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Tudo a Ler
“É raro encontrar filhos de pais ilustres que reproduzam à altura os feitos no mesmo campo de atuação. Luis Fernando Verissimo é um desses poucos”, escreve o repórter especial Fabio Victor.
Verissimo, para os poucos que não o conhecem, é o cronista por trás de personagens como o Analista de Bagé e livros como “Comédias da Vida Privada”. Hoje, ele chega perto dos 90 anos enquanto seu pai, Erico Verissimo, autor do clássico “O Tempo e o Vento”, é lembrado pelos seus 120 anos de nascimento e 50 de morte.
Como escritor, o filho não só revigorou o legado do pai como o renovou. O caçula da família encontrou prestígio próprio na crônica e no humor, enquanto o pai era conhecido pelos romances épicos.
Pai e filho retrataram o Brasil, cada um à sua maneira. Enquanto o Verissimo pai criou histórias sobre a formação do Brasil moderno, o filho registrou a graça das brasilidades em que nos reconhecemos.
Na última semana, Luis Fernando foi internado na UTI de um hospital em Porto Alegre, em estado grave de saúde. O escritor sofre de Parkinson e das sequelas de um acidente vascular cerebral de 2021. Hoje se comunicando principalmente por gestos e pelo olhar, continuará reconhecido por suas palavras.
Acabou de Chegar
“Proclamem nas Montanhas” (trad. Paulo Henriques Britto, Companhia das Letras, R$ 89,90, 288 págs.) foi o romance de estreia do americano James Baldwin em 1953, mas chega ao Brasil só neste ano. O livro de um dos principais nomes da literatura do século 20 descreve uma família religiosa do Harlem que vive sob o moralismo do patriarca. “O olhar cuidadoso ao conflito moral é um dos pontos mais impressionantes do romance, já que humaniza os sujeitos racialmente depreciados na época”, escreve o crítico Ronaldo Vitor da Silva.
“O Primeiro Homem Mau” (trad. Bruna Beber, Amarcord, R$ 69,90, 266 págs.), da escritora americana Miranda July, tem como protagonista uma mulher neurótica que se enxerga pelo que imagina ser a visão dos outros sobre ela. Para a jornalista Bárbara Blum, o absurdo e a esquisitice da trama mantêm a história sempre interessante.
“Horas Azuis” (Companhia das Letras, R$ 79,90, 144 págs.) reflete pela ficção a experiência da autora Bruna Dantas Lobato, imigrante brasileira nos Estados Unidos. Em seu primeiro livro, a tradutora premiada pela versão em inglês de “A Palavra que Resta” narra grande parte da história por meio de conversas via Skype entre mãe e filha. O romance, como aponta a reportagem de Diogo Bercito, “aborda a dolorosa limitação da tecnologia para mediar as relações humanas”.
E mais
Depois do sucesso com a novela “Beleza Fatal”, Raphael Montes retorna ao streaming com a série “Dias Perfeitos”, no Globoplay. O escritor popular por seus livros de suspense recheados de violência diz ao editor Walter Porto que, ao escrever, quer instigar e fazer pensar. “Existem livros que são mero entretenimento mesmo, que você lê no avião, fecha e nunca mais pensa naquela história. Mas existe entretenimento que cutuca você em algum lugar”, diz.
Lilia Guerra, autora que fez parte da programação principal da Flip 2025, relata uma acusação de furto feita contra ela pela pousada onde ficou hospedada em Paraty. O estabelecimento pediu reembolso por um lençol e uma manta que teriam sumido do quarto dela, e a Flip entrou em contato com a escritora para perguntar sobre os itens. Guerra denunciou o caso na internet como um episódio de racismo, e a pousada pediu desculpas. Segundo a reportagem de Vitória Macedo, a organização da Flip diz que “lamenta profundamente o ocorrido e reforça sua responsabilidade e compromisso, posicionando-se de forma firme e solidária ao lado de Lilia Guerra”.
“A Loteria do Nascimento” é o título do livro e também da teoria de Michael França e Fillipi Nascimento para explicar as desigualdades que se perpetuam a cada nova geração no Brasil. A obra, como aponta o repórter Leonardo Vieceli, aborda como privilégios costumam ser vistos como conquistas individuais e como essa percepção limita oportunidades para a maioria da população. Segundo os autores, ao nascer, cada pessoa já tem determinada sua capacidade de mudar de posição socioeconômica.
Fuvest
Pela primeira vez a Fuvest, vestibular que dá acesso à USP, adota uma lista de leituras obrigatórias composta 100% por autoras mulheres, muitas delas estreantes na seleção. Tanta novidade pode assustar os estudantes, mas traz novos debates para a sala de aula.
“As Meninas” de Lygia Fagundes Telles, conta a história de três jovens moradoras de um pensionato. O pano de fundo e também ponto de partida da história é a ditadura militar, que dita muito dos comportamentos e situações vividas pelas protagonistas. Essa foi a obra com a qual Fagundes Telles, a terceira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, rompeu com seu lado contista em direção ao romance e demonstrou coragem ao tratar de assuntos proibidos.
Além dos Livros
O escritor manauara Milton Hatoum foi eleito para a antiga cadeira de Cícero Sandroni na Academia Brasileira de Letras. O mais novo imortal, autor de “Dois Irmãos” e “Cinzas do Norte” e um dos ficcionistas mais admirados do Brasil, conquistou o posto no mesmo ano em que alcançou a marca de meio milhão de exemplares vendidos. Ele se torna o único membro da região Norte da ABL e prepara um novo romance para outubro, “Dança de Enganos”.
No ano em que a autora completaria 80 anos, o legado de Angela Lago é resgatado pela editora Baião, que passará a lançará obras infantojuvenis da escritora a partir de novembro. O Painel das Letras conta também que Socorro Acioli publicará dois novos livros em 2026 e a ruandesa Scholastique Mukasonga terá seu sexto livro na Nós.
No terceiro de cinco volumes de Antonio Scurati sobre Benito Mussolini, o escritor italiano narra a aproximação entre o líder fascista e Adolf Hitler, assim como sua hesitação em entrar na Segunda Guerra. “Mussolini, de início, teve muitas dúvidas”, Scurati diz ao repórter Reinaldo José Lopes. “Mas a visão de conjunto revela que a perseguição a judeus ou a outros inimigos imaginários, a aliança com Hitler e a guerra eram a conclusão obrigatória da história e da ideologia fascistas.”