O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou o homólogo australiano, Anthony Albanese, de “trair” Israel e “abandonar” a comunidade judaica australiana, dizendo ainda que a história o “iria lembrar” por ser um “político fraco”. Foi com uma publicação nas redes sociais, na noite da última terça-feira, escrita em inglês, que Netanyahu partilhou a sua opinião sobre Albanese, num ataque pessoal e sem precedentes.

A tensão entre os dois países escalou na segunda-feira, depois de o ministro do Interior, Tony Burke, ter rejeitado um pedido de visto de um dos membros da coligação de Netanyahu, de extrema-direita.


Simcha Rothman preparava-se para visitar a Austrália, para participar em eventos organizados pela Associação de Judeus Australianos. A decisão de lhe negar o visto foi justificada por Burke com o facto de o Governo australiano não querer “alimentar a divisão”: “Se vem à Austrália espalhar uma mensagem de ódio e divisão, não o queremos cá”, citando como exemplos os comentários onde Rothman dizia que as crianças a morrer à fome em Gaza eram os inimigos de Israel.

Apesar da decisão, Rothman participou na mesma nos eventos, mas à distância. E, como resposta, Israel revogou os vistos dos representantes australianos na Autoridade Palestiniana. O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Sa’ar, também pediu à embaixada em Camberra que examinasse “cuidadosamente qualquer pedido de visto de responsáveis australianos que queiram entrar em Israel”. “Enquanto o anti-semitismo cresce na Austrália, com manifestações de violência contra judeus e instituições judaicas, o Governo australiano está a escolher alimentá-lo”, escreveu no X.

“A força não se mede por quantas pessoas pode matar”

A tensão entre Israel e Austrália já dura desde o início de Agosto, quando o primeiro-ministro australiano tornou pública a sua intenção de alinhar com França, Reino Unido e Canadá no reconhecimento do Estado palestiniano, em Setembro. Como justificação, Albanese disse que Netanyahu estava “em negação” sobre as consequências da guerra.

Esta quarta-feira, soube-se também que Netanyahu enviou duas cartas semelhantes a Albanese e ao Presidente francês, Emmanuel Macron, onde criticava as respectivas lideranças e as acusava de alimentar o anti-semitismo. De França, a carta foi classificada como “abjecta e errónea”, mas a resposta seguirá por carta, “de acordo com o protocolo vigente”, disse o Eliseu à Agência France Press.

Já depois dos comentários públicos de Netanyahu sobre Albanese, Tony Burke criticou-o, dizendo que se estava a “vingar” de Camberra pelo reconhecimento do Estado palestiniano. “A força não se mede por quantas pessoas pode matar ou deixar com fome”, disse Burke à ABC australiana.

“A força é medida de forma muito melhor pelo que o primeiro-ministro Anthony Albanese fez: quando há uma decisão que sabemos que Israel não vai gostar, foi desde logo ter com Benjamin Netanyahu. Tem uma conversa, diz exactamente o que pretende fazer e abre um espaço para objecções feitas pessoalmente.”

Já Albanese optou por uma resposta comedida. Diz que não leva “estas coisas a peito” e que trata “os líderes de outros países com respeito” e “de forma diplomática”. “O meu trabalho é representar o interesse nacional australiano”, resume, citando os que querem que “se deixe de matar, quer sejam israelitas ou palestinianos”.

A resposta ácida de Netanyahu valeu-lhe várias críticas internas. Yair Lapid, líder da oposição, disse que foi um “presente” para o primeiro-ministro australiano, porque “o que mais fortalece um líder no mundo democrático actual é um confronto com Netanyahu, o líder politicamente mais tóxico do mundo ocidental”.

Já o Conselho Executivo da Associação de Judeus australiana aponta dedos aos dois lados. Desiludido com a troca de palavras entre os representantes das duas nações, o presidente da associação, Daniel Aghion, disse que Netanyahu mostrou uma “lamentável falta de compreensão das condições sociais e políticas da Austrália” ao dizer que Albanese era um político fraco. Mas também que o primeiro-ministro australiano não foi “adequado” quando disse que o homologo israelita estava em negação e que Burke foi “irresponsável” nos seus comentários.