Pink Badger / stock.adobe.comCostumo ler duas obras por semana. O que rende cerca de 100 livros por ano.Pink Badger / stock.adobe.com

Não importa o que aconteça em minha rotina: eu leio trinta páginas de um livro por dia.

É um hábito inegociável, elevado ao patamar inadiável de uma refeição. Assim como não vou deixar de almoçar, não deixarei de ler.

Tanto faz se estou triste ou alegre, desanimado ou motivado, abatido ou confiante: eu leio.

Às vezes, avanço mais do que a minha cota mínima, mas jamais folheio menos do que ela.

Qualquer um pode começar com algumas páginas fixas. Sem perceber, expandirá a curiosidade e prosperará nos diálogos e no trabalho. A solidão das letras traz sempre visibilidade social. Quem lê em segredo se acostuma a falar bonito.

É meu crossfit mental, minha academia de pensamentos contra o Alzheimer digital.

A partir dessa disciplina, devoro duas obras por semana. O que rende cerca de 100 livros por ano.

Não estou me vangloriando. Literatura, para mim, é necessidade. É como respirar. Estaria adoecido, engolfado em ansiedade, se não lesse. Exercito a fantasia quando a realidade é adversa. A solução está em sair do óbvio rente aos olhos e se aprofundar na imaginação.

Posso me envaidecer, aí sim, pelo fato de Porto Alegre ser a capital brasileira em que a população tem mais acesso a livros e feiras literárias, conforme a pesquisa Cultura nas Capitais. Não me sinto só, eu me vejo rodeado de cúmplices e de compulsivos.

De acordo com o censo, 72% dos porto-alegrenses consumiram um livro nos últimos 12 meses, enquanto a média nacional é de 62%. Além disso, 39% foram a alguma feira literária recentemente — a média nas demais cidades analisadas é de 21%.

Logo teremos a 71ª Feira do Livro, de 31 de outubro a 16 de novembro, na Praça da Alfândega, com a patrona mais do que especial: Martha Medeiros completando 40 anos de literatura. Quem sabe não atraímos aqueles 17% de pessoas que nunca pisaram num evento livreiro?

Preservamos a tradição das grandes livrarias, desde a do Globo na Andradas, no início do século passado. Experimentamos o auge da Livraria Cultura e da Saraiva com megastores, até a falência das duas empresas em 2023.

Livraria, na acepção borgeana, é filial do paraíso. Eu dedicava o meu domingo a passear pela Cultura do Bourbon Shopping. Minha esposa nem precisava me telefonar para descobrir onde eu estava. Passava quatro horas revirando as estantes e tomando café. Durante décadas, foi meu refúgio, meu esconderijo, minha biblioteca de novidades, com poltronas confortáveis para deitar e me manter informado.

Agora, contaremos com uma loja que promete ser a próxima nau dos insensatos e apaixonados pela leitura: Livraria da Travessa no Iguatemi, tentáculo local da quinquagenária rede do Rio de Janeiro. A inauguração será no dia 12 de setembro, ampliando nosso repertório de opções e preenchendo lacunas.

Nutro ardente expectativa. Não duvido que venha a ser o ponto de encontro para visitação familiar como já foi a Cultura, com uma área de 600 metros quadrados e paredes forradas com 45 mil exemplares. Que arrume pufes, sofás, espreguiçadeiras para matar o tempo e a saudade. Não quero ficar de pé: minha ambição é morar lá dentro.