Kevin Costner reagiu publicamente pela primeira vez à ação judicial interposta por uma atriz que diz ter sido forçada a representar uma cena de violação sem consentimento no último filme realizado pelo norte-americano de 70 anos. Numa declaração feita no Tribunal Superior de Los Angeles, Costner acusou a versão da dupla Devyn LaBella de ser uma “mentira descarada” que foi “concebida, através do uso de declarações falsas e linguagem sensacionalista, para prejudicar” a sua reputação.

Os representantes legais do cineasta defendem esta posição com uma mensagem enviada pela atriz a um superior hierárquico nove dias depois do alegado incidente na rodagem do filme Horizon: Uma saga Americana – Capítulo 1. “Obrigada por estas semanas maravilhosas! Estou-te muito grata! Aprendi muito e agradeço-te novamente. Estou muito feliz que tudo tenha corrido bem. Desejo-te uma ótima continuação de filmagens e, sim, falamos em breve!”, terá escrito Devyn LaBella, 34 anos, ao coordenador da equipa de duplos do filme.

O advogado de Costner invocou o conteúdo da mensagem num documento apresentado em tribunal para desvalorizar as críticas da dupla que participou também em filmes como Barbie (2003) ou American Horror Stories (2021). “Não houve raiva nem ressentimento, apenas entusiasmo e gratidão”, alegam.

“A realidade, conforme comprovado pelo testemunho sob juramento de uma dúzia de membros respeitados e veteranos da equipa de filmagem com conhecimento pessoal dos factos em questão nesta disputa, fotografias em tempo real da cena e as próprias palavras de LaBella na altura, é que o processo oportunista e sensacionalista de LaBella é tão fictício quanto o filme que está no centro desta disputa”, lê-se na defesa do realizador de cinema, segundo o The Guardian.

Devyn LaBella interpôs uma ação judicial por incumprimento de contrato, em maio passado, reportando a eventos que tinham alegadamente ocorrido dois anos antes, em maio de 2023. No mais recente filme de Costner, a antiga ginasta, que entrou na indústria do cinema em 2020, desempenhava o papel de dupla da personagem principal — por sua vez, interpretada por Ella Hunt.

A versão apresentada na ação judicial relata que a dupla tinha começado por representar (tal como Hunt) uma cena planeada de violação, devido à violência e à exigência física que esta pressupunha. Nesse caso, alega, os protocolos foram seguidos: realizaram-se reuniões, ensaios e houve acompanhamento de uma coordenadora para cenas de intimidade física.

No dia seguinte, a 2 de maio, Costner terá improvisado a filmagem de uma nova cena em que a protagonista era mais uma vez violada, mas por outra personagem masculina. Desta vez, foi apenas a dupla Devyn LaBella a representá-la, sendo que a atriz principal Ella Hunt se recusou a fazê-lo. Nesse caso, não terão sido salvaguardadas as condições contratuais para cenas de nudez ou de intimidade sexual simulada, que, nomeadamente, prevêm um aviso com 48 horas de antecedência.

A queixosa sublinha que não foi informada que um novo ator iria “montá-la”, imobilizá-la violentamente e levantar a sua saia. Kevin Costner, que dirigia a gravação, terá apenas pedido a LaBella para se deitar, antes de pedir ao ator masculino “para repetidamente simular uma violação violenta”, numa cena que teve direito a vários takes.

Celeste Chaney, uma das coordenadoras para as cenas de intimidade física, confirmou a versão de LaBella, declarando em junho ao tribunal que o episódio se tratou de uma “cena de violação violenta não programada nem planeada”. De acordo com Chaney, a filmagem desta cena “surpreendeu inesperadamente os atores e os duplos”, mas teve maior efeito na dupla da personagem principal. A membro da produção do filme, defende ainda que  LaBella “não consentiu com a ação” e que “não tinha as roupas adequadas para garantir cobertura, segurança ou proteção adequadas».

“O impacto desta exigência improvisada à sra. LaBella foi profundo, não só destruindo uma carreira que ela levou anos a construir, mas deixando-a também com um trauma permanente que ela terá de enfrentar nos próximos anos”, lê-se na ação judicial, refere a Associated Press. “Não havia como escapar da situação, e tudo o que a sra. LaBella podia fazer era esperar que o pesadelo acabasse”, conclui.