O Governo israelita confirmou, na manhã desta quarta-feira, que o plano para tomar a Cidade de Gaza continua em cima da mesa. Para levar a cabo esta ofensiva, vai chamar milhares de militares na reserva, que deverão apresentar-se até Setembro.
Os números diferem: a Reuters fala em 50 mil militares na reserva; o Times of Israel e outros meios internacionais em 60 mil, chamados para concretizar o plano de tomar a Cidade de Gaza, que os israelitas dizem ser o principal reduto do Hamas.
Os militares na reserva deverão receber a chamada nos próximos dias, pelo menos duas semanas antes de terem de se apresentar. De acordo com a Reuters, deverão apresentar-se em Setembro. O Times of Israel detalha que essa é apenas a primeira leva, a segunda deverá acontecer entre Fevereiro e Março de 2026. A juntar a isso, os militares na reserva que estão actualmente a servir as Forças Armadas israelitas (IDF) deverão servir mais 30 ou 40 dias do que o inicialmente previsto. Com tudo isto, o número de militares na reserva em funções pode ascender, num dado momento, aos 130 mil.
No entanto, “a maioria das tropas que vai ser mobilizada nesta nova fase não vai estar na reserva”, disse a fonte militar ouvida pela Reuters, que falou sob anonimato. Serão soldados no activo que irão operar no maior centro urbano da Faixa de Gaza. Aos reservistas, caberiam tarefas na força aérea, serviços secretos e outros papéis de apoio, ou substituindo outros militares no activo colocados fora de Gaza.
O plano de tomar a Cidade de Gaza foi decidido numa reunião na qual terá participado também o chefe do Exército israelita, Eyal Zamir, assim como outros responsáveis, escreve o El País.
A luz verde para este plano surge na mesma altura que Israel se mostra relutante em aceitar uma proposta de cessar-fogo – que o Hamas já aceitou na segunda-feira –, que iria libertar os 20 reféns com vida que ainda estão em Gaza.
Alguns responsáveis israelitas, citados pelo The Guardian, dizem que Benjamin Netanyahu irá discutir a proposta nos próximos dias e deverá ter uma resposta para os mediadores internacionais até sexta-feira.
O momento é de alta pressão para Israel, tanto interna como externa. Por um lado, as manifestações de israelitas que pedem a libertação dos cerca de 50 reféns ainda em Gaza. Por outro, a fome na Faixa de Gaza, causada pela resistência israelita em deixar entrar comida suficiente, denuncia a ONU, que choca a comunidade internacional.
Ainda pouco se sabe sobre o plano que já foi aceite pelo Hamas. Sabe-se que cerca de metade dos reféns vivos restantes (e os corpos de outros reféns) seriam libertados, em troca de 150 palestinianos detidos em prisões israelitas, alguns a cumprir pena de prisão perpétua. O acordo seria faseado, e levaria a um cessar-fogo de 60 dias.
O Hamas terá abdicado de alguns dos seus pedidos, como o número de prisioneiros a serem trocados e desenhando a “zona tampão de segurança” como a que foi exigida por Israel. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, um dos mediadores internacionais, disse que a proposta que com que o Hamas concordou era “quase idêntica” a um plano anterior de Steve Witkoff, “semelhante ao que o lado israelita já tinha concordado”.
Na terça-feira, o lado israelita insistia que a posição do Governo não mudou, e que continua a procurar a libertação de todos os reféns.
No entanto, alguns analistas políticos não deixam de notar a mudança de tom. Também na terça-feira, o jornalista Ben-Dror Yemini, do Yedioth Ahronoth, dizia que a “bola está do lado de Israel”, mas alertava para os riscos. “Se a conversa” sobre a conquista da Cidade de Gaza “começou a produzir pedidos crescentes de sanções” contra Israel, “então uma incursão militar em Gaza vai apenas precipitar uma avalanche ainda maior” e a “estratégia do Hamas vai provar ser mais sofisticada do que a de Israel”, argumenta.