“Eddington”

Em 2020, em Eddington, uma vilazinha do Novo México, no início da pandemia de COVID-19, o xerife local (Joaquin Phoenix) opõe-se às medidas de prevenção e confinamento, agravando ainda mais o conflito pessoal que tem com o Presidente da Câmara (Pedro Pascal), que defende também um controverso projecto de instalação de uma empresa tecnológica na zona, e acaba por entrar na corrida eleitoral contra ele. E quando alguns dos jovens habitantes, incluindo o filho do autarca, este para provocar o xerife, começam a imitar, ridiculamente, os protestos nas grandes cidades que vêem na televisão, sobretudo do movimento Black Lives Matter (BLM), a confusão total instala-se. O realizador Ari Aster filma Eddington como um microcosmos dos EUA em conflito interno e convulsão social, política e cultural no começo da pandemia e no final do primeiro mandato de Trump, e tem a honestidade e a coragem de furar o monolitismo ideológico de Hollywood, expondo e satirizando os absurdos e os excessos da direita conspiracionista, consumidora de fake news e anti-vacinas, mas também os da esquerda histérica pró-confinamento, apoiante do BLM e das suas violências e desmandos, auto-flageladora e cegamente anti-Trump. A partir de certa altura, Eddington é como que contaminado pela atmosfera de caos e alienação do bom senso que descreve e deplora, e que se apodera de toda a comunidade e das personagens principais (em especial a de Phoenix), mas nem por isso perde força e relevância. E no final, quem ganha são os facilitadores que zelam apenas pelos seus interesses, e a big tech.

“Férias de Agosto”

O italiano Paolo Virzì (Capital Humano, Noites Mágicas) assina aqui a continuação do seu filme de 1996, Ferie d’Agosto. Quase 30 anos mais tarde, parte das personagens deste regressam à ilha de Ventotene, no mar Tirreno, para passarem férias, e temendo pela saúde de Sandro (Silvio Orlando), o agora frágil patriarca da família Molino. E voltam a interagir e a entrar em choque com outro grupo de veraneantes que são seus inferiores sociais e têm interesses culturais e ideias políticas diferentes, desta vez formado pelos parentes, amigos e fãs de uma jovem e popularíssima influencer das redes sociais, que vai ali casar-se. Filme de formato “coral” como o original, mas inferior a este, Férias de Agosto é esquemático, muito previsível, sentencioso até ao enjoo (não falta o discurso “antifascista” com ranço) e cheio de personagens pobremente caricaturais.É mais uma prova de que a comédia dramática italiana está muito, muito longe dos seus anos de ouro e não volta mais a esses tempos de esplendor. Além de Silvio Orlando, o elenco inclui vários nomes mais do que estimáveis, como Christian De Sica, Angela Molina ou Sabrina Ferilli, todos subaproveitados ou com personagens menorizadas pelo argumento. A repetição das receitas de sucesso pode também ser fatal para o cinema europeu, e não apenas para o dos EUA.

“Drácula: Uma História de Amor”

Realizado por Luc Besson, Drácula: Uma História de Amor, está, em vários aspectos, muito distante das fitas com Bela Lugosi e das produções clássicas da Hammer com Christopher Lee, e mais próximo da versão de Francis Ford Coppola com Gary Oldman, Drácula de Bram Stoker (1992), que o realizador refere directamente, nas atmosferas do castelo do conde e em especial na caracterização de Caleb Landry Jones, que interpreta o vampiro. Também ele um príncipe valáquio amaldiçoado para a eternidade por ter blasfemado contra Deus (e assassinado um bispo), e tal como o Drácula de Oldman, um monstro romântico e apaixonado, que sofre há séculos com a morte da mulher, Elisabeta, e a reencontra 400 anos mais tarde, reencarnada em Mina Harker (Zoë Bleu num duplo papel). A acção passa de Londres para a Paris de finais do século XIX, após a tradicional abertura nos Cárpatos, e o enredo tem muitas novidades. Drácula: Uma História de Amor foi escolhido como filme da semana pelo Observador.