sistemas de defesa antimíssil ou caças que impõem uma zona de exclusão aérea. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou que o apoio aéreo dos EUA era “uma opção e uma possibilidade”, mas, tal como Trump, não adiantou pormenores.
“O presidente declarou definitivamente que os EUA não estarão em solo ucraniano, mas podemos certamente ajudar na coordenação e talvez fornecer outros meios de garantia de segurança aos nossos aliados europeus”, disse ela numa conferência de imprensa.”Quando se trata de segurança, (os europeus) estão
dispostos a colocar pessoas em terra. Estamos dispostos a ajudá-los,
provavelmente por via aérea”, afirmou Trump em entrevista a um programa
da Fox News.
Embora os compromissos de Trump permaneçam vagos, a “coligação dos dispostos”, liderada pela França e pelo Reino Unido, afirmou estar a trabalhar para consolidar os planos para uma força de segurança que poderá ser enviada para a Ucrânia caso as hostilidades terminem.
Após uma reunião virtual do grupo na terça-feira, um porta-voz de Downing Street afirmou que o grupo se reuniria com os seus homólogos americanos nos próximos dias para “reforçar ainda mais os planos para fornecer garantias de segurança robustas”.
Depois da sua cimeira com Putin e das últimas conversações com Zelensky, Trump parece agora acreditar que conversações diretas entre a Ucrânia e a Rússia poderão aproximar um acordo de paz – embora tenha reconhecido que houve “um tremendo ressentimento” entre os dois líderes.
O último encontro foi em 2019. Desde então, a guerra de Moscovo contra Kiev resultou em dezenas de milhares de vítimas, além de destruição generalizada e ataques aéreos contínuos contra alvos civis.
Putin considera Zelensky ilegítimo e responsável pela crescente proximidade da Ucrânia com o Ocidente. Há anos que faz alegações infundadas de que Kiev é governada por um “regime neonazi” e afirma que qualquer cessar-fogo com a Ucrânia precisaria de implicar uma mudança na liderança de Kiev.
c/ agências