O documentário Quando a gente menina cresce, da TV OVO, fez sua estreia na terça-feira (19) durante a mostra competitiva de longas-metragens gaúchos no 53º Festival de Cinema de Gramado. O filme foi exibido na sala de cinema do Palácio dos Festivais com uma plateia repleta de estudantes, professores, pais e outros profissionais da Escola Municipal de Ensino Fundamental Sérgio Lopes, de Santa Maria, onde o filme da diretora Neli Mombelli foi gravado. É a primeira vez que um longa-metragem de Santa Maria compete no festival, que é um dos maiores do país.
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Alana Matias Quevedo, Ana Julia Freitas Bortolotto, Emilly Louizzi Quevedo de Britto, Isadora de Freitas Nunes, Taiane Noronha da Rosa e Thaila Matias Quevedo, as seis meninas que são protagonistas do filme assistiram pela primeira vez a produção. Depois da exibição, elas e outros colegas da escola participaram, junto com a equipe da TV OVO, de um debate organizado pelo festival. Elas contaram sobre a experiência de participar de um filme e sobre as dinâmicas e oficinas de audiovisual e dança das quais participaram ao longo do ano escolar de 2023, quando o filme foi rodado.
– Estar aqui em Gramado é como realizar um sonho. Antes do filme, eu nunca imaginava um dia ver algo comigo no cinema. Foi muito emocionante quando olhamos para a tela e estávamos lá, com muitas histórias que contamos. A forma como eles fizeram, nos deixando livres para sermos nós mesmas nos surpreendeu – comentou Thaila.
Para Emilly, a participação no filme trouxe também o sonho de uma profissão.
– Depois de tudo que aprendi, quero ser fotógrafa, quem sabe um dia fazer a fotografia do meu próprio filme ou do de alguém – planeja.
Veja o vídeo:
A história
“Quando a gente menina cresce” é um filme sobre o adolescer, mostra os tabus diante da primeira menstruação, mas também levanta o dilema da pobreza menstrual. Segundo dados da Unicef, 28% das pessoas que menstruam no Brasil são afetadas pela pobreza menstrual. E não só a falta de recursos para a compra de absorventes, pois estima-se que no Brasil 1,24 milhão de estudantes não tenham a sua disposição sequer papel higiênico nos banheiros das escolas. Além disso, cerca de 652 mil estudantes que menstruam não têm acesso a pias ou lavatórios nas escolas.
A diretora contou no festival que a inspiração para o longa veio justamente de conversas familiares sobre tabus relacionados ao tema e de como uma discussão sobre ele é necessária.
– O filme é uma grande construção coletiva e isso nos orgulha muito – afirmou Neli.
O documentário traz a visão da diretora sobre o tema da menarca, a primeira menstruação, mas a narrativa é construída a partir do ponto de vista das meninas, ora doce, ora curioso, ora repleto de tabus, ora ingênuo, ora cheio de sonhos, esse olhar ajuda a conhecer esse universo delas e os dilemas que vivem nessa fase da vida.
Acompanhamento do ano escolar
O documentário acompanha a transição vivida por seis meninas entre 9 e 12 anos, durante o ano escolar. Localizada na periferia de Santa Maria, a escola busca por meio de uma série de projetos sociais incluir, informar e preparar seus alunos para muito além das paredes da sala de aula. Tanto, que conta com atividades como horta comunitária e uma sala batizada de Malala, em homenagem a Malala Yousafzai, ativista paquistanesa que luta pelos direitos das mulheres e crianças, conhecida, principalmente, pelo seu trabalho em defesa da educação.
– Para nós, é um motivo de muito orgulho ver essas meninas que acompanhamos desde tão pequenas em Gramado. Sempre sonhamos com um futuro melhor para elas e para todos que passam pela nossa escola, então, nos últimos dias, tem sido difícil segurar a emoção. Estar em Gramado com elas é muito emocionante, é uma realização pessoal e profissional que não temos nem como dimensionar – afirma a diretora da escola, Andreia Schorn.
Entre os pais que madrugaram para acompanhar os filhos até Gramado estava a comerciante Gisele Rodrigues de Freitas, mãe de Isadora.
– Para mim, foi muito emocionante. A minha filha me trouxe para Gramado. É algo que nunca iremos esquecer e também que é importante para que mais pessoas tenham conhecimento sobre a menstruação, algo que boa parte das mulheres da minha geração não teve – afirmou Gisele.
A cerimônia de premiação do festival, quando serão conhecidos os vencedores de cada categoria será na próxima sexta-feira, dia 22.