A possibilidade de libertação dos reféns detidos pelo Hamas em duas fases, num hipotético acordo de cessar-fogo de 60 dias, está a ser rejeitada por Israel, que quer que os 20 reféns que se pensa ainda estarem vivos sejam libertados de uma só vez, em simultâneo com a devolução dos corpos dos 30 que foram mortos.
“Estamos na fase final decisiva contra o Hamas e não deixaremos nenhum refém para trás”, disse ao Jerusalem Post uma fonte diplomática.
Na segunda-feira, foi confirmado que o Hamas aceitou a proposta de cessar-fogo apresentada pelos mediadores Qatar e Egipto, cujos termos incluíam uma trégua de 60 dias, com a troca de reféns por prisioneiros palestinianos e negociações para o fim das hostilidades.
Também o Ynetnews, o portal de notícias do jornal Yedioth Ahronoth, cita uma fonte política que diz que nada mudou, apesar da disponibilidade do Hamas para negociar.
“A política israelita é consistente e não mudou. Israel exige a libertação dos 50 reféns, em linha com os princípios estabelecidos pelo Conselho de Ministros para acabar com a guerra”, disse esta fonte.
Entre as exigências de Israel para pôr fim à guerra, estava a rendição total do Hamas, a entrega do controlo de Gaza e a introdução de uma entidade administrativa no enclave que não incluísse membros nem do grupo armado nem da Autoridade Palestiniana.
Nesta terça-feira, a Al-Jazeera cita um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) do Qatar, Majed al Ansari, que garantiu que a proposta aceite pelo Hamas tinha sido previamente acordada com Israel.
O Hamas “deu uma resposta muito positiva e na realidade foi quase idêntica àquilo com que Israel tinha acordado anteriormente”, afirmou Al Ansari, em conferência de imprensa.
O porta-voz do MNE do Qatar diz que é preciso aguardar pela decisão israelita, mas frisou que o momento actual “é decisivo em termos humanitários” e que o seu fracasso pode resultar “numa catástrofe humanitária ainda mais grave” em Gaza.
Também citado pela Europa Press, Majed al Ansari explicou que o Qatar gostaria de ver uma resposta “rápida e positiva”: “É o melhor que se pode oferecer neste momento e a melhor opção possível para impedir o derramamento de sangue do povo palestiniano diante da escalada israelita [na Cidade de Gaza, que já está a causar milhares de deslocados]”, sublinhou.
Segundo o Guardian, o Governo de Israel vai dar a resposta aos mediadores internacionais até sexta-feira.
“Hamas sob pressão”
Na segunda-feira, depois de ter sido noticiado que o Hamas havia aceitado a mais recente proposta dos mediadores regionais no Cairo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, divulgou um vídeo em que afirmou que “o Hamas está sob pressão atómica” nestas negociações.
As declarações do líder israelita (que tem sido visado por gigantescas manifestações em Telavive a exigirem o fim da guerra) seguiram-se a uma publicação de Donald Trump na sua plataforma Truth Social a apontar para a necessidade de destruir o Hamas.
“Só veremos o regresso dos restantes reféns quando o Hamas for confrontado e destruído!!! Quanto mais cedo isso acontecer, maiores serão as hipóteses de sucesso”, escreveu o Presidente dos Estados Unidos.
Segundo resume o Ynetnews, de acordo com o que foi sendo noticiado pelos meios regionais, a proposta a que o Hamas deu aval na segunda-feira (e que é idêntica àquela que foi posta na mesa pelo enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff) inclui uma retirada das forças israelitas de cerca de mil metros no Norte e Leste de Gaza, excluindo Shejaiya (nos arredores da Cidade de Gaza) e Beit Lahia (mais próxima da fronteira a norte com Israel) e a troca de dez reféns vivos e 18 restos mortais, por 200 prisioneiros palestinianos (incluindo mulheres e menores).
Também contempla a entrada de ajuda humanitária imediata no enclave, incluindo combustível, água, electricidade, material para reabilitação de hospitais e padarias e equipamento para remoção de escombros.
O acordo envolverá ainda, alegadamente, o possível exílio no estrangeiro de altos líderes do Hamas, incluindo Izz al-Din al-Haddad (cujo nome de guerra é Abu Suhaib), o líder do grupo em Gaza, bem como a criação de um comité para gerir o território e a supervisão israelita do armazenamento e gestão de armas, acrescenta o portal de notícias.